Bradesco já perdeu R$ 158 bi em 5 anos: por que valor encolheu na Bolsa?
O banco que já foi o maior do país está encolhendo. O Bradesco (BBDC4) vale hoje metade do que chegou a valer em 2019. O valor de mercado da empresa, que atingiu seu pico há quase cinco anos, alcançando R$ 299,45 bilhões (em 9 de julho de 2019), desabou 52%, chegando aos atuais R$ 141,48 bilhões. Os dados são da Economatica.
As ações caíram ainda mais logo depois que divulgou um resultado abaixo do esperado pelo mercado. Na quarta-feira (7), quando divulgou seu balanço do quarto trimestre do ano passado, o Bradesco viu suas ações despencarem 15,90% em um só pregão, para R$ 13,96. No pregão desta quinta (8), os papéis continuavam em queda, Por volta das 15h, desvalorizavam 4,08%, para R$ 13,39.
O que está acontecendo
O motivo da queda recente foram os resultados do último trimestre. Entre outubro, novembro e dezembro de 2023, o banco reportou lucro de R$ 2,9 bilhões, enquanto a expectativa do mercado era de um ganho de R$ 4,6 bilhões.
O problema foram as provisões. No Bradesco, as provisões com devedores duvidosos subiram 14,5% no ano, para R$ 10,45 bilhões. Esse foi um dos principais motivos que prejudicaram o banco no trimestre, diz Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. O banco teve que guardar dinheiro por conta de problemas com duas empresas clientes que podem não pagar empréstimos feitos anteriormente.
O Bradesco não informou que companhias são essas. Mas no mercado se comenta que são a Americanas (AMER3) e a Casas Bahia (BHIA3), segundo fontes ouvidas por UOL. Parte do rombo das Americanas, entretanto já havia sido provisionada anteriormente em 2023. As ações da Casas Bahia estão em queda nesta quinta-feira (8), em baixa 11,21%, para R$ 6,81, por volta das 15h.
Pior que os pares
Mas não é de hoje que o papel vem encolhendo. No ano passado, os ativos sequer acompanharam o Ibovespa, que subiu 22%. Tiveram alta de 10,69%, segundo a Elos Ayta. Nos últimos cinco anos, quem investiu em BBDC4 acumula perdas de 34,64% - esse é o valor da queda das ações, que é diferente da queda em valor de mercado por causa do pagamento de dividendos, entre outros.
Dentre os bancos que apresentaram resultados até agora, o do Bradesco é um dos que mais chama atenção. O Banco do Brasil (BBAS3) deve divulgar seus números nesta quinta (8), depois do fechamento do mercado.
O lucro líquido consolidado dos quatro maiores bancos privados brasileiros listados na B3 caiu 9,4%. Chegou a R$ 67,1 bilhões no acumulado de 2023, um valor inferior aos R$ 74,1 bilhões registrados em 2022, segundo dados do consultor Einar Rivero.
Entre os quatro bancos, o ItaúUnibanco apresentou o maior crescimento de lucratividade em 2023, com 26,6%, seguido pelo BTG com 10,2%. Por outro lado, o Santander registrou uma queda de 38,2%, e o Bradesco teve uma redução de 31,6%. Segundo Einar, Bradesco vê uma queda contínua no lucro desde 2021.
Veja o lucro líquido das empresas no quarto trimestre de 2023.
- Itaú (ITUB4) - R$ 9,4 bilhões
- Bradesco - R$ 2,9 bilhões
- BTG (BPAC11) - R$ 2,85 bilhões
- Santander (SAMB11) - R$ 2,20 bilhões
Fonte: Empresas
Por que o banco encolheu na Bolsa
Um dos maiores problemas do Bradesco é o crédito. Na pandemia, principalmente, quando a taxa básica de juros, a Selic, caiu a 2%, o banco emprestou muito dinheiro, sem avaliar propriamente se os tomadores poderiam ou não pagar.
Hoje, a inadimplência do banco é uma das maiores do mercado. Os atrasos de 15 a 90 dias ficaram estáveis em 4,1%, enquanto a inadimplência acima de três meses ficou em 5,1%, o que representa uma melhora de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, mas ainda alto em comparação a outros bancos. No Itaú, a inadimplência de 15 a 90 dias foi de 2,8% no quarto trimestre, ante 3,0% no período anterior, e 2,9% em igual período de 2021. No Santander, ela subiu 0,1 ponto percentual, mas ficou em 3,1%, mesmo patamar de dezembro de 2022.
Além disso, o Bradesco demorou a se digitalizar. É o que diz o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti. Enquanto o Itaú já fechava agências e focava mais no digital, o Bradesco estava mais ligado ao atendimento físico.
Nesse meio tempo, vieram os novos bancos digitais. " Aí a concorrência aumentou ainda mais e o Bradesco foi perdendo clientes", diz Bertotti.
O que o o Bradesco diz que vai fazer para contornar tudo isso
O banco anunciou um plano estratégico. Com o apoio de consultorias, como a McKinsey, o plano de cinco anos prevê reformas em diversos aspectos, incluindo níveis hierárquicos, tecnologia, cultura organizacional, custos e modelos de agências. O objetivo é diminuir custos e tornar a instituição mais competitiva. "mas vai demorar pelo menos um ano para começar a surtir efeito. E continuamos num ambiente de juros altos, que prejudica a captação de novos empréstimos", afirma o economista da Messem.
No fim do ano passado, a empresa trocou o seu CEO. O novo presidente, Marcelo Noronha, substituiu Octavio de Lazari Jr.
Não tem bala de prata, não estamos reinventando a roda ou vamos competir com Elon Musk levando foguete para a lua.
Marcelo Noronha, novo presidente do Bradesco, em teleconferência de resultados
O que fazer com a s ações
Melhor não comprar, nem vender. É o que diz a Órama, que classificou o papel como neutro, com preço alvo para os próximos 12 meses em R$ 18,80.
Para a Genial, entretanto, existe um potencial de ganho no logo prazo de 42%. A corretora recomenda a compra, apostando na recuperação do banco, com um preço alvo de R$ 20.
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