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Ações de dona das Casas Bahia caem forte após corte da Selic; o que houve?

O corte na taxa básica de juros anunciado nesta semana, de 13,75% para 13,25%, pode ajudar a dona das Casas Bahia, a Via (VIIA3), a aliviar um pouco a dívida reportada no relatório do primeiro trimestre da empresa, que já soma R$ 5,479 bilhões. Mas isso não é o suficiente para tirar a empresa da situação em que está, dizem os analistas.

O que aconteceu?

A ação da VIIA3 caiu forte após o anúncio da Selic. No primeiro pregão após o anúncio da nova taxa básica de juros, os ativos da varejista tombaram 8,65%, passando de R$ 2,08 (valor do fechamento do dia anterior) para R$ 1,90. Nesta sexta-feira (4) estavam cotados a R$ 1,93, com alta de 1,58% por volta das 13h.

Desde janeiro, a VIIA3 caiu 20,83%. Outros nomes do varejo, como Magazine Luíza (MGLU3) e Pão de Açúcar (PCAR3) acumulam alta de 15,33% e 25,12%, respectivamente, segundo a Economatica (de 3 de janeiro a 3 de agosto).

Por que a VIIA acumula tanta dívida?

A dívida foi feita durante a pandemia, quando os juros estavam em 2%. Os empréstimos serviram para manter os negócios quando o consumo caiu e as vendas da varejista despencaram.

Em um curto intervalo de tempo, os juros passaram para 13,75%. A escalada aconteceu de janeiro de 2021 a agosto de 2022. Desde então, os juros se mantiveram neste patamar até junho de 2023. Em agosto, caíram 0,50 ponto percentual.

A Casas Bahia paga atualmente 15,85% de juros ao ano. Isso equivale a R$ 871 milhões — somente em serviço da dívida. Os empréstimos feitos pela empresa são corrigidos pelo CDI mais 2,1% ao ano de juros. CDI é a sigla para Certificado de Depósito Interbancário e seu valor está sempre muito próximo ao da Selic (normalmente 0,10 ponto percentual abaixo da taxa).

Os juros altos colocam a dívida acima do lucro. Esses R$ 871 milhões em juros são mais que o lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) que a empresa alcançou no primeiro trimestre do ano, de R$ 675 milhões.

Por isso, a empresa fechou o primeiro trimestre com prejuízo líquido de R$ 297 milhões. Os resultados do segundo trimestre serão divulgados em 10 de agosto.

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Qual o impacto da Selic nas ações da Via?

O corte pode ajudar a ação da empresa subir. Isso traria algum alívio financeiro para a companhia, segundo analistas.

A valorização não é o suficiente para tirar a empresa da situação em que está. Especialistas afirmam que é preciso mais ações para tirar a empresa do vermelho.

O que mais precisa ser feito?

A empresa precisa cortar custos operacionais. Se o operacional da companhia continuar com problemas, diz Breno Francis, analista de varejo do Banco Inter, há grandes chances dela seguir o caminho da Americanas (AMER3) e de outras varejistas, como Marisa (AMAR4): a primeira em recuperação judicial e a segunda, em reestruturação.

O endividamento do consumidor também impacta na empresa. "O consumidor voltou a comprar, mas não no ritmo que se esperava", afirma Vírgilio Lage, especialista da Valor Investimentos.

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Oficialmente, a Via não divulgou nenhum plano de reestruturação. Na imprensa, entretanto, circulam informações de que a Via teria feito um corte de 10% a 15% do quadro de funcionários. A companhia também anunciou, em junho, a captação de R$ 1,11 bilhão com uma emissão de debêntures, trocando parte de sua dívida por outra com juros menores e maior prazo. Em março, a varejista também trocou o comando. Roberto Fulcherberguer, que estava à frente da empresa desde julho de 2019, saiu para dar lugar a Renato Franklin, que era presidente da locadora de veículos Movida (MOVI3).

Empresa diz que faz 'reconfiguração estratégica'. Em nota, a empresa divulgou que: "A companhia esclarece que as mudanças fazem parte de uma reconfiguração estratégica de negócios com o objetivo de manter a eficiência operacional. A empresa entende que o mercado está passando por um período de instabilidade e diante disso promovemos a redução de custos fixos e mantivemos o foco no retorno sobre o capital investido, considerando o elevado custo de capital atual. Optamos por atuar com diligência ao viabilizar os ajustes necessários para atravessar este momento e assim prosseguir crescendo com segurança."

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