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Eleições presidenciais: por que o mercado parece não reagir à campanha?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/09/2022 12h16

O mercado costuma reagir de forma dramática ao período de eleições presidenciais - tanto para cima quanto para baixo. Afinal, falas e projetos dos candidatos à presidência podem afetar o futuro da economia e a trajetória de certas empresas, o que impacta na Bolsa. Mas, este ano, o mercado está parado.

"Era muita emoção. Agora tá muito calmo, a gente até estranha", diz Wagner Varejão especialista da Valor Investimentos, de Vitória (ES).

O que está acontecendo com o mercado?

Como foi nos anos anteriores? Historicamente, a Bolsa de Valores reage oscilando muito, para cima e para baixo, durante períodos de eleição presidencial. Foi assim em 2002 quando Luís Inácio Lula da Silva foi eleito. Em 2006 na reeleição, em 2010 com a vitória de Dilma Rousseff, em quando ela venceu Aécio Neves e em 2018, com Jair Bolsonaro eleito. Mas este ano está muito diferente.

Só para relembrar, em 2014, o Ibovespa subiu quase 5% após resultado do primeiro turno, que levou ao segundo turno Dilma e Aécio. Em 10 de outubro de 2018, com a disputa no segundo turno, as ações da Eletrobras (ELET3 e ELET6) chegaram a cair 14% durante o pregão daquele dia depois que Bolsonaro, então candidato pelo PSL, afirmou em entrevista à TV Band que tinha resistências em relação à privatização na empresa.

O que impacta na Bolsa brasileira? Desta vez, segundo os especialistas em mercado financeiro, o cenário mundial está pesando mais sobre a Bolsa de Valores. Com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia e as maiores economias do mundo elevando os juros para combater a inflação pós-pandemia, os investidores de todo o mundo estão procurando aplicações mais seguras - e saindo da Bolsa.

Juntando a esse cenário um momento de eleições, como acontece no Brasil, o resultado é uma percepção de risco muito alta. E isso afasta principalmente o investimento estrangeiro. Com menos dinheiro circulando na Bolsa, ela varia com menor intensidade.

Este ano, até agora, o investidor estrangeiro institucional já retirou R$ 94,5 bilhões do mercado de ações, segundo a B3. "Essa fuga também acontece também com a bolsa americana", diz Varejão. "A Bolsa brasileira segue muito o que acontece nos Estados Unidos", afirma ele.

Candidatos assustam o mercado? Além disso, o fato de os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas já serem conhecidos tranquiliza de certo modo o mercado, segundo Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, de Goiânia (GO). Tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) já ocuparam o posto.

Ele também concorda que essa calmaria do mercado é atípica. "Nas últimas cinco eleições, o mercado acompanhava realmente muito o que os candidatos diziam e o resultado das urnas. Desta vez, está tudo meio descolado", afirma ele.

Como o mercado está vendo a campanha? O que os candidatos vêm falando na campanha não tem importado muito para o mercado. "Entendemos que é coisa de campanha. O que vai importar mais é quando começarem as definições sobre a equipe econômica", diz Izac.

Até agora, nenhum dos candidatos deu maiores pistas de quem vão chamar para ocupar os cargos no Ministério da Economia, da Infraestrutura, secretaria da Fazenda, presidência do Banco central, entre outros.

"Nessa hora, o mercado deve reagir com mais força", acredita Izac. É por meio da definição da equipe econômica que o mercado, segundo os analistas, vai ter mais noção de que linha o presidente eleito deve seguir: se haverá mais gastos do governo ou mais austeridade.

Isso importa para o mercado porque quanto maior a dívida da União, mais o real perde valor e o dólar sobe. E isso prejudica o mercado de ações.

É hora de investir? Compro ou vendo ações? Os especialistas afirmam que é hora de olhar no longo prazo. Como a Bolsa está barata, e há muitas ações com um valor baixo em relação ao lucro ou ao patrimônio das empresas, os especialistas enxergam que há diversas oportunidades para investir. A dica é olhar para o longo prazo - além das eleições deste ano.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.