Acordo, possível fusão e plano financeiro: Gol e Azul vão decolar?
Com perdas acumuladas desde a pandemia de 95,83% e 81,38%, as ações da Gol (GOLL4) e da Azul (AZUL4) ensaiam uma recuperação.
O que aconteceu
As duas companhias anunciaram na quinta-feira (23) um acordo de cooperação. Além disso, a Gol, que pediu recuperação judicial nos Estados Unidos em janeiro, divulgou nesta segunda-feira (27) um plano financeiro de cinco anos para retomar sua capacidade doméstica aos níveis pré-Covid até 2026.
Desde o começo do ano, as duas empresas vêm perdendo na Bolsa. AZUL4 caia 35,29% enquanto GOLL4 perdia 84,28% (de 2 de janeiro a 24 de maio), conforme dados da consultoria Elos Ayta.
Na semana passada, porém, as ações inverteram o sinal. O papel da Azul subiu 1,37% e os da Gol, 13,71%.
O que mudou?
A partir do fim de junho, os clientes da Azul e da Gol podem comprar passagens de uma companhia nos canais de venda de outra. As duas empresas anunciaram nesta quinta-feira (23), um acordo de cooperação comercial, chamado de "codeshare". O acordo só valerá para rotas domésticas exclusivamente operadas por uma das duas companhias.
Esse acordo também inclui os programas de milhagem das duas aéreas. Os participantes poderão agora acumular pontos ou milhas no programa de sua escolha ao comprar os trechos domésticos.
Isso ajuda a reduzir custos. É o que diz Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos. "Com a parceira, as duas otimizam a oferta de viagens e a economia gerada ajuda aumentar o caixa, deixando as companhias mais saudáveis", explica ele. Atualmente, Azul e Gol somam cerca de 1,5 mil decolagens diárias.
Possível fusão?
O acordo levantou suposições de que as duas empresas podem estar preparando uma fusão. Em março, a Azul, em comunicado ao mercado, divulgou que "está sempre atenta às dinâmicas estratégicas do setor aéreo e a possíveis oportunidades de parcerias, podendo como prática regular contratar consultores para apoiar a empresa nesses esforços". No entanto, até aquele momento, a Azul disse não ter negociado "nenhuma transação específica".
O acordo já anunciado, porém, pode ser mais prático que uma fusão. "Elas já começam a trabalhar como se fosse uma fusão, na prática. Mas cada uma na sua bandeira. O que evita uma grande dor de cabeça das companhias com o Cade", diz João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research, referindo-se ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
O acordo entre as duas, segundo ele, diminui o medo do passageiro de comprar voos operados pela Gol. Por conta da recuperação judicial, alguns voos poderiam ser cancelados ou eventualmente remarcados com frequência. É um excelente passo na "confiança com o consumidor".
Como ficam as ações?
Nesta segunda-feira, porém, as duas ações estão em queda. Por volta das 14h, Azul caia 2,32% para R$ 10,12. Gol tinha desvalorização de 4,26%, sendo cotada a R$ 1,35.
O mercado teme que o acordo de "codeshare" não dê certo. Isso porque uma parceria semelhante firmada entre Latam e Azul em 2020 foi, cerca de um ano depois, encerrada abruptamente pelas duas empresas. Uma série de especulações sobre uma eventual fusão entre as companhias. A Latam estava em recuperação judicial após recorrer ao Chapter 11 nos Estados Unidos.
E o Cade?
Desde 2016, acordos de codeshare tradicionais deixaram de ser de notificação obrigatória ao Cade. Mas se a autarquia considerar que ele é muito parecido com uma fusão, o conselho pode, sim, entrar na história.
O processo de reorganização financeira da Gol, porém, está pesando na cotação de hoje. "O mercado não acredita na recuperação da Gol", diz Tonello. O processo, divulgou a empresa, terá duas frentes de financiamento: uma será o refinanciamento de um total de US$ 2 bilhões da dívida de longo prazo. A outra, uma injeção de cerca de US$ 1,5 bilhão de novo capital por meio da emissão de novas ações. Os termos para que esse processo seja realizado ainda não estão definidos.
Vale a pena comprar as ações?
Todas essas notícias podem influenciar positivamente as empresas. No entanto, a maioria das casas de análise colocou as ações da Gol em revisão, depois da recuperação judicial.
É o caso da XP, que também não recomenda compra, nem venda dos papéis da Azul. Embora a ação tenha um potencial de alta de 196%, passando para um preço alvo de R$ 30 em 12 meses, o risco é muito alto.
Essa é a mesma recomendação da Genial. A empresa tem classificação neutra para o papel, que tem preço alvo de R$ 17, um ganho potencial de 50,58%.
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