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Povos autóctones isolados da Amazonia peruana sob ameaça crescente

30/11/2018 10h42

Lima, 30 Nov 2018 (AFP) - Assim como os caçadores-coletores que mataram um norte-americano que invadiu sua terra este mês em uma ilha remota da Índia, ameríndios da Amazônia rejeitam o contato com o mundo exterior, mas traficantes de drogas, madeireiros e mineradores os expõem a riscos crescentes.

A metade do território peruano está na Amazônia, mas essa é a região menos povoada do país, onde há 16 comunidades que vivem em isolamento voluntário, com cerca de 4.500 habitantes no total, e outras três em "contato inicial" com a civilização, de aproximadamente 2.500 pessoas, segundo o Ministério da Cultura.

Eles habitam em reservas nas regiões de Ucayali, Madre de Dios e Cusco, que tem uma zona andina e outra de floresta.

O tráfico de drogas, a mineração ilegal e o corte clandestino de árvores ameaçando o meio ambiente e esses povos amazônicos.

"Ambos os grupos se encontram em estado de grande vulnerabilidade sanitária, territorial, sociocultural", explica à AFP a diretora de Direitos de Povos Indígenas do Ministério da Cultura, Ángela Acevedo.

Assim como o Brasil, onde segundo a Funai há 107 povos ameríndios isolados, o Peru também é um dos poucos países no mundo com povos nativos que vivem voluntariamente em isolamento. Também há povos aborígenes em "contato inicial", quase inexistente, com outras pessoas.

"O tráfico de drogas constitui outra ameaça crescente à vida dos povos em isolamento voluntário e contato inicial", destaca a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em um relatório.

"Essa atividade frequentemente se realiza em zonas tropicais remotas e de difícil acesso, que é onde vivem e transitam os povos em isolamento", acrescenta a CIDH.

Os aborígenes da Amazônia peruana - como os Mashco-piro, Cacataibos, Isconahuas, Matsigenkas, Mastanahuas, que vivem nas regiões de Ucayali, Madre de Dios e Cusco, entre outras - muitas vezes reagem violentamente quando entram em contato com traficantes, mineradores ilegais e madeireiros clandestinos.

- "Vulneráveis a germes" -O maior risco para os nativos são as atividades ilegais, como o tráfico de drogas, adverte a Polícia peruana.

"Os traficantes de drogas não tratam áreas protegidas como algo especial. Eles fazem parte de seu escopo de expansão (para cultivos ilegais de folha de coca, matéria-prima da cocaína).

Para eles, é a floresta e nada mais importa", afirma o coronel Arquímedes León.

Nessas áreas protegidas "existem outros tipos de recursos sobre os quais sempre há intenção de explorá-los", explica à AFP Silvana Baldovino, da ONG Sociedade Peruana de Direito Ambiental.

Os mineiros que procuram ouro, se somam aos madereiros ilegais, que cortam árvores em risco de extinção.

As comunidades também enfrentam riscos por atividades legais, como o turismo e a construção de rodovias no pulmão da América do Sul.

Muitas vezes o risco é vital, porque o sistema imunológico dos nativos é muito vulnerável a germes trazidos por outras pessoas, explica Acevedo.

A Amazônia peruana vem perdendo 123.388 hectares de floresta por ano, segundo o Programa Nacional de Conservação de Florestas.

Qualquer intervenção nessa região "deve ser planificada" para não afetar "seriamente os indígenas nem as espécies", adverte Nancy Portugal, chefe da seção de Povos em Isolamento e Contato Inicial do Ministério da Cultura.

Um dos povos ameaçados é o Mashco-piro. São cerca de 900 caçadores e coletores nômades que vivem em duas reservas.

O Ministério da Cultura peruano está montando controles para evitar que eles sejam incomodados por intrusos tenta impedir que agências de turismo inescrupulosas vendam excursões para ver os mashco-piro.