Resultados do 3T23 de grandes bancos: O ponto de inflexão da inadimplência?
Após um período desafiador para o setor bancário, decorrentes de um ciclo de crédito marcado pelo aumento da taxa Selic e pelo elevado endividamento de empresas e famílias, o mercado estava à espera de que o terceiro trimestre apresentasse sinais de melhora nos resultados dos bancos ou de um possível ponto de inflexão nas taxas de inadimplência.
O início do ciclo de redução da Selic, iniciado em agosto, juntamente com uma abordagem mais conservadora dos bancos na originação de crédito, contribuíam para essa visão mais benigna para o terceiro trimestre.
Em meio ao cenário exposto, analisaremos ao longo deste relatório os principais pontos dos resultados do terceiro trimestre, com o objetivo de identificar possíveis sinais de melhora nos resultados do setor. Além disso, investigaremos se, entre os bancos incumbentes, Itaú e Banco do Brasil continuam apresentando resultados mais sólidos, enquanto Bradesco e Santander enfrentam desafios relacionados aos níveis de inadimplência mais elevados.
Crescimento ainda tímido
Ao analisar a margem financeira bruta, destaca-se no trimestre a continuidade do desempenho positivo do Itaú e do Banco do Brasil, que registraram os maiores crescimentos tanto em comparação anual quanto trimestral. A melhoria nos resultados desses bancos foi impulsionada principalmente pelo crescimento da carteira de crédito, mesmo em um contexto de conservadorismo na concessão de crédito, o que impacta negativamente os spreads.
No caso do Banco Itaú, é relevante mencionar que o crescimento foi alcançado mesmo com uma redução na margem com o mercado, resultado de menores ganhos na mesa de operações no Brasil e da redução na margem devido à desconsolidação do Banco Itaú Argentina.
Quanto ao Bradesco e ao Santander, a estratégia mais seletiva na oferta de crédito, com foco em linhas de menor risco e colateralizadas, influenciou negativamente o spread da margem financeira. Na comparação anual, o crescimento da carteira de crédito do Santander compensou parcialmente as perdas nos spreads.
Vale ressaltar de positivo para ambos, a melhoria na margem com o mercado, que vem apresentando um melhor desempenho nos últimos trimestres e tende a continuar esse movimento devido à correlação negativa com a taxa de juros.
Ao examinar mais detalhadamente o crescimento da carteira de crédito dos principais bancos do país, observa-se claramente uma abordagem mais conservadora na originação de crédito. Os bancos buscaram reduzir a representatividade do cartão de crédito na carteira, concentrando-se em produtos menos arriscados e colateralizados no segmento de Pessoa Física (PF), como crédito consignado e imobiliário. No segmento de Pessoa Jurídica (PJ), houve uma diminuição no crédito para capital de giro, influenciada principalmente pelo evento envolvendo a Americanas.
Os três bancos privados também concentraram esforços no crescimento do crédito rural, no entanto, o Banco do Brasil continua sendo o líder nesse segmento. O crédito rural foi o principal responsável pelo crescimento da carteira do banco e, em razão do Plano Safra, deve continuar impulsionando o crescimento da carteira de crédito do Banco do Brasil nos próximos trimestres.
Em um trimestre em que a receita com juros foi impactada pelo cenário macroeconômico, a receita com serviços registrou um crescimento mais consistente. Destaca-se positivamente, na comparação trimestral, o desempenho do Santander, que se beneficiou de maiores receitas provenientes de seguros, operações de crédito e cartões. No acumulado do ano, o Itaú foi o destaque positivo, impulsionado pelo crescimento dos prêmios dos seguros e pelos maiores ganhos com emissão e adquirência em cartões.
Melhora na inadimplência
Assim como nos últimos trimestres, a inadimplência era um dos principais pontos a serem acompanhados pelos investidores. Com o processo de de-risking dos bancos, esperava-se que, em algum momento, o conservadorismo na originação de crédito se refletisse nos níveis de inadimplência.
