Como analisar empresas para investir na Bolsa? Não se deve ver só o lucro
No último dia 21 de julho, começou mais uma temporada de divulgação de balanços trimestrais das empresas brasileiras com ações negociadas na Bolsa. Até o próximo dia 16 de agosto, as companhias vão informar ao mercado os resultados obtidos nos meses de março, abril e junho. É a oportunidade que o investidor tem para checar como está indo o negócio em que ele colocou dinheiro ou encontrar novas aplicações.
Profissionais de mercado afirmam que cada empresa e cada setor de atividade econômica apresentam características próprias que devem ser levadas em conta na hora de analisar o balanço de uma empresa. Mas esses mesmos especialistas destacam que há orientações gerais que servem de maneira ampla para todo tipo de investidor na hora de pegar informações sobre as companhias negociadas em Bolsa. Veja abaixo o que você precisa ver nos balanços para investir melhor -e não é só o lucro.
Expectativa predominante para resultados do 2º trimestre
O balanço é a concretização de algo que já foi de alguma forma antecipado pelo mercado, seja pelas próprias empresas ou pelos analistas das ações. Assim, os balanços servem para indicar se as empresas estão entregando o que prometeram. Os resultados mostram em que momento as empresas estão vivendo, se em fase de crescimento, se em fase de transformação ou se num momento de estabilidade.
Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos
Profissionais de mercado apontam que, na média, as empresas brasileiras negociadas em Bolsa apresentarão indicadores positivos em relação ao desempenho no segundo trimestre —sempre destacando que a análise varia de empresa para empresa e de setor para setor. Mas, no geral, haverá mais balanços bons que ruins quando essa temporada de divulgação estiver concluída. Isso, por três motivos principais:
- Retomada da economia: os negócios estão retornando à normalidade, com abertura de mais atividades econômicas, maior circulação dos consumidores e ritmo do avanço da vacinação.
- Base de comparação: os balanços das empresas vão comparar vendas, lucros, etc com dados de 12 meses antes. E como o segundo trimestre de 2020 foi justamente o momento em que os negócios sofreram o maior impacto da pandemia, essa comparação agora vai resultar em crescimento mais forte.
- Empresas mais preparadas: muitas empresas listadas na Bolsa são geralmente líderes em seus respectivos setores. E esses grupos, já fortes, veem tomando medidas de ajustes, como corte de custos e aumento de investimentos em soluções digitais, por exemplo, desde o início da pandemia. Essas medidas estão dando resultados crescentes, dizem analistas.
De forma geral, os números dos balanços do segundo trimestre deste ano devem ser fortes. A gente está saindo de um período de crise, e a economia está se recuperando. A base de comparação também ajuda porque as empresas foram penalizadas pela crise principalmente no auge da pandemia, que foi justamente no segundo trimestre de 2020.
Jeanne Li, estrategista de ações da XP Investimentos
O que olhar nos balanços?
Os analistas que acompanham as empresas com ações em Bolsa repetem que cada setor de negócio apresenta indicadores de desempenhos próprios por causa da natureza de cada área. No setor da aviação, por exemplo, existem indicadores de taxa de ocupação de assentos em voos; no setor da saúde existem indicadores de sinistralidade; o setor de comércio eletrônico, por sua vez, tem indicadores de transações realizadas.
Mas de maneira geral, todas as empresas de todos os setores apresentam alguns indicadores comuns e que são os mais importantes para o investidor. Na divulgação dos balanços referentes ao segundo trimestre de 2021, vale o aplicador olhar para essas informações, dizem analistas.
- Lucro: é o quanto sobra para o investidor depois que a empresa pagou as contas e as dívidas. O lucro bruto mostra quanto a empresa ganhou apenas com o negócio principal dela. Já o lucro líquido mostra o quanto sobrou depois de pagas as despesas com dívidas e impostos.
A expectativa geral é de crescimento do lucro em relação ao segundo trimestre de 2020, porque ano passado o impacto da pandemia nos negócios foi maior forte que no mesmo período de 2021.
