Ações da Gol caem com notícia sobre possível recuperação judicial
A Gol (GOLL4) estaria cogitando pedir recuperação judicial nos EUA em, no máximo, um mês, conforme informou nesta segunda-feira (15) a Folha de S. Paulo. Com isso, as ações da empresa estão despencando na Bolsa de Valores de São Paulo. Por volta das 14h, estavam cotadas a R$ 6,93, queda de 8,82%. Assim, a empresa já perdeu grande parte da valorização conquistada no ano passado, quando valorizou 22,21%, segundo a Economatica. A queda também respinga na concorrente, a Azul (AZUL4), que caía 1,50% no mesmo momento para R$ 13,76. No ano passado, o papel da Azul acumulou ganhos de 45,41%.
O que está acontecendo
A companhia aérea quer aderir ao Capítulo 11 da lei norte-americana de falências, segundo o jornal. Lá o processo seria mais vantajoso do que pedir recuperação judicial no Brasil. Haveria mais possibilidades de financiamento no exterior, diz a Folha.
A Gol estaria tentando negociar com os credores um plano de reestruturação de dívidas fora da Justiça. Mas essa possibilidade, no entanto, vem se mostrando inviável porque há credores de vários tipos, como financeiros, arrendadores de aeronaves e investidores com papéis de dívida da companhia.
A estratégia pode não dar certo. Diferentemente da Latam, a Gol tem uma operação com menos presença nos EUA. Em maio de 2020, a rival foi ao Tribunal de Falências de Nova York (EUA). Em 2022, concluiu seu processo de reestruturação. Por isso, o processo poderia ser recusado. Isso levaria a companhia a gastar mais tempo e dinheiro para, ao fim, terminar abrindo um processo no Brasil.
Qual é a dívida da Gol?
Em 30 de setembro de 2023, a dívida da aérea era de R$ 18,5 bilhões, um crescimento de 15,9% na comparação com a mesma etapa de 2022. O indicador de alavancagem financeira - medido pela dívida líquida ajustada versus o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dos últimos 12 meses - ficou em 5,5 vezes em setembro do ano passado. Isso quer dizer que a empresa levaria quase seis meses para pagar o que deve se usasse tudo o que ganha na quitação da dívida.
Os consumidores reclamam que o preço das passagens nunca foi tão alto. E, mesmo assim, os aviões estão voando cheios. A ocupação tem ficado acima de 80% dos assento.
O problema maior foi a pandemia. É o que explica Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos. Sem voar, elas acumularam dívidas entre 2020 e 2021. Boa parte dessas dívidas foi renegociada no final de 2022 e começo de 2023. As empresas conseguiram postergar o pagamento para ter fôlego e recuperar o movimento. Mas assumiram juros mais elevados (até 100% maiores do que os anteriores).
Além disso, diz Lage, contam também a alta do petróleo e a variação do dólar. Desde a pandemia, a moeda americana já subiu mais de 17% em relação ao real. O petróleo, do tipo Brent, no início de 2020, custava cerca de US$ 50 dólares o barril. Agora, está na casa dos US$ 78.
Por que as ações caem?
Recuperações judiciais assustam os investidores. "O mercado não vê com bons olhos empresas que cogitam recuperação judicial já que isso aponta que há dificuldades para lidar com suas dívidas e compromissos com seus credores", diz Andre Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital.
As ações da rival, a Azul, caem num primeiro momento, mas segundo Lage, podem se beneficiar nos próximos pregões. "Geralmente, quando uma empresa entra em RJ, as rivais saem ganhando", diz ele.
A situação da Azul, embora seja melhor que a da Gol, também não é boa. A dívida bruta da companhia era de R$21,6 bilhões no fim do primeiro trimestre de 2023. Mas a Azul negociou com arrendadores de aviões e credores financeiros, além de ter levantado US$ 800 milhões (quase R$ 4 bilhões) com a emissão de títulos. A companhia estimou no final de 2023 que sua dívida líquida fosse de 3,5 vezes seu lucro antes de juros impostos depreciação e amortização até dezembro. Em março, a dívida era de 5,2 vezes o ebitda dos últimos 12 meses.
O que fazer com os papéis?
Lage recomenda a venda. Assim como aconteceu com a Americanas (AMER4) no ano passado, uma recuperação judicial pode deteriorar o valor da ação. A varejista teve uma crise muito maior, com escândalo de adulteração de balanço, o que fez ela perder 93% do valor de mercado em um ano.
Deixe seu comentário