Dólar passa dos R$ 5,47 e já subiu 11,69% no ano
O dólar está na maior cotação desde a pandemia. A divisa sobe 0,68% nesta quarta-feira (19) e já havia passado dos R$ 5,47 por volta das 14h. Nesse patamar, ela só perde para a cotação que atingiu em 2020. Em maio daquele ano, durante a quarentena do coronavírus, o dólar chegou a valer R$ 5,85.
Só neste mês de junho, a moeda americana já subiu 3,16% até o fechamento do pregão do dia 18. No ano, a alta acumulada é de 11,69%, conforme dados da Economatica. Enquanto isso, no ano, o Ibovespa foi na direção contrária e caiu 10,85% desde 2 de janeiro.
Por que o dólar está subindo?
Não é à toa que dólar e o Ibovespa tenham variações proporcionalmente contrárias. Os investidores saem da Bolsa brasileira para aproveitar o juro americano, que, neste momento, tem a décima taxa mais alta do mundo, segundo a MoneYou. Além disso, o tesouro americano, a aplicação que paga esse juro, é o investimento mais seguro do mundo.
A saída de investidores estrangeiros do país somou R$ 7,3 bilhões no acumulado do mês. Os dados são do Itaú BBA. No ano, a fuga já é de R$ 43,2 bilhões no ano.
Esse valor já é quase igual ao total investido no ano passado inteiro. Em 2023, a Bolsa atraiu R$ 44,9 bilhões em capital externo - que foi o segundo maior da série histórica iniciada em 2004. Só perdeu para 2022, quando os investidores estrangeiros haviam injetado R$ 100 bilhões na B3.
Essa fuga de dinheiro para o EUA também valoriza o dólar em relação a outras moedas. "Não é apenas o real brasileiro que está perdendo valor em relação ao dólar. Moedas de outros emergentes, como Argentina, México e Indonésia, também enfrentam desvalorização", explica Daniel Sabino, fundador do Grupo NanoCapital.
Mas o real acaba sofrendo mais por motivos domésticos. Aqui, o governo vem gastando mais do que arrecada. "A situação fiscal brasileira está complicada e o cenário político, incluindo o Congresso, está estagnado. Esses fatores contribuem para a depreciação do real em relação ao dólar", diz o especialista.
Essa alta vai continuar?
Sim, pelo menos até que o governo faça um corte de gastos. Ou que o banco central americano, o Federal Reserve, diminua as taxas de juros. Na semana passada, o Fed manteve os juros na faixa de 5,25% a 5,50% e sinalizou apenas um corte na taxa em 2024.
Mas não deve cair muito. "Uma redução da taxa de juros americana pode atenuar a desvalorização do real, mas enquanto os problemas fiscais e econômicos internos não forem resolvidos, o dólar deve se manter valorizado em relação ao real", diz Sergio Brotto, diretor-executivo da Dascam Corretora de Câmbio.
Quais ações saem ganhando com o dólar em alta?
As ações de grandes companhias saem ganhando, segundo o Itaú BBA. Em relatório para investidores, o banco diz que grandes empresas, principalmente do agronegócio e de produtos básicos, são as mais resistentes na Bolsa. Empresas que vendem em dólar, como a Weg (WEGE3), de motores elétricos e empresa de infraestrutura, que ganham independentemente do cenário, como Cemig (CMIG4), estão na lista das maiores altas acumuladas no ano.
As 10 maiores altas do ano:
- São Martinho (SMTO3) 13,78%
- Hypera Farma (HYPE3) 6,15%
- BRF (BRFS3) 7,37%
- Weg (WEGE3) 5,22%
- Totvs (TOTS3) 3,55%
- Itaú Unibanco (ITUB4) 2,80%
- Telefonica Brasil (VIVT3) 2,38%
- CSN Mineração (CMIN3) 2,23%
- Pão de Açúcar (PCAR3) 1,74%
- Cemig (CMIG4) 1,61%
Fonte: Economatica e Investing.com
A exceção é Pão de Açúcar, que vive um momento de especulação. A empresa pode ser vendida em breve.
Quais perdem mais?
As small caps, segundo o Itaú BBA. Elas são as empresas que dependem de financiamento para crescer. Com os juros altos, elas pagam mais por empréstimos. Varejistas, principalmente as que dependem de venda a crédito, também perdem bastante. Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, já caiu mais de 45% no ano.
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