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Consequências do Brexit começam a ser sentidas na Europa

06/01/2021 15h27

Paris, 6 Jan 2021 (AFP) - Prateleiras vazias em um famoso supermercado britânico em Paris, ingleses sem acesso às suas séries preferidas na Espanha, complicações fiscais...

Os problemas no fluxo de bens e serviços começam a ser sentidos alguns dias após o Brexit.

- Problemas de abastecimento - O acordo concluído entre Londres e Bruxelas não prevê taxas ou impostos alfandegários, mas acabou com a livre circulação de bens entre os países da União Europeia (UE) e do Reino Unido, exceto entre Espanha e Gibraltar, e entre Irlanda do Norte e República da Irlanda.

Com as novas formalidades, as complicações do acordo começam a ser sentidas. Na sexta-feira passada, por exemplo, seis cargas foram rejeitadas no porto de Holyhead, no País de Gales, porque aparentemente não estavam de acordo com a regra.

A Irlanda do Norte possui disposições alfandegárias específicas. No entanto, os produtos agroalimentares que chegam do Reino Unido exigem novas formalidades e controles, o que parece causar alguns problemas.

"Alguns de nossos produtos não estão disponíveis temporariamente para nossos clientes na Irlanda do Norte, no aguardo da confirmação dos acordos transfronteiriços", declarou um porta-voz da rede de supermercados Sainsbury's. "Estamos trabalhando para voltar logo à nossa oferta completa habitual".

Na França, foram notados problemas no fornecimento de alimentos nas icônicas lojas britânicas Marks & Spencer na terça-feira devido às novas regras de exportação entre Reino Unido e UE.

- IVA complica os envios - Alguns varejistas europeus também enfrentam dificuldades para comercializar seus produtos no Reino Unido devido a uma mudança nas normas do IVA.

Com o início do Brexit em 1º de janeiro de 2021, são exigidas declarações alfandegárias para todos os pacotes que transitam entre Reino Unido e UE. Os bens enviados estão sujeitos ao IVA. Além disso, para os bens enviados pelos comerciantes diretamente aos consumidores no Reino Unido, com valor inferior a 135 libras esterlinas (183 dólares), o remetente deve pagar o IVA britânico. Acima desse valor, quem paga é o destinatário.

Sendo assim, muitos comerciantes precisam revisar seus procedimentos e as transportadoras repercutem os novos custos. Por exemplo, a especialista em envios DHL cobra agora uma "sobretaxa Brexit" de 0,25 euro por quilo de mercadoria enviada.

"Em nível europeu, contratamos 1.000 pessoas a mais para lidar com as formalidades relacionadas ao Brexit, o que é bastante significativo", disse à AFP Philippe Prétat, responsável do DHL França.

- "Streaming" limitado - Outro problema que surgiu é que os ingleses que viajam para países da UE, ou que por exemplo tenham uma segunda residência onde passam o inverno, como é geralmente o caso na Espanha, não podem mais continuar assistindo suas séries favoritas no "streaming".

Assinantes dos serviços da Amazon Prime e dos canais do grupo Sky TV tinham, até agora, acesso aos seus programas quando viajavam dentro da UE, devido às regras europeias que estabelecem um mercado digital único.

- Duty free? - No entanto, algumas personas preferem ver o copo meio cheio.

Na Itália, por exemplo, não foi observada até agora nenhuma complicação comercial. Para Marcello Minenna, diretor-geral da Agência de Alfândega e Monopólios, o Brexit pode, inclusive, "ser uma oportunidade para tornar o sistema alfandegário italiano ainda mais eficaz".

Já a prefeita da cidade de Calais (extremo norte da França), Natacha Bouchart, deseja estabelecer um sistema de "duty free" em toda a "cidade fronteiriça" para apoiar as empresas e atrair novos visitantes.

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