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Expansão da zona do euro desacelera por tensão comercial com EUA

31/07/2018 14h51

Bruxelas, 31 Jul 2018 (AFP) - A expansão da zona do euro se desacelerou no segundo trimestre, indicou nesta terça-feira (31) a Comissão Europeia, confirmando suas últimas projeções de um crescimento pela tensão comercial aberta por Washington, que ameaça a economia mundial.

O crescimento dos 19 países do euro em seu conjunto se situou entre abril e junho em 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), um décimo abaixo da expansão registrada no primeiro trimestre, segundo a primeira estimativa do escritório de estatísticas Eurostat.

Os dados publicados nesta terça-feira confirmam a análise do Executivo comunitário que, em meados de julho, reduziu suas perspectivas de crescimento para 2018 pelas "tensões comerciais e a incerteza política, assim como o aumento dos preços da energia".

"A incerteza comercial parece já ter tido um efeito significativo na economia da zona do euro no segundo trimestre", apontou Bert Colijn, do banco holandês ING, apontando o impacto na "confiança" das empresas e os consumidores.

Contudo, "o fato de que o risco imediato de uma escalada das tensões comerciais tenha diminuído agora deveria apoiar o crescimento ao longo da segunda metade do ano", afirmou Dirk Schumacher, do banco Natixis.

- Cautela -O presidente americano, Donald Trump, aumentou em junho as tarifas sobre o aço e o alumínio europeus a 25% e 10%, assim como de outros sócios como México e Canadá, que responderam com contramedidas sobre uma série de produtos americanos.

Para reduzir a tensão comercial e afastar a ameaça de Washington de novas tarifas aos veículos europeus, Trump e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acertaram em 25 de julho iniciar discussões comerciais sobre indústria, energia e soja.

Diante da dúvidas que pesam sobre o anúncio de Trump e Juncker, o bloco mantém a prudência. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, indicou um dia depois que a "ameaça do protecionismo" continua sendo "importante".

Não apenas para a UE. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou dias antes que as tensões comerciais entre Estados Unidos e seus sócios, especialmente a China, ameaçam o crescimento mundial em 2018, uma década depois da crise financeira mundial.

A crise lançou a zona do euro em uma crise da dívida, de cujos efeitos ainda não se recuperou totalmente. O desemprego nos 19 países do euro continua acima dos níveis anteriores à crise financeira, em 8,3% em junho.

Apesar da incerteza, o BCE confirmou na última quinta-feira o fim de seu programa para sustentar a economia, previsto para o fim do ano - que indica uma eventual alta dos juros até o verão boreal de 2019.

- Impulso à inflação -"Continuamos vendo como o crescimento recupera certo ritmo à medida que o ano avança, mas por ora a desaceleração contínua se somará sem dúvidas à cautela do BCE quanto à normalização das políticas", afirmou Jennifer McKeown, da Capital Economics.

O BCE anunciou em janeiro de 2015 um programa de compra de dívida e, desde então, injetou quase 2,5 bilhões de euros no mercado para favorecer o financiamento de consumidores e empresas para estimular o crescimento e a inflação.

Embora a inflação tenha avançado em junho a 2,1%, impulsionada pelos preços da energia e acima da meta da instituição monetária com sede em Frankfurt, na Alemanha, os analistas alertam para o efeito temporário e uma queda do índice dos preços.

O BCE considera que uma inflação levemente inferior aos 2% interanuais é um sinal de boa saúde econômica, já que corresponde à definição de estabilidade de preços.

Os efeitos dos preços da energia (9,4% em julho) "se debilitarão nos próximos meses, aproximando a taxa da inflação à inflação subjacente", apontou Bert Colijn.

A inflação subjacente ou núcleo da inflação - que não leva em conta os preços mais voláteis de energia, alimentos, álcool e tabaco - subiu de 0,9% em junho para 1,1% um mês depois.