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Trump eleva ao máximo a pressão comercial sobre a China

11/05/2019 08h07

Washington, 11 Mai 2019 (AFP) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou ao máximo a pressão sobre a China ao ordenar que o representante comercial americano (USTR) Robert Lighthizer inicie o procedimento para elevar as tarifas aduaneiras sobre quase todas as importações procedentes de Pequim.

"O presidente ordenou que iniciemos o processo de elevação das tarifas aduaneiras sobre praticamente todo o resto das importações da China, avaliadas em cerca de US$ 300 bilhões", afirmou Lighthizer.

Os detalhes do procedimento, que inclui consultas e comentários dos setores envolvidos, serão divulgados na segunda-feira no site do USTR, antes da decisão de se impor as tarifas ou não, declarou Lighthizer.

Os EUA e a China concluíram na sexta uma rodada de negociações qualificada por Trump de "construtiva", sem acordo mas também sem interromper o diálogo.

Trump garantiu a permanência das discussões e destacou que a decisão de remover ou não as tarifas impostas sobre produtos chineses depende do desenrolar das negociações.

"Ao longo dos últimos dois dias, os Estados Unidos a China tiveram diálogos sinceros e construtivos sobre o status da relação comercial entre os dois países", tuitou Trump.

As tarifas a produtos chineses "podem, ou não, ser removidas, dependendo do que acontecer nas negociações futuras".

O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, garantiu que "as negociações não fracassaran, pelo contrário, [os obstáculos são] algo normal nas negociações [...], inevitável".

"As duas partes acertaram um novo encontro, em Pequim, e seguirão avançando nas negociações", disse Liu, sem citar uma data.

"Obtivemos consenso em muitas áreas mas, francamente, há áreas em que ainda temos divergências e envolvem princípios" importantes. "Cada país tem seus princípios importantes, e não faremos concessões em questões de princípios".

o negociador destacou "três pontos de divergência": a retirada das tarifas punitivas em caso de acordo, como deseja Pequim; sobre a quantidade de produtos americanos que a China deve comprometer-se a comprar para reduzir o enorme desequilíbrio comercial; e o "equilíbrio" no texto final de qualquer pacto.

A disputa incomoda e provoca angústia em muitas empresas e produtores dos Estados Unidos, que se consideram vítimas de uma guerra que também afeta os consumidores, que deverão pagar mais caro por seus produtos.

A partir de meia-noite quinta-feira para sexta-feira, Washington ampliou as tarifas sobre US$ 200 bilhões em importações da China de 10% para 25%. Pequim respondeu prometendo tomar as "contra-medidas necessárias".

O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e Lighthizer se reuniram com Liu por duas horas na sexta, e então foram à Casa Branca informar Trump. O presidente americano tinha dito que não estava com pressa de fechar um acordo, porque, segundo ele, os EUA estão em posição de vantagem.

- Vários meses -Cumprir a ordem de Trump demorará meses. O procedimento para taxar os produtos no valor de quase 300 bilhões de dólares que faltam deve necessariamente ser precedido por notificações públicas, além da abertura de um período de consultas aos envolvidos, com a divulgação dos comentários.

A determinação de Trump é outra forma de elevar ao máximo a pressão para que a China atenda suas demandas para acabar com os grandes subsídios e as práticas que Washington consideram uma distorção do comércio, ao que o governo americano atribui o grande déficit comercial bilateral.

Trump iniciou a disputa por causa de reclamações sobre práticas comerciais chinesas injustas. Os Estados Unidos pressionam a China para mudar suas políticas de proteção à propriedade intelectual, assim como subsídios para as empresas estatais.

Washington impôs em março de 2018 tarifas sobre o aço e o alumínio produzidos na China. Em seguida, fixou taxas de 25% sobre bens chineses totalizando 50 bilhões de dólares, e posteriormente, tarifas de 10% sobre outros produtos abrangendo 200 bilhões de dólares.

Na sexta-feira, as tarifas de 10% foram elevadas para 25%.

Depois de semanas de crescente otimismo sobre as chances de um acordo, o tom da Casa Branca mudou da raiva para indiferença.

Em 5 de maio, Trump irrompeu no Twitter, dizendo que as negociações estavam progredindo "muito devagar", acusando os chineses de recuar dos compromissos e anunciar o aumento das tarifas.

Mas em uma série de tuítes nesta sexta-feira, ele disse que "não há necessidade de pressa".

A Bloomberg citou duas fontes dizendo que Washington deu a Pequim de três a quatro semanas a mais para chegar a um acordo antes que o governo Trump avance para ameaçar impor tarifas a todas as importações chinesas.

O presidente dos EUA continua a argumentar que as tarifas poderiam, de certa forma, ser preferíveis a um acordo comercial. "As tarifas trarão muito mais riqueza para o nosso país do que até mesmo um acordo fenomenal do tipo tradicional", escreveu Trump.

Economistas enfatizam que as tarifas são pagas pelas empresas e consumidores norte-americanos e resultam em preços mais altos, enquanto agricultores e fabricantes reclamam da perda de mercados para suas exportações devido à retaliação da China.