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Trump suspende diálogo com democratas por plano de ajuda até depois das eleições

07/10/2020 06h00

Washington, 7 Out 2020 (AFP) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira a suspensão abrupta das conversas com os democratas sobre um novo plano de ajuda para reduzir os impactos da pandemia de covid-19, antede de deixar uma porta aberta para medidas específicas.

"Dei instruções aos meus representantes para que parem de negociar até depois das eleições" de 3 de novembro, tuitou o presidente americano, acusando a interlocutora do governo, a presidente da Câmara de Representantes e líder democrata, Nancy Pelosi, de não negociar "de boa fé".

"Imediatamente depois que vencer, aprovaremos um importante projeto de lei de estímulo, que se centra nos trabalhadores americanos e nas pequenas empresas", prometeu o mandatário republicano, na disputa por um segundo mandato de quatro anos.

Pelosi reagiu com críticas a Donald Trump e à "completa desordem" na Casa Branca.

"Hoje, mais uma vez, o presidente Trump demonstrou sua verdadeira face: colocando-se em primeiro lugar às custas do país, com a total cumplicidade dos Membros do Congresso republicanos", disse a presidente da Câmara de Representantes, depois do tuíte de Trump.

"Claramente, a Casa Branca está em total desordem", continuou Pelosi, acrescentando que Trump está ignorando os alertas do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de que um apoio mínimo resultaria em uma recuperação frágil, com privações desnecessárias para milhões de lares e negócios americanos.

O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, acusou o presidente Donald Trump de "dar as costas" aos americanos, ao encerrar as negociações de um novo pacote de ajuda.

"Deu as costas às famílias que lutam para pagar o aluguel, pôr comida na mesa e cuidar dos seus filhos", disse Biden em um comunicado publicado depois de Trump congelar as negociações com os democratas, afirmando que negociam de má fé.

O tuíte de Trump derrubou a Bolsa de Nova York, que fechou em baixa após a suspensão das negociações do pacote de ajuda econômica.

Um novo impulso orçamentário nos Estados Unidos é considerado crucial pelos especialistas para que a primeira economia do mundo erga a cabeça, depois de ter ficado de joelhos durante a pandemia de covid-19, que paralisou diversos setores.

A ausência de um plano de ajuda significa que muitas pessoas e empresas - como hotéis, companhias aéreas, bares e restaurantes - enfrentarão dificuldades financeiras nas próximas semanas. Nos EUA, o seguro-desemprego não é pago por mais de seis meses.

O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, acusou Trump de "dar-lhes as costas".

"Não se enganem: se você perdeu o emprego, se sua empresa fechou, se a escola do seu filho fechou, se vê demissões em sua comunidade, Donald Trump decidiu hoje que nada disso lhe importa", acrescentou em um comunicado.

Certos setores gravemente afetados, como turismo e transporte aéreo, já anunciaram demissões em massa: 19.000 funcionários da American Airlines, 13.000 na United e 28.000 dos parques temáticos da Disney.

A Arlines for America, organização que representa o setor aéreo, se disse "decepcionada" com a incapacidade dos atores políticos para entrar em acordo em um texto que "teria salvo dezenas de milhares de empregos altamente qualificados".

- "Sofrimento desnecessário" -Mas Trump adotou um tom mais conciliatório durante a noite, ao afirmar no Twitter que ratificaria imediatamente qualquer texto de lei com a previsão de cheques de 1.200 dólares para as famílias americanas e 135 bilhões de dólares para as pequenas empresas, dois elementos que já constavam nas negociações.

Também pediu ao Congresso para "aprovar IMEDIATAMENTE" uma ajuda de 25 bilhões de dólares para as companhias aéreas.

O governo Trump e os democratas do Congresso estiveram negociando por mais de dois meses um novo plano de ajuda para os 12,6 milhões de americanos desempregados e os lares com menor renda, assim como para empresas devastadas pela pandemia.

As medidas adotadas no fim de março, como parte do gigantesco plano de apoio de 2,2 trilhões de dólares, logo ampliado em US$ 500 bilhões, expiram gradativamente.

Depois de várias semanas de estagnação, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e Pelosi haviam retomado as negociações.

Ambos falaram rapidamente pouco após o anúncio de Trump, disse um porta-voz de Pelosi, acrescentando que Mnuchin aproveitou para confirmar o fim das negociações.

"Mais uma vez, o presidente Trump mostrou a verdadeira face: colocar-se em primeiro lugar às custas do país, com a total cumplicidade dos legisladores republicanos", disse Pelosi, em um comunicado.

Mas as diferenças entre republicanos e democratas continuavam muito grandes e o montante total do novo pacote era particularmente problemático. Os democratas inicialmente pediam US$ 3 trilhões, mas no transcurso das discussões, acordaram baixá-lo a US$ 2,2 trilhões.

Trump acusou Pelosi de querer "resgatar os estados democratas com alto nível de criminalidade e mal administrados".

"Fizemos uma oferta muito generosa de 1,6 trilhão de dólares e, como é habitual, ela não está negociando de boa fé", disse o presidente.

O governo Trump ofereceu inicialmente US$ 1 trilhão.

Junto a outros economistas, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, havia alertado mais cedo nesta terça-feira sobre as consequências desastrosas para a economia caso não houvesse uma nova ajuda pública.

"Uma ajuda muito fraca pode levar a uma recuperação mais frágil, criando sofrimento desnecessário para famílias e empresas", declarou o diretor do Fed, em discurso virtual feito por videoconferência na reunião anual da Associação Nacional de Economia Empresarial (NABE, em inglês).

"Com o tempo, as dívidas das famílias e falências de empresas aumentariam, prejudicando a capacidade produtiva da economia e desacelerando o crescimento dos salários", alertou, em tom alarmista.

O presidente do Fed, que se abstém de qualquer apoio partidário, foi nomeado para o cargo por Trump.

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