Qual o futuro do governo de Fernández na Argentina?
Buenos Aires, 9 dez 2019 (AFP) - O peronista de centro-esquerda Alberto Fernández assume nesta terça-feira (10) a Presidência da Argentina, um país que enfrenta uma recessão desde 2018 e sob pressão dos mercados.
Com um proposta antagônica às políticas liberais do governo de Mauricio Macri, o novo presidente revela somente algumas ideias, sem adiantar os nomes da sua equipe.
Um mês antes da posse, veja o que se sabe sobre Fernández no governo:
- Política internacional -Com uma imagem de político moderado, Fernández promove a ideia de "eixo progressista" para a América Latina. Durante a campanha eleitoral, visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão e após sua eleição não hesitou em aderir ao "Lula livre". O presidente Jair Bolsonaro, que pediu abertamente aos argentinos que votassem em Macri, anunciou que não comparecerá à posse.
No entanto, a relação Brasil-Argentina, parceiros no Mercosul, é muito importante para ser rompida. "Haverá uma aproximação pragmática", garantiu um dos principais assessores de Fernández.
Fernández afirma que Lula, o ex-presidente equatoriano Rafael Correa, e a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, agora sua vice-presidente, são vítimas de "um sistema judicial que se articulou para perseguir os líderes populares".
Ele evita se referir à situação da Venezuela, embora tenha declarado que não considera Nicolás Maduro um ditador. Ele afirma que, como o México e o Uruguai, promoverá o diálogo interno para superar a grave crise do país.
Também não menciona Cuba, mas expressou seu desejo de estreitar os laços com a Nicarágua de Daniel Ortega e Rosario Murillo.
A Donald Trump ofereceu "uma relação madura e cordial" e lembrou que a "Argentina precisa de ajuda".
Para sua primeira visita como presidente eleito, Fernández escolheu o México.
- Economia -"O 10 de dezembro não é uma data mágica", advertiu Fernández, consciente das expectativas de um eleitorado que votou agoniado pelos problemas econômicos, com uma perspectiva de terminar o ano com inflação em torno de 55%, desemprego de 10,4% e pobreza de quase 40%.
Com os mercados fechados, a Argentina conseguiu em 2018 um empréstimo de 57 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional.
Já como presidente eleito, Alberto Fernández anunciou que desistiria de receber cerca de 11 bilhões de dólares restantes do crédito concedido pelo FMI.
A dívida com o Fundo é de 44 bilhões de dólares recebidos desde 2018 que, somados com os detentores de bônus, totaliza US$ 315 bilhões.
Fernández garante que não declarará a moratória, mas também diz que o pagamento da dívida não será feito às custas do sacrifício dos argentinos.
Pessoas próximas a Fernández indicam que ele tentará reforçar a relação com a China, país que durante o governo de Cristina Kirchner (2007-2015) fez importantes investimentos no país e concedeu um crédito swap.
Ele também convocou empresários argentinos a investirem para que a economia acelere. Aos sindicatos e movimentos sociais pediu uma trégua de 180 dias.
Para o analista Matías Carugati, a economia é seu principal desafio. "Alberto Fernández foi eleito para que a economia volte a crescer. A Argentina está estagnada desde 2011 e já estamos há dois anos em recessão.
"Se fala muito de um pacto de preços e salários entre os distintos setores: Estado, empresas, sindicatos e organizações sociais. Pode ajudar, mas obviamente isso deve ser acompanhado por uma política econômica consistente", disse Carugati.
Se dá como certo que ele manterá o controle cambial e de capitais. E prometeu conter o aumento nas tarifas de serviços públicos.
- Atacar a pobreza -Fernández se comprometeu a atacar a pobreza e o presidente eleito elencou essa tarefa como um imperativo moral.
"Temos que ter vergonha. Dizemos ser país que produz alimentos para 400 milhões de pessoas e não podemos alimentar 15 milhões de pessoas que estão em situação de pobreza", lamentou Fernández.
Para isso, propõe um pacto que permita reduzir os preços da cesta básica e pede que produtores de alimentos façam doações.
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