- Receitas: esse indicador mostra como a empresa está indo em termos de operação no seu negócio principal. Se aquele modelo de negócio está dando certo ou não depende das vendas de produtos ou de serviços. Uma empresa até pode ter lucro sem aumentar receitas --vendendo ativos ou propriedades, por exemplo. Mas no longo prazo, a companhia precisa ter mais receita para lucrar mais.
A reabertura da economia tem favorecido o crescimento de vendas de vários setores, em especial na área de serviços —que foi a mais abalada na pandemia.
- Despesas: os indicadores de despesas mostram quanto a empresa está precisando gastar para fazer seu negócio girar. Se as despesas começam a subir numa velocidade superior ao ritmo do avanço das receitas, por exemplo, isso vai afetar o lucro final.
Segundo analistas, as empresas têm buscado reduzir despesas para manter o lucro mesmo em um ambiente de vendas afetadas pela pandemia. O investidor precisa checar se isso vale para a companha na qual ele apostou.
- Lucro por ação: esse indicador pode ajudar o investidor a checar se uma ação está cara ou barata, comparando por exemplo, a outras empresas do mesmo setor.
Se uma ação de uma companhia estiver sendo negociada por R$ 25, por exemplo, e o lucro por ação para o período mais recente de 12 meses foi de R$ 5, então existe um índice chamado preço/lucro que será R$ 5. Isto significa que o aplicador vai precisar de cinco anos para pagar o capital de R$ 25 investido na compra do papel.
- Endividamento: o tamanho da dívida mostra o quanto a empresa precisa gastar além das despesas operacionais necessárias para rodar a operação. Importante comparar o endividamento total com relação às receitas que a empresa tem e também prestar atenção ao prazo de vencimento de cada dívida.
Segundo analistas, com o aumento das vendas no segundo trimestre, a relação entre endividamento e receitas tende a cair, ou seja, as empresas estão com melhores indicadores de dívida, em termos gerais. Então, vale o investidor checar se esse indicador melhorou para a companhia em que apostou.
No fim das contas, a geração de resultados é o que move o mercado. E o resultado é o lucro. Há exceções, como nos setores de tecnologia ou de companhias em fase de crescimento, que estão em ciclo de investimentos e podem passar por uma fase de lucro baixo. Mas no longo prazo, o desempenho de uma ação depende principalmente do lucro dessa empresa.
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual Digital
Como comparar balanços do 2º trimestre de 2021?
O balanço trimestral de uma empresa não deve ser analisado de forma isolada, destacam profissionais de mercado. É preciso considerar várias comparações. Veja algumas orientações que o investidor pode seguir ao olhar o balanço da empresa em que investe ou que pretende investir, segundo especialistas.
- Histórico: antes de comemorar um forte crescimento de lucro ou se desesperar com uma brusca queda de vendas em um trimestre, o investidor precisa comparar esses números com o histórico da empresa. Esse cuidado vai ser ainda mais importante para o segundo trimestre, exatamente por causa da pandemia, que distorceu o desempenho de muitos negócios ao longo dos últimos 18 meses.
- Concorrentes: outra forma de avaliar se o balanço da empresa é bom ou ruim é comparar os resultados da companhia com o de outras empresas do mesmo setor. Se uma companhia aérea apresentar prejuízo, isso deve ser relevado porque todo o setor está indo mal nessa pandemia.
- Promessa da empresa: muitas empresas assumem metas que pretendem alcançar em determinado período: em um ano, ou mais. Os números apresentados no balanço devem então ser comparados ao que foi prometido pela direção da companhia.
Usar balanços da empresa para investir ou não funciona como parte de um processo de médio e longo prazo. É sempre importante entender o motivo por trás de um certo número. Os números do balanço trimestral são como um exame de sangue rotineiro, para checar se a companhia está com a saúde indo bem, ou se há algo indo mal.
Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama
Segundo o analista, se uma empresa apresenta queda de desempenho em um trimestre não significa que o investidor deve se preocupar. Ele precisa entender se é algo pontual.
Mas se uma queda de desempenho em um indicador vem se repetindo por três ou quatro trimestres, essa tendência merece uma investigação maior por parte do aplicador para decidir se segue ou não com aquela ação.
Phil Soares
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