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Dependência de mercado europeu inquieta indústria automobilística britânica

29/06/2016 17h19

Londres, 29 Jun 2016 (AFP) - A indústria automobilística britânica está particularmente inquieta pelo Brexit porque teme perder o acesso ao mercado único europeu e a liberdade de continuar contratando estrangeiros.

"Nossa indústria está profundamente integrada à Europa... É a relação mais importante que nós temos", explicou Mike Hawes, diretor da Associação britânica de construtores e vendedores de automóveis (SMMT).

O Reino Unido produziu 1,59 milhão de veículos no ano passado, e cerca de 80% foram exportados, a maior parte para a Europa. O setor representa mais de 800.000 empregos e é uma exceção em um país amplamente desindustrializado.

Este fato está intimamente ligado às empresas estrangeiras que investiram muito nas fábricas britânicas: Nissan, Toyota, BMW (com a marca Mini), Ford, General Motors (marca Vauxhall), entre outras. Entre as marcas mais caras, Bentley pertence à Volkswagen e Jaguar Land à empresa indiana Tata Motors.

No curto prazo, a possível recessão econômica e a prudência dos consumidores após o inesperado resultado do referendo de 23 de junho poderá ter um efeito devastador no país, até agora um mercado sólido.

"A desaceleração econômica ligada ao Brexit terá um impacto na venda de automóveis no Reino Unido", alertou David Bailey, professor da Aston Business School.

A indústria teme, ainda, as consequências de longo prazo, em um clima de forte incerteza política. O país ainda tem que ativar o famoso artigo 50 para sair da UE, e seu futuro primeiro-ministro terá que negociar o tipo de relação comercial que quer estabelecer com os outros 27 países.

"O tema mais importante é a enorme incerteza sobre as futuras relações comerciais com a Europa", ressaltou David Bailey.

Em nome dos construtores, Mike Hawes pediu "um pleno acesso sem restrições ao mercado único, agora e no futuro".

Para ele, trata-se de um acesso vital para as grandes empresas que investiram no Reino Unido porque era uma porta de entrada para o mercado europeu.

"Esperar e ver o que acontece"O que vão fazer agora? "Esperar e ver o que acontece", respondeu Johan van Zyl, diretor da marca japonesa Toyota na Europa. "Não vislumbro mudanças imediatas em nossas atividades no Reino Unido", onde têm duas fábricas, assegurou.

"As decisões de longo prazo dependerão do resultado das negociações" entre Londres e Bruxelas.

Jim Farley, diretor da Ford na Europa, avisou que "tomará todas as medidas necessárias" para assegurar que suas atividades no continente europeu "continuem sendo competitivas".

Outra importante questão é a contratação de estrangeiros para cobrir o déficit de mão de obra nacional. "Com mais de 5.000 postos vagos nesse momento, não deveriam nos colocar obstáculos para contratar pessoas qualificadas da UE", desabafou Mike Hawes.

Mas sejam quais forem os acordos com a UE, depois da efetiva ruptura, o Reino Unido não terá voz nem voto nas novas regulações europeias. "As regulações não desaparecerão, serão cada vez mais importantes com o desenvolvimento dos automóveis conectados e autônomos", explicou David Bailey.

"A Jaguar Land Rover, por exemplo, terá que contar com o governo eslovaco para que a represente no nível europeu", observa o professor universitário.

A referência À Eslováquia é porque a Jaguar Land Rover está construindo uma fábrica neste país.