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Geração do smartphone, menos rebelde e psicologicamente mais frágil

15/11/2018 16h39

San Diego, Estados Unidos, 15 Nov 2018 (AFP) - Para Jean Twenge, professora de Psicologia da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, a combinação de smartphones/redes sociais molda os adolescentes de hoje, nascidos depois de 1995. Ela os chama de "iGen", uma geração mais caseira, mais imatura e mais propensa a problemas de saúde mental.

PERGUNTA: O que é a geração iGen?

RESPOSTA: É a primeira geração que terá vivido toda a sua adolescência na era dos smartphones, e isso tem muitas consequências na vida dos adolescentes.

Eles passam o seu tempo livre de maneira essencialmente diferente das gerações anteriores. Passam muito mais tempo na Internet, nas redes sociais, jogando videogames, assistindo a vídeos, e dedicam muito menos tempo a atividades longe das telas, como ler, dormir ou ver seus amigos. Crescem mais devagar: aos 18 anos tendem menos a ter uma carteira de motorista, um trabalho, ir a encontros românticos, beber álcool, sair sem seus pais...

Esta tendência já havia começado antes, no fim da década de 1990, com os "millennials" e, embora a tecnologia não explique tudo, o smartphone parece ter acelerado algumas tendências nos últimos anos, provavelmente porque como os adolescentes podem se comunicar com seus amigos ficando em casa, não sentem a necessidade de ter uma habilitação ou de saírem sozinhos.

Assim, a iGen é, provavelmente, a geração mais segura da História e os adolescentes gostam dessa ideia. Mas também sentem que falta alguma coisa e que ficar conectado ao seu celular o tempo todo pode não ser a melhor maneira de viver. Além disso, detestam quando conversam com um amigo e este olha constantemente o telefone.

P: Você pesquisou o comportamento e a saúde de milhões de adolescentes. O que observou?

R: Quando estudamos as mudanças geracionais em períodos longos, vemos que demoram muito a serem visíveis, em uma ou duas décadas, por exemplo. Mas a partir de 2011/2012, comecei a notar mudanças mais repentinas, como grandes aumentos da quantidade de adolescentes que disseram se sentir sozinhos ou excluídos, ou que acreditavam que não conseguiam fazer nada bem, que a sua vida não servia para nada, todos sintomas clássicos de depressão.

Os sintomas depressivos aumentaram 60% em apenas cinco anos, com índices de automutilação, como se cortar, que duplicaram ou inclusive triplicaram nas meninas, e de suicídio de adolescentes que duplicaram em poucos anos...

Justo no momento em que os smartphones se tornaram comuns, quando a proporção de americanos que têm um superou os 50%, esses problemas de saúde mental começaram a se manifestar. Podem dizer que isso é apenas uma coincidência, mas não houve outro evento nesse momento para explicar essas mudanças e a sua aceleração.

E sabemos, depois de décadas de pesquisa, que dormir ou ver os amigos é fundamental para o equilíbrio mental, mas passar horas e horas em frente a uma tela, não.

Hoje em dia, os adolescentes americanos passam de seis a oito horas por dia nas redes sociais. Não são as telas em si o problema, mas o fato de que substituíram outras coisas, o que parece ter levado a estes problemas de saúde mental.

P: Que conselho você daria aos pais?

R: Definitivamente isso é uma boa notícia, porque muitas das coisas das quais dependem a felicidade e a saúde mental estão agora sob o nosso controle. Não podemos mudar os genes com os quais nascemos nem resolver a pobreza com um estalar de dedos, mas podemos controlar como ocupamos nosso tempo livre e podemos ajudar nossos filhos a fazer o mesmo.

Os estudos advogam por limitar as redes sociais a um máximo de duas horas por dia para adolescentes. É um bom equilíbrio para aproveitar as redes sociais e o smartphone (se comunicar, se informar, se organizar...) sem os inconvenientes, que são consideráveis.

Para os mais novos, se acreditamos que o nosso filho precisa de um celular, podemos dar um sem acesso à Internet e, portanto, sem todas essas tentações.

("iGen", Jean M. Twenge, Ed Simon e Schuster)