Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Dólar dispara após corte nos juros

07/05/2020 20h11

São Paulo, 7 Mai 2020 (AFP) - O dólar sofreu uma acentuada valorização em relação ao real na quarta-feira, como resultado do corte mais alto do que o esperado na taxa básica de juros decidida pelo Banco Central do Brasil (BCB) para enfrentar a pandemia de coronavírus.

No final da tarde, o dólar fechou em 5,83 reais, acima dos 5,70 da terça-feira. Durante o dia, chegou a 5,87 reais.

Ao longo deste ano, a moeda brasileira, negociada a 4,01 reais no final de dezembro, teve uma desvalorização de 45%.

Analistas atribuíram o comportamento da taxa de câmbio nesta quinta-feira ao corte de 0,75 ponto percentual da taxa de referência Selic, a 3,25%, anunciado pelo Banco Central do Brasil (BCB) na quarta-feira.

A magnitude do corte, que levou a Selic a um novo recorde, surpreendeu os mercados, que apostavam em uma redução de 0,5 ponto percentual.

O BCB argumentou que a situação econômica causada pelo coronavírus exige um estímulo monetário extraordinariamente alto. A instituição também anunciou que avalia um corte de mesma magnitude na sua próxima reunião em junho.

Em seu comunicado, o Comitê de Política Monetária do BCB (Copom) revelou que dois dos oito diretores que participaram da reunião propuseram um corte ainda maior.

As projeções de um corte de 0,75 ponto perderam força devido às tensões políticas que surgiram com as acusações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, por supostas tentativas de interferir nas investigações policiais.

Temia-se, ainda, que taxas baixas demais acentuassem a depreciação do real em relação ao dólar, com potencial inflacionário e impacto no preço das importações.

"Somos uma economia relativamente fechada, porém com uma indústria muito baseada em matérias-primas e intermediária importada em vários setores", explicou a consultoria Infinity Assets na quarta-feira.

Para Daniela Casabona, sócia-diretora da FB Wealth, "o Copom alertou que situações extraordinárias pedem medidas extraordinárias". Mas sua decisão "dividiu o mercado em função do cenário doméstico atual, em que o real perde grande valor e a economia está paralisada pelo isolamento" para combater a pandemia, acrescentou.

André Perfeito, do Necton, considerou que "a queda dos juros não irá surtir efeito desejado [de incentivar o investimento e o consumo] e ainda poderá estressar ainda mais o dólar".

Em março, a produção industrial no Brasil caiu 9,1% em relação a fevereiro, em um país que já tem quase 13 milhões de desempregados.

Para 2020, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma contração de 5,3% do PIB brasileiro.

O Brasil é o país mais afetado na América Latina pela pandemia, que já deixa mais de 8.500 mortos sem atingir seu pico, esperado entre este mês e junho.

js/pr/mr/cc/mvv