BC do Brasil manterá taxa de juros apesar do aumento de preços, estimam analistas
Rio de Janeiro, 8 dez 2020 (AFP) - O Banco Central do Brasil (BCB) manterá a taxa básica de juros no mínimo histórico de 2% nesta quarta-feira (9), estimam analistas, mais preocupados com o impacto inflacionário dos desequilíbrios fiscais do que com a disparada dos preços dos alimentos em meio à pandemia.
"Precisamos sair do ruído do curto prazo e entender em termos estruturais o que está acontecendo", disse o presidente do BCB, Roberto Campos Neto, no mês passado.
Os mercados irão, portanto, revisar o que o BCB diz sobre sua política adotada em agosto (de 'forward guidance' ou 'prescrição futura'), que, em vez de movimentos bruscos de preços, atenta sobretudo para a convergência a médio prazo das expectativas do mercado com as metas oficiais para inflação.
A alta nos preços em novembro frente a outubro foi de 0,89%, a maior registrada para aquele mês desde 2015, e no acumulado em 12 meses chega a 4,31%.
Em março e abril, primeiros meses da pandemia no Brasil, os preços caíram, mas nos últimos três meses a inflação acelerou, puxada pela demanda interna e externa por alimentos. Em novembro, o grupo alimentação e bebidas apresentou alta de preços de 2,54%, com as carnes subindo 6,54% e o arroz 6,28%.
As projeções dos mercados sobre a inflação em 2020 subiram por 17 semanas e atualmente estão em 4,21%, também impulsionadas pela mudança na conta de luz da bandeira verde para a vermelha. A tarifa reduzida estava em vigor desde maio para enfrentar uma pandemia que já matou mais de 170.000 brasileiros.
Mas essa previsão, superior ao centro da meta oficial de 4%, ainda está dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual do BC.
Para 2021, quando o centro da meta se estreita para 3,75%, a projeção de inflação dos mercados é de 3,34%, o que conforta a nova política do BC.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, a alta dos preços "representa um choque temporário em uma economia que precisa manter uma política de estímulo".
O dilema do governo
O governo do presidente Jair Bolsonaro se depara com uma equação inédita: como evitar que milhões de brasileiros que dependem de ajuda emergencial caiam na fome, sem perder a confiança dos mercados, alarmados com o aumento da dívida pública e do atraso das reformas prometidas?
Esses auxílios emergenciais, concedidos desde abril para amenizar os efeitos da pandemia, representam 8,6% do PIB e devem ter fim em janeiro.
"Um ajuste fiscal a curto prazo seria uma inumanidade", ressalta Margarida Gutierrez, professora de macroeconomia do Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Mas o risco inflacionário que vem do risco fiscal é real. A mecânica da inflação, quando vem pelo risco fiscal, é via cambio, não via demanda", explica Gutierrez, referindo-se à forte desvalorização do inflação nos últimos meses.
O Congresso deve votar algumas das reformas propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, mandando "um sinal aos investidores que a gente vai ter que gastar um pouco mais, mas que estamos atuando e que no médio e longo prazo teremos restrições fiscais", acrescentou Gutierrez.
Esses sinais, concordam os especialistas, serão cada vez mais difíceis de enviar à medida que se aproximam as eleições de 2022, nas quais Bolsonaro espera ser reeleito.
O BCB está "refém da política fiscal, e não controla esses rumos", sinaliza Gutierrez, que descarta que um colapso da demanda por conta do fim dos auxílios reduza automaticamente a inflação.
"Existem outros fatores que o impulsionam, como a demanda internacional por commodities agrícolas ou a taxa de câmbio", explica, lembrando que 2015 foi um ano em que o Brasil experimentou uma contração econômica de 3,5% e inflação de 10,68%.
A previsão oficial para 2020 é de uma retração de 4,5% do PIB.
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