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Apesar da pandemia, Brasil vive boom em exportações agrícolas

A soja é o principal produto do comércio externo brasileiro e teve alta de 9,5% em valor e 12% em volume de exportação - Paulo Whitaker
A soja é o principal produto do comércio externo brasileiro e teve alta de 9,5% em valor e 12% em volume de exportação Imagem: Paulo Whitaker

08/01/2021 09h36Atualizada em 08/01/2021 10h32

Rio de Janeiro, 8 Jan 2021 (AFP) - A pandemia do coronavírus reduziu as exportações do Brasil em 6,15% em 2020, mas as vendas do poderoso setor do agronegócio estão em alta e podem continuar a crescer, graças principalmente à demanda da China, o maior cliente do país.

As exportações agrícolas brasileiras aumentaram 6% no ano passado, somando 45,3 bilhões de dólares (um quinto do total das vendas ao exterior), um pouco abaixo do recorde alcançado em 2018 (US$ 45,7 bilhões), segundo dados preliminares do Ministério da Economia.

Mas o faturamento externo do agronegócio, que inclui produtos agrícolas, agroalimentares e transportes, chegou a 93,6 bilhões de dólares (+ 4,9%) entre janeiro e novembro, um número inédito desde 2013, informou a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

"Esse nível de exportações foi surpreendente em um ano tão desafiador" como o de 2020, explica o analista Felipe Novaes, da consultoria Tendências.

O principal fator favorável "foi a taxa de câmbio", pois a desvalorização do real frente ao dólar, de pouco mais de 20% no ano passado, "conferiu bastante competitividade aos produtos brasileiros", acrescentou.

Apetite chinês

A China, maior cliente do Brasil, que absorve um terço de suas exportações agrícolas, aumentou ligeiramente suas compras de soja para 73% do total das exportações brasileiras do grão.

"A pandemia não mexeu na demanda da China, que deu mais importância à segurança alimentar e aos estoques" observou o analista Luiz Fernando Gutierrez, da Safras e Mercado.

As compras de soja dos Estados Unidos estão gradualmente "voltando à normalidade", mas o Brasil manterá a primeira posição como fornecedor para a China, acrescentou.

A demanda chinesa por oleaginosas brasileiras "está garantida no longo prazo", concordou o economista Gustavo Arruda, do BNP Paribas de São Paulo.

O país asiático - depois que a gripe suína dizimou sua produção - "está reconstruindo sua produção de suínos de forma organizada e industrial" e "precisará de mais grãos" de soja.

Brasil, importador de soja

As exportações de soja, o principal produto do comércio externo brasileiro, aumentaram no ano passado 9,5% em valor e 12% em volume. O gigante latino-americano, apesar de uma produção recorde, sofreu escassez de grãos e teve que importar 800 mil toneladas, seis vezes mais que em 2019.

Essa situação gerou elevação nos preços dos insumos locais para a produção de frangos, suínos e bovinos, alimentados com farelo de soja, com o consequente aumento da inflação.

Ao reestruturar seu rebanho suíno, a China compra mais carne, principalmente cortes bovinos do Brasil (+ 50% em 2020).

Mas os produtos agropecuários brasileiros têm "menor grau de elaboração", por isso sua exportação representa uma "contribuição relativamente pequena para a economia, o PIB e o emprego", destaca a professora Marta Reis Castilho, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O processo de 'reprimarização' das exportações brasileiras, que começou por volta de 2005 e se acentuou em 2020, poderá se aprofundar ainda mais em 2021, afirma Lívio Ribeiro, especialista em economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

"O cenário com alta possibilidade é o aumento das vendas dos mesmos produtos agropecuários, com crescimento da participação da China", prevê.