FMI: pandemia pode 'reavivar tensões sociais' na América Latina
O Fundo Monetário Internacional advertiu hoje que a pandemia da covid-19 ameaça "reavivar as tensões sociais" na América Latina e no Caribe, onde a agência prevê para 2020 a pior contração econômica já registrada (-9,4%).
"Os riscos permanecem altos. A pandemia pode piorar e durar mais, deprimindo a atividade econômica, acentuando os balanços corporativos, aumentando a pobreza e a desigualdade e reavivando as tensões sociais em toda a região", disse Alejandro Werner, diretor para as Américas do FMI, em uma publicação no blog da organização multilateral.
A América Latina e o Caribe, cujo primeiro caso relatado do novo coronavírus foi notificado pelo Brasil em 26 de fevereiro, representam atualmente cerca de 25% do total de infecções no mundo, com mais de 105.700 mortes.
Enquanto muitos países avaliam o reinício da atividade econômica, em grande parte paralisada desde meados de março, Werner pediu cautela, lembrando os altos níveis de informalidade que caracterizam a região, o que pode gerar novos surtos da covid-19 difíceis de conter com a infraestrutura de saúde pública existentes para rastrear os contágios.
"Os países devem ser muito cautelosos ao considerar reabrir suas economias e permitir que a ciência e os dados guiem o processo", enfatizou Werner.
Ele observou que, após um crescimento pior do que o esperado no primeiro trimestre para a maioria dos países, a rápida disseminação do vírus poderá forçar medidas de distanciamento físico prolongadas, deprimindo ainda mais a atividade econômica no segundo semestre de 2020.
O FMI já havia antecipado em abril que as dificuldades econômicas causadas pela pandemia corriam o risco de alimentar explosões sociais como as que abalaram o Equador, o Haiti e o Chile no ano passado.
"Proteger vidas"
O FMI prevê quedas generalizadas do PIB nos principais países e regiões na última atualização do seu "World Economic Outlook" (WEO).
Depois da Venezuela, para onde o FMI prevê uma contração de 20%, as quedas mais acentuadas, segundo o organismo, ocorrerão no Peru (-14%) e no México (-10,5%), seguidas por Argentina (-9,9%), Brasil (-9,1%), Colômbia (-7,8), Chile (-7,5%) e o bloco que compõe a América Central, Panamá e República Dominicana (-5,9%).
No México, a segunda economia latino-americana depois do Brasil, Werner observou que as consequências do surto "são agravadas" por vários fatores: queda nos preços do petróleo, volatilidade dos mercados financeiros internacionais, interrupções nas cadeias de valor globais e enfraquecimento da confiança empresarial, bem como uma redução no investimento pré-pandêmico.
Diante dessa situação, ele aconselhou um aumento nos gastos "para proteger vidas".
"A resposta fiscal é a menor entre os países do G20, correndo o risco de uma contração mais profunda e uma recuperação mais lenta com cicatrizes econômicas significativas. O México deve aumentar os gastos agora para proteger vidas e meios de subsistência", recomendou.
No caso do Peru, Werner afirmou que a previsão de crescimento para 2020 foi fortemente revisada para baixo, em -14%, por uma demanda externa mais fraca e um período de confinamento mais longo do que o esperado (...), além de grande perda de empregos.
A Colômbia se dirige para sua primeira recessão em duas décadas, segundo o FMI.
"A Colômbia tomou medidas precoces para limitar a propagação do vírus, mas os transtornos econômicos associados à pandemia (incluindo preços mais baixos do petróleo) devem levar à primeira recessão em duas décadas", prevê Werner.
O FMI espera "uma pequena recuperação" de 3,7% em 2021.
Werner disse que também pode haver "surpresas", como um crescimento global acima do esperado, que impulsionará as exportações, os preços das commodities e o turismo.
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