Bolsa amarga 7 quedas seguidas mesmo com corte na Selic. Quais as razões?
A Bolsa de Valores de São Paulo caiu nesta terça-feira (9) pelo sétimo pregão consecutivo. O Ibovespa fechou em baixa de 0,57% em 118.408 pontos. Em sete sessões, a queda acumulada é de 2,90%. Mesmo depois do corte da taxa Selic - o que é benéfico para o mercado de ações - a Bolsa não engrenou. Veja Cotações.
O que está está acontecendo?
Sequência de 7 pregões de queda não ocorria desde 14 de junho de 2022. A queda acumulada na sequência de agora, porém, é menor que a das sete sessões consecutivas do ano passado, quando o Ibovespa apresentou um recuo de 8,14%, segundo levantamento da TradeMap.
Mês de agosto começou com investidores estrangeiros tirando dinheiro da Bolsa. Dados da B3 ainda mostram que as vendas de estrangeiros superam as compras em R$ 4,5 bilhões até o dia 7, sem considerar o fluxo para ofertas de ações. Em junho e julho, quando o Ibovespa acumulou alta de 12,6%, esse saldo ficou positivo em R$ 17,2 bilhões. No mês passado, o Ibovespa chegou a tocar 123 mil pontos.
Preocupações com China e Estados Unidos afetam mercado de ações. A bolsa brasileira tem refletido a cautela nos mercados internacionais por conta do marasmo na economia chinesa e da queda nas bolsas americanas.
Efeito China e EUA
China registrou deflação pela primeira vez desde 2021. Ao contrário das grandes economias que lutam contra a inflação, a China registrou queda de preços em julho, afetada pela fragilidade do consumo interno, que dificulta a recuperação econômica. O índice de preços ao consumidor (CPI), principal indicador da inflação chinesa, ficou no negativo em 0,3% na comparação anual em julho.
A China é o maior comprador de produtos brasileiros. Em 2022, o país asiático comprou quase US$ 90 bilhões do Brasil - mais do que a soma dos cinco países que aparecem na sequência no ranking de maiores importadores. Se os chineses não estão comprando, os países exportadores passam a vender menos, o que afeta companhias no mundo todo.
Vale (VALE3) e da Minerva (BBEF3), por exemplo, tiveram queda. As duas são grandes empresas que exportam para a China, e seus ativos na Bolsa acumulam queda no ano de 23,13% e 13,67%, respectivamente, para R$ 66,85 e R$ 10,75, conforme a Economatica. "A fraqueza da economia chinesa está puxando as ações de empresas exportadoras para baixo já faz algumas semanas", diz Gabriel Meira, economista e sócio da Valor Investimentos.
As bolsas americanas estão em queda desde que a nota de crédito dos EUA caiu. Há uma semana, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos de "AAA" para "AA+", apontando para uma deterioração fiscal nos próximos três anos. Desde então, investidores no mundo inteiro estão mais cautelosos com o mercado de ações, diz Nilo Galvani, gestor da TM3 Capital, de Curitiba. E isso afeta o mercado brasileiro também.
E a queda da Selic?
O mercado se adiantou à decisão do Banco Central. A Bolsa brasileira já vinha refletindo há meses a perspectiva de corte da Selic no segundo semestre. Desde o pico de baixa no ano, em 23 de março, a Bolsa vinha se recuperando e chegou a subir 25% até 26 de julho, dia em que alcançou o pico de movimentação, com 122.560 pontos.
Os investidores estavam comprando ações que poderiam se beneficiar do corte na Selic. Portanto, o Ibovespa está em momento de realização de lucro.
As atenções seguem agora voltadas para o lado fiscal e para o Congresso, onde tramitam projetos como o do novo arcabouço fiscal. No radar também continua a trajetória dos juros após o Banco Central ter indicado a intenção de promover novos cortes de 0,50 ponto percentual. "Os investidores continuam preocupados com os gastos do governo e a situação fiscal", diz João Piccioni, analista da Empiricus Research.
Tendência para os próximos dias é de mais queda. Nesta quinta-feira (10) sai nos Estados Unidos o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e o mercado espera que ele ainda mostre crescimento da inflação. "Isso fará o Federal Reserve, o banco central dos EUA, a segurar os juros em alta ainda por mais tempo", diz Gabriel Meira.
O que o investidor deve fazer?
Não é hora de vender tudo e sair correndo. Ao contrário. Pode ser um bom momento para comprar ações com preços mais baixos. "Esse momento de baixa não deve durar tanto tempo", diz Meira.
Estrategistas avaliam que ainda há espaço para o Ibovespa subir. Análise técnica do Itaú BBA aponta que o Ibovespa continua em momento de realização de lucros, mas que encontra suportes que sustentam o índice em tendência de alta, conforme relatório a clientes.
Perspectiva é de melhora para a economia doméstica. Em alguns meses, os efeitos do corte dos juros podem começar a se refletir na economia real. A expectativa é que as empresas que mais sofreram com a Selic elevada voltem a se estabilizar (parar de perder e gerar prejuízo) nos próximos balanços (terceiro e quarto trimestre) e passem a ter lucro no início do próximo ano.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.