Ao analisar os dados do Sistema Financeiro Nacional (SFN), confirma-se a tendência de queda da inadimplência no terceiro trimestre. Esse movimento pôde ser confirmado também nos resultados dos grandes bancos locais, apesar dos eventos não recorrentes relacionados ao RJ das Americanas.
O destaque positivo no tema inadimplência ficou para Itaú e Santander. O primeiro seguiu mostrando consistência no controle de risco da carteira, com estabilidade em todos os segmentos de atuação, exceto o de MPEs, que teve um acréscimo trimestral de 0,1 ponto percentual na inadimplência.
Do lado do Santander, o banco apresentou queda em todos os segmentos, mostrando que a maior representatividade das safras de créditos mais recentes e de menor risco vem surtindo efeito. Em seu call de resultado, o Santander inclusive se mostrou mais otimista em relação à possibilidade de uma possível aceleração do crescimento da carteira.
Se desconsideramos os eventos não recorrentes no segundo e terceiro trimestre, o Banco do Brasil teria mantido sua inadimplência estável em 2,6%, enquanto o Bradesco teria reduzido de 5,7% para 5,6%, uma queda pequena dado o nível de inadimplência do banco acima da média do SFN. Como fator de atenção, fica o crescimento trimestral da inadimplência no segmento de MPEs no Bradesco, enquanto no Banco do Brasil houve aumento no segmento de PJ e Agro.
Olhando o patamar de provisões para devedores duvidosos (PDD) sobre o total da carteira de crédito, vemos queda em todos os bancos, exceto no Banco do Brasil. O banco estatal acabou sendo mais impactado pelo provisionamento relacionado à Americanas.
Um resultado final misto
Itaú e Banco do Brasil ainda seguem entregando os melhores resultados entre os bancos incumbentes. Os dois colhem os frutos de uma gestão de risco da carteira de crédito consistente, o que possibilitou um crescimento do crédito sem uma maior deterioração da inadimplência. Apesar do impacto no lucro do Banco do Brasil na comparação trimestral, a inadimplência ainda se encontra em um patamar confortável, e o plano safra segue sendo um ponto positivo para o crescimento da carteira do banco.
Quanto aos bancos que mais vinham sofrendo com a inadimplência, vemos uma melhora neste trimestre com a redução das provisões. O destaque neste sentido foi o Santander que, apesar da queda na receita com juros, apresentou no trimestre um crescimento do lucro relevante por conta da diminuição das provisões.
O crescimento do lucro também se refletiu na rentabilidade do banco, que esboçou um movimento de recuperação. Quanto ao Bradesco, o menor spread e a dificuldade de crescer a carteira de crédito acabaram pesando e reduzindo os ganhos com a diminuição das provisões.
Para o próximo trimestre, é esperado que o movimento de redução dos níveis de inadimplência e de provisões persista, auxiliado principalmente pelo ciclo de redução dos juros. Esse fator pode levar os bancos a apresentarem, aos poucos, um maior apetite para acelerar o crescimento da carteira de crédito.
Dentro desse contexto, Itaú e Banco do Brasil, dadas suas condições favoráveis em termos de inadimplência e rentabilidade, estão em uma posição mais confortável para iniciar um novo ciclo de crédito. Com as melhorias apresentadas no trimestre, o Banco Santander vem em seguida, podendo acelerar a originação de crédito à medida que o risco da carteira for melhorando. Sendo assim, o Bradesco, que ainda precisa apresentar melhorias no risco da carteira, deve acabar saindo por último em um novo ciclo de crédito.
Atualmente, dois dos grandes bancos locais fazem parte das carteiras recomendadas pelo PagBank. Na carteira SuperPag, temos o Itaú, enquanto o Banco do Brasil está presente na carteira Rendeira. Quer acessar as carteiras recomendadas pelo app do PagBank? Clique aqui.
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