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Trump impulsiona ajuda econômica por setores após romper diálogo com democratas

O presidente Donald Trump - REUTERS/Jonathan
O presidente Donald Trump Imagem: REUTERS/Jonathan

07/10/2020 18h09

Em meio a uma tempestade de críticas sobre a possibilidade de adiamento de um novo pacote de ajuda econômica em meio à pandemia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai ficando para trás nas pesquisas com vistas às eleições de novembro e baixa seu tom de confronto a fim de obter ajuda específica para alguns setores da economia.

Trump interrompeu abruptamente as negociações com a oposição democrata sobre um novo plano de ajuda para mitigar o impacto da pandemia hoje.

As críticas se multiplicaram, mesmo por parte do campo conservador e da poderosa Câmara de Comércio dos Estados Unidos, enquanto Wall Street reagiu com um revés, que levou o presidente a abrir as portas para medidas específicas, principalmente para companhias aéreas, e cheques diretos aos trabalhadores.

A virada de chave permite que Trump argumente que está lutando pelas empresas e trabalhadores americanos, contra os democratas que preferem um pacote de ajuda que inclui estados e governos locais.

A líder da maioria democrata na Câmara de Representantes (baixa), Nancy Pelosi, disse que Trump tenta recuperar terreno após o "terrível erro" que cometeu ao suspender as negociações - que ela mesma liderou para a oposição - com o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.

O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, acusou Trump de "virar as costas" aos trabalhadores.

"O fracasso de Washington (ndr: do sistema político) em aprovar uma nova ajuda humanitária para a covid-19 será sentido nas ruas e nas mesas das famílias em todos os Estados Unidos", disse o vice-presidente da Câmara de Comércio, Neil Bradley, em um comunicado.

Tanto os economistas quanto o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacaram que um novo pacote de ajuda, além dos 2,2 trilhões já concedidos desde março, é fundamental para impulsionar a recuperação de uma economia atingida pelo coronavírus.

- Ajuda setorial ou global - "Não acho que o renascimento dependa de um grande programa de ajuda", disse Larry Kudlow, o assessor econômico da Casa Branca, em entrevista à CNBC.

Mas "há várias medidas que consideramos que podem ser de grande ajuda para setores específicos da economia", acrescentou, citando a extensão do programa de crédito para pequenas empresas ou subsídios para as companhias aéreas pagarem salários.

Trump adotou um tom mais conciliador na noite de terça-feira, garantindo no Twitter que ratificaria imediatamente qualquer texto da lei que preveja cheques de 1.200 dólares para famílias americanas e 135 bilhões para pequenas empresas, dois elementos que já estavam incluídos nas negociações bipartidárias.

Ele também pediu ao Congresso que "aprove IMEDIATAMENTE" 25 bilhões de dólares em ajuda às companhias aéreas, que iniciaram demissões em massa em 1º de outubro.

Para o presidente, as posições de republicanos e democratas são "muito distantes" e a apenas quatro semanas das eleições presidenciais de 3 de novembro não há "tempo suficiente" para chegar a um acordo, disse Kudlow.

- Movimentos políticos -O governo Trump e os democratas do Congresso lutaram por dois meses para chegar a um acordo sobre um novo plano de ajuda para os 12,6 milhões de americanos desempregados e famílias de baixa renda, bem como para empresas devastadas pela pandemia.

Bradley observou que o fracasso em chegar a um acordo é especialmente decepcionante porque os dois lados pareciam estar próximos de um acordo.

A Airlines for America, organização que representa o setor da aviação, também se disse "decepcionada" com a incapacidade dos atores políticos de chegarem a um acordo sobre um texto que "teria salvado dezenas de milhares de empregos altamente qualificados".

Certos setores gravemente afetados, como turismo e companhias aéreas, já anunciaram demissões em massa: 19.000 trabalhadores na American Airlines, 13.000 na United e 28.000 nos parques temáticos da Disney.

Nos últimos dias, o otimismo sobre as negociações Pelosi-Mnuchin impulsionou a Bolsa de Valores de Nova York, uma das métricas favoritas de Trump para medir o sucesso de sua gestão.

Os dois falaram sobre o assunto nesta quarta-feira.

Na terça-feira, Trump acusou Pelosi de querer "resgatar os estados democratas dominados pelo crime e mal administrados" e de não negociar "de boa fé".

Os governos estaduais e locais são especialmente vulneráveis, uma vez que não possuem as ferramentas para lidar com os déficits e, sem ajuda, muitos empregos públicos - mesmo alguns essenciais que dependem dessas administrações - estão em risco.

Os primeiros estímulos à economia após a eclosão da pandemia amenizaram o impacto em uma economia que se fechou para tentar conter o contágio do coronavírus, e as empresas americanas já recontrataram cerca de metade dos 20 milhões de trabalhadores despedidos no início de a crise. Mas as contratações estão diminuindo e as dispensas em algumas linhas de negócios estão aumentando.