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Brasil sai da recessão, mas não do panorama das incertezas econômicas

03/12/2020 15h27

Rio de Janeiro, 3 dez 2020 (AFP) - A economia brasileira saiu formalmente da recessão no terceiro trimestre, com crescimento de 7,7% frente ao segundo, embora seu futuro esteja rodeado de incertezas por causa do fim próximo dos subsídios que visavam mitigar o impacto da pandemia do coronavírus no país.

"Este é um momento em que acumulamos mais perguntas do que respostas", admite o economista Jason Vieira, da Infinity Assets.

O resultado divulgado pelo IBGE é inferior à expectativa média de crescimento de 8,8% dos especialistas consultados pelo jornal Valor e não compensa as perdas do ano, que marcam uma retração de 5% em relação ao mesmo período de 2019.

Frente ao terceiro trimestre de 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) da maior economia da América Latina contraiu-se 3,9%.

O país havia entrado em recessão técnica após dois trimestres consecutivos de contração econômica (-1,5% no primeiro trimestre e -9,6% no segundo, segundo dados corrigidos para cima nesta quinta-feira).

O ministro da Economia, Paulo Guedes, no entanto, se mostra otimista e antecipa uma recuperação "em V", ou seja, da mesma velocidade e intensidade da queda.

"Houve revisões em trimestres anteriores, com crescimento um pouco para cima, então veio um pouquinho abaixo do esperado. Mas o fato é que a economia está voltando em V, realmente está voltando", afirmou Guedes em Brasília.

O principal motor do terceiro trimestre em relação ao segundo foi a indústria (+ 14,8%), seguida dos serviços (+ 6,3%), enquanto a agropecuária registrou queda de 0,5%.

O destaque ficou com a indústria de transformação (+ 23,7%), "até pelo fato de ter caído bastante no segundo trimestre (-19,1%), com as restrições de funcionamento" para reduzir os casos, explicou a coordenadora das Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

A economia brasileira se sustenta desde abril por causa dos subsídios concedidos a mais de 67 milhões de habitantes (um terço da população) como enfrentamento ao impacto da pandemia que já deixou mais de 174 mil mortos no país, o segundo mais atingido pela a doença no mundo.

Essas transferências de dinheiro compensaram parcialmente as perdas de empregos, mas exacerbaram os déficits e a dívida pública.

Em setembro, o valor inicial, R$ 600 por mês, foi cortado pela metade e corre o risco de ser eliminado a partir de janeiro.

A ajuda aumentou a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, que agora está dividido entre a pressão dos mercados para cumprir suas promessas eleitorais de ajustes e seus planos de reeleição em 2022.

O governo projeta para este ano uma contração do PIB de 4,5% e um crescimento de 3,2% em 2021.

Menos otimista, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa na quarta-feira uma queda de 5,8% no PIB brasileiro em 2020 e uma alta de 2,8% no próximo ano.

- Consumo fraco -Pelo lado da demanda, houve aumento de 11% nos investimentos na comparação trimestral e de 7,6% no consumo das famílias. Este último número está bem abaixo do projetado pelos analistas consultados pelo Valor, que era de um aumento de 9,8%.

Segundo André Perfeito, da consultoria Necton, o PIB do terceiro trimestre "derrapa provavelmente na esteira do fim dos estímulos".

O FMI destacou que é necessário que o país respeite a regra do teto de gastos (que impede o aumento de orçamentos acima da inflação anual), mas instou as autoridades a "estarem prontas para dar um apoio específico adicional" à população, em um momento em que que há um surto da pandemia.

Jason Vieira, da Infinity, destaca a "contribuição positiva" dos investimentos, que devem manter as projeções de mercado para este ano semelhantes às do governo.

Porém, ele admite, os imponderáveis predominam.

"É um momento de incerteza, em que acumulamos mais perguntas do que respostas. Não sabemos se haverá pacote ou qual tamanho, ou se vai passar alguma reforma com impacto macro que possa compensar a redução dos auxílios", diz.

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