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Consumidores de produtos 'Made in China' nos EUA estão na linha de frente das tarifas

19/09/2018 14h53

Washington, 19 Set 2018 (AFP) - Em cada casa americana, há incontáveis produtos vindos da China, agora sujeitos a novas tarifas anunciadas por Donald Trump - uma lista que vai de xampu a móveis, passando pelos eletrodomésticos.

"A cada escalada da guerra comercial, o risco para o consumidor americano aumenta", explicou Matthew Shay, presidente da Federação Nacional de Vendas a Varejo, após o anúncio de que o presidente americano Donald Trump vai impor tarifas a 200 bilhões de dólares em importações chinesas.

A partir de 24 de setembro quase metade de todas as importações da China aos Estados Unidos vai estar sujeita a uma tarifa de 10%, que se elevará a 25% três meses depois.

"Não podemos nos permitir mais escaladas, especialmente com a temporada de compras para as festas de fim de ano logo à frente", disse Shay.

As novas medidas protecionistas adotadas por Trump afetam, agora, cerca de 11.400 produtos feitos na China, equivalentes a 250 bilhões de dólares anuais em importações - nos níveis atuais -, segundo documentos oficiais e registros comerciais.

Segundo Chad Bown, especialista do Peterson Institute for International Economics, para as eleições legislativas de novembro, "40% do total das importações americanas poderia ser afetado por novas tarifas que Trump impôs apenas em 2018".

Embora o governo Trump tenha descartado os riscos, economistas alertaram que o aumento das tarifas recente recairá no bolso dos consumidores.

Um estudo sobre a confiança dos consumidores conduzido pela Universidade de Michigan revelou que a guerra comercial e suas consequências sobre os preços são uma grande preocupação para as famílias.

A amplitude dos produtos afetados, que atinge todos os ramos industriais, gera receio de que os consumidores possam parar de gastar.

- Preocupação com 'Black Friday' -O consumo das famílias, que é tradicionalmente um impulsionador do crescimento econômico, é muito baseado nos produtos "Made in China", que os compradores adquirem sem pensar, jogam fora e depois substituem por outros.

Nos supermercados americanos, como o gigante de distribuição Walmart, os produtos de origem chinesa estão por toda parte.

No mercado americano, os consumidores são muito sensíveis aos preços e o sentimento nacionalista pode ser moderado se as pessoas sentirem que estão gastando mais.

Segundo pesquisas publicadas em 2017, a grande maioria dos compradores favorece os produtos locais pelos mesmos preços. Mas essa preferência pelo americano diminui à medida que os preços do "Made in USA" aumentam.

Uma alta dos produtos fabricados na China poderia conter essa espiral de consumo, alertam especialistas.

As tarifas afetarão uma pequena fração do PIB americano, bem abaixo de 1%, mas os custos econômicos "provavelmente serão sentidos desproporcionalmente pelas famílias", disse um relatório do Barclays Research divulgado nesta terça-feira.

As tarifas já provocaram um aumento nos preços dos bens duráveis no mercado, com um custo de 0,6% para o PIB, alertaram especialistas do banco.

Um estudo recente da Federação Nacional de Vendas a Varejo revelou que as tarifas sobre produtos fabricados na China podem custar aos consumidores americanos até US$ 6 bilhões ao ano.

No entanto, as famílias não têm alternativa, já que produtos similares fabricados em outros países podem ser ainda mais caros.

Em 23 de novembro, o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, os comerciantes lançam as vendas da "Black Friday" com grandes ofertas para atrair mais consumidores. Este evento é o ponto de partida da temporada de Natal, que poderia ser prejudicada por esses anúncios.

"A mera menção de tarifas para os produtos chineses é uma preocupação séria para os varejistas, porque esse tipo de taxa poderia afetar todos os aspectos da vida americana", disse Shay.