4 pontos para entender por que a Vale já desvalorizou quase 12% este ano
Desde que o ano começou na Bolsa de Valores de São Paulo, as ações da Vale (VALE3) tiveram apenas um dia de alta, em 11 de janeiro, quando subiram 0,53%. Do dia 2 de janeiro até o dia (19), os papéis da empresa acumulam uma baixa de 11,79%, segundo a Economatica. Na segunda-feira (22), VALE3 continuava em queda, com baixa de 0,35%, cotada a R$ 67,86 por volta das 16h.
O que está acontecendo?
Existem pelo menos quatro fatores para a queda e o maior deles é a China. A venda de minério de ferro para a China representa 47,9% das receitas anuais da Vale. E elas estão em queda. "O mercado está sempre tentando antecipar como vai ser a demanda. Nesse momento, ele projeta uma queda mais acentuada nas exportações da Vale para a China este ano", diz Bruno Corano, especialista em mercado financeiro, em Nova York.
A queda já vem acontecendo desde 2020. Naquele ano, a China importou no total 1,169 bilhão de toneladas de ferro. Esse número caiu para 1,124 bilhão e depois para 1,06 bilhão nos anos de 2021 e 2022, respectivamente.
No terceiro trimestre do ano passado, a Vale teve queda no lucro. Entre julho, agosto e setembro, o lucro líquido aos acionistas foi de US$ 2,836 bilhões no terceiro trimestre de 2023, um recuo de 36,3% sobre igual período de 2022.
As vendas estão caindo porque a economia chinesa está patinando. Ao contrário do que aconteceu em muitos países, inclusive no Brasil, os chineses não tiveram um auxílio financeiro do governo durante a pandemia, explica Daniel Alberini, diretor de gestão na CTM/TM3. Agora, o comportamento do chinês não é de gastar, e sim de poupar. "E o governo não está criando estímulos para incentivar o consumo", diz Alberini. Com isso, o mercado imobiliário — o maior consumidor dos produtos da Vale — está sofrendo.
Há também um problema de câmbio, segundo ressaltou em relatório o Bank of America. (BofA). As moedas asiáticas como um todo já perderam 2% do valor frente ao dólar nos últimos 12 meses. O yuan chinês também.
Além disso, o preço do minério de ferro vem caindo. Só este ano, houve uma queda do valor do minério de aproximadamente 8% (Tradingview/ FEF1).
Outro fator que puxa as ações da vale para baixo é o movimento de venda em geral na Bolsa. "Há um movimento generalizado de realização de lucros dos ativos brasileiros, com o Ibovespa na terceira semana seguida de queda após as altas registradas entre novembro e dezembro", lembra Leandro Petrokas, diretor da Quantzed. Ou seja, o investidor vem vendendo ações para pôr o ganho dos últimos meses no bolso.
O quarto e último fator que leva a venda de VALE3 é a troca no comando da empresa. O mandato de três anos do atual diretor-presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo, termina em maio. Existe, segundo Alberini, o temor por alguns investidores de uma indicação de alguém do governo, já que o governo tem sua influência na empresa por meio do fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ, que é um dos maiores acionistas da Vale. "Mas indicar, todo mundo pode indicar. Não quer dizer nada", diz o especialista.
Esse fator, segundo alguns especialistas, tem um efeito limitado sobre as ações. "A Vale não é uma indústria de inovação, em que a gestão é determinante, como, por exemplo, acontece com a Microsoft", diz Corano. O produto da Vale não muda: é sempre o minério. "Nas indústrias de base, em particular a Vale, o gestor não tem uma capacidade de gestão tão significativa. Ele só precisa manter politicamente a empresa bem posicionada e priorizar a governança", afirma.
O que fazer com as ações?
Os analistas não sabem quando e nem se as ações devem parar de cair e se recuperar. Mas isso não é motivo para sair vendendo. "Entendemos que 2024 não é um ano de cenário claro de ser entendido para o setor de mineração e siderurgia, uma vez que o crescimento da economia real enfrenta diversos fatores de risco, principalmente inflação e tensões geopolíticas que estão se espalhando mundo afora", diz Petrokas.
Com o cenário atual, com economia chinesa apresentando resultados apenas ligeiramente positivos, mas sem um processo mais estável e duradouro, as ações devem apresentar um comportamento de alternância entre quedas e ligeiras recuperações, com os preços travados dentro de um range entre R$ 60 e R$ 75
Leandro Petrokas, diretor da Quantzed
Mas Alberini diz que não é hora de vender. Isso porque a Vale ainda deve pagar bons dividendos este ano e também porque deve acontecer uma recompra de ações, que pode gerar ganhos aos investidores. A Vale pagou R$ 28,9 bilhões em proventos aos seus acionistas no ano passado, segundo a plataforma Meu Dividendo. Um volume 13% menor do que no ano anterior, mas em linha com o esperado pelo mercado, considerando a queda no lucro.
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