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Apesar das mudanças climáticas, fundos ESG ainda são nicho no mercado

Com todo estrago que as mudanças climáticas têm provocado, seria de se esperar que fundos, gestores e investidores também estivessem preocupados com isso. Mas não é bem assim que tem acontecido. Embora a oferta de fundos relacionados com objetivos ESG (Governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês) tenha crescido, eles ainda não tê m representatividade. Além disso, faltam legislações e regulamentações para classificação de empresas segundo os critérios de sustentabilidade.

Qual é o tamanho do setor

O número de fundos ESG passou de 10 para 65 de 2013 até agora, mas ainda não são nem 1% do mercado. O levantamento é da TC Economatica, que mostra um bom crescimento. Mas, na comparação com os 31.084 fundos, conforme o levantamento de março da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Anbima, são apenas uma gota no oceano: 0,20% do mercado.

Faz parte da estratégia das gestoras. "Geralmente, 99% dos fundos são tradicionais. Mas as gestoras sempre têm 1% de fundos verdes. São como uma lanchonete que tem uma salada no cardápio para dizer que é saudável", diz Bruno Corano, investidor e economista da Corano Capital, em Nova York (EUA).

Questões de meio ambiente importam ao escolher onde investir?

Questões ESG não são consideradas na hora de investir. É o que diz Leandro Petrokas, diretor de pesquisa e sócio da Quantzed. São considerados os possíveis ganhos, o cenário econômico, mas não a reputação ESG da empresa.

Ninguém está nem aí se morreram mais de 200 pessoas com o rompimento da barragem da Vale (VALE3) em Brumadinho ou se a Braskem (BRKM5) afundou um bairro em Maceió

Felipe Monteiro, diretor da Systemica, de projetos de créditos de carbono

Em dezembro de 2023, a Braskem foi excluída do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3. O mesmo aconteceu com a Vale em 2019.

Fundos ESG têm mais dificuldade de captação de dinheiro. É o que afirma Felipe Monteiro, ex-gestor de fundos de carbono na Empiricus e atual diretor da Systemica, empresa que atua com o desenvolvimento de projetos de créditos de carbono, da qual o BTG é sócio."Todo mundo acha bonito esse tipo de fundo, mas na hora de pôr dinheiro, preferem petróleo, agro, bancos."

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O mercado brasileiro é dependente desses setores. E o investidor gosta deles, diz Thomas Monteiro, analista chefe do Investing.com, em Madrid, na Espanha. A Petrobras (PETR3 e PETR4), no setor de combustíveis fósseis, é a maior empresa do Ibovespa. Com a Vale, que é mineradora, as duas respondem por 24,9% do Ibovespa, segundo a Investing.com. Monteiro, da Systemica, concorda. "Estamos numa transição muito lenta para energias mais limpas. Todas as empresas têm um plano para isso. Mas não sabemos em quanto tempo chegaremos lá."

Isso é ruim para o mercado?

Sim, porque acaba afastando investidores mais preocupados com o meio ambiente. "O problema é que esse tipo de investidor, que não quer colocar seu dinheiro em empresas que financiam de algum modo a poluição, ainda são uma minoria. É um nicho. Mesmo nos Estados Unidos", diz Corano.

O que pode ser feito para mudar?

Regulamentar o setor. É o que diz Thomas Monteiro. "Se uma empresa diz que fez algum investimento verde, não existe nenhuma fiscalização para verificar se isso foi realmente feito e se houve impacto positivo. Por isso, tem muito 'greenwahshing'", diz ele. Greenwashing é um termo usado quando companhias criam uma falsa aparência de sustentabilidade, sem necessariamente aplicá-la na prática, apenas pelo marketing. Ele diz que o investidor europeu é um mais preocupado com essas questões que os brasileiros ou os de outros países.

Também poderiam existir mais agências de classificação ESG. "Assim como existem agências de rating, que classificam o risco de se investir numa empresa, poderia haver a classificação ESG", diz Corano.

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Em 2020, a B3 e a S&P Dow Jones lançaram algo parecido: o índice S&P/B3 Brasil ESG. Esse índice usa critérios baseados em práticas ambientais, sociais e de governança para classificar empresas. "Mas é um passo muito inicial. Ainda estamos engatinhando nisso. A pressão das empresas sobre essas agências também impede o crescimento desse trabalho", diz o analista.

Por isso, Corano defende que quem precisa agir é o poder público. "Ninguém no mercado vai mudar espontaneamente. É como a lei do cinto de segurança. Se ele não existisse, ninguém estaria usando." Para ele, os governos precisam fiscalizar e pressionar as empresas para que elas não poluam e respeitem o meio ambiente. Também precisam coibir atividades ilegais dessas empresas, como o garimpo predados e o desmatamento.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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