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Bolsas mundiais estão em plena forma, apesar da crise sanitária

18/01/2021 09h27

Paris, 18 Jan 2021 (AFP) - Em uma economia mundial pressionada pela situação sanitária, as bolsas estão em ótimo estado, uma "desconexão" que não preocupa os financistas, mas alguns, sim, economistas, que a veem como o prenúncio de uma grande crise.

Da Europa à Ásia e aos Estados Unidos, os índices financeiros parecem imunes às más notícias que se acumulam neste início de ano, desde os planos de demissões em grandes empresas - Michelin, Accor, Ford, Air Canada - até as preocupações com novas variantes da covid-19.

Wall Street quebrou um novo recorde no início de janeiro, enquanto na Alemanha o Dax está sendo negociado em seu nível historicamente mais alto.

Ao mesmo tempo, o bitcoin ultrapassou a marca de 40.000 dólares pela primeira vez em sua história, e a valorização da Tesla atingiu um nível estratosférico de 800 bilhões de dólares.

O fato de a Tesla produzir menos de 500.000 carros elétricos por ano, muito atrás da Volkswagen e seus 9,3 milhões de veículos vendidos em 2020, não parece afetar os investidores.

A crise econômica também não desencorajou as IPOs, que quebraram todos os recordes de Wall Street, com mais de 400 em 2020.

"Em termos financeiros, não vemos uma bolha como tal", afirma o diretor-geral para a França da agência de classificação financeira Fitch, Aymeric Poizot.

"A desconexão entre Wall Street e Main Street [a economia real] não é um problema, desde que os bancos centrais intervenham", acrescenta.

A origem desse excesso de liquidez foi a decisão dos bancos centrais, em março de 2020, de aumentar seu apoio aos governos a um nível sem precedentes por meio da compra massiva de seus títulos.

Esta política, que o Banco Central Europeu (BCE) deverá renovar em sua reunião mensal de quinta-feira (21), teve o efeito de reduzir as taxas de juro a zero e, consequentemente, alimentar a subida das ações à medida que os investidores procuram investimentos rentáveis.

"Olhando para um grande número de indicadores, é difícil não ver uma certa discrepância entre os preços dos ativos de risco e as perspectivas econômicas", admitiu, porém, em dezembro passado, o chefe do departamento monetário e econômico do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Claudio Borio. Suas opiniões costumam ser amplamente ouvidas.

- "Orgia monetária" -O economista e professor da escola de negócios EM-Lyon, Pierre-Yves Gómez, acredita que "há uma bolha no setor de tecnologia".

Já o economista Thomas Piketty alerta há dez anos sobre os efeitos nocivos dessa "orgia de criação de dinheiro" que "contribui para o enriquecimento dos mais ricos", ao aumentar "os preços das ações e dos imóveis".

Em seu blog, Piketty lembra que a fortuna "dos 500 franceses mais ricos passou de 210 bilhões para 730 bilhões de euros (de 250 bilhões para 880 bilhões de dólares) entre 2010 e 2020" e conclui que "tal desenvolvimento é social e politicamente insustentável".

Laurence Boone, economista-chefe da OCDE, alerta sobre o risco do vício do dinheiro barato.

Depois da crise, "as pessoas vão se perguntar de onde vem todo esse dinheiro" e por que não se gasta mais no combate às mudanças climáticas, ou à desigualdade, alertou ele em entrevista ao Financial Times no início de janeiro.

"As avaliações são altas" nos mercados, reconhece Gilles Moec, economista-chefe da Axa Investment Managers, mas "isso é parte dos efeitos colaterais" do tratamento macroeconômico da crise e "lamentar isso não faz sentido".

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