Que futuro espera um Líbano em queda livre?
Beirute, 18 Mar 2021 (AFP) - A pior recessão econômica da história levou o Líbano ao precipício, com uma população desesperada, sem qualquer solução à vista, enquanto a classe política luta há sete meses para formar um novo governo.
Sem um Executivo totalmente operacional, capaz de aprovar reformas e fornecer os serviços essenciais, muitos consideram que a sobrevivência do país está em perigo.
- O que motiva a retomada dos protestos? A situação apenas piorou desde o início dos protestos em 2019 para denunciar uma classe política acusada de corrupção e incompetência.
As restrições provocadas pela pandemia de coronavírus em 2020 ajudaram a asfixiar a economia. Assim como a explosão devastadora de 4 de agosto no porto de Beirute, que provocou a renúncia do governo de Hassan Diab.
A moeda nacional, com taxa de câmbio fixada desde 1997 em 1.507 libras por dólar, perdeu 90% de seu valor no mercado paralelo. Na terça-feira, era negociada a 15.000 libras por dólar, o menor nível da história.
A desvalorização da moeda gera uma inflação galopante e acaba com o poder de compra de uma população submetida a restrições bancárias draconianas. A situação provocou uma nova onda de protestos em março, depois que a crise de saúde impediu temporariamente as manifestações no ano passado.
- Quais razões impedem a formação de um governo? Apesar da urgência, as exigências da comunidade internacional não foram suficientes para acabar com a letargia de uma classe política acostumada às longas negociações e desconectada da realidade.
Os principais partidos continuam envolvidos em negociações intermináveis, e cada campo não abre mão de suas reivindicações. O presidente Michel Aoun e o primeiro-ministro designado Saad Hariri trocam acusações sobre o bloqueio.
"Observando o comportamento das forças políticas e seus cálculos, não parece que vão mudar", afirma uma fonte diplomática árabe que se mostra pessimista e antecipa uma estagnação "que ainda pode durar meses".
Informações da imprensa indicam que Aoun e seu partido reclamam uma cota, o que o presidente nega.
"Cada lado tenta ver como garantir seus ganhos", resume o professor Nasser Yassin, da Universidade Americana de Beirute, que denuncia a "decadência das instituições públicas incapazes de cumprir suas prerrogativas básicas".
- A caminho de um "Estado falido"?Algumas autoridades parecem reconhecer que o Estado falhou em suas missões.
"A situação de segurança desabou", afirmou recentemente o ministro do Interior, Mohammad Fahmi, ao comentar o aumento da taxa de crimes.
"O Líbano pode ficar totalmente no escuro no fim do mês por falta de combustível", advertiu o ministro da Energia, Raymond Ghajar.
O titular da pasta da Educação, Tarek Majzoub, anunciou uma semana de suspensão das aulas para protestar contra a falta de financiamento e apoio logístico ao setor.
Até o comandante do Exército, Joseph Aoun, reclamou recentemente dos cortes orçamentários.
"Ainda não chegamos ao nível de 'Estado falido'", afirma Yassin. "Mas a capacidade de sobrevivência do Estado está diminuindo a cada dia".
- Alguma solução?Uma recuperação não é impossível, apesar das dificuldades, mas "o problema é que ainda não iniciamos um plano de resgate", recorda Yassin.
A comunidade internacional, com a França na liderança, condiciona a liberação de qualquer ajuda financeira à formação de um governo de tecnocratas, que seria responsável pelas reformas estruturais.
Sem um Executivo deste tipo é impossível que as reformas sejam concretizadas, ou a liberação de qualquer apoio financeiro, insiste a fonte diplomática.
O país iniciou em 2020 negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que rapidamente fracassaram.
As esperanças continuam as mesmas: reestruturação do setor elétrico e do setor bancário, assim como a redução de gastos, revisão de subsídios e valorização da moeda.
lar/tgg/bek/bfi/af/pc/fp/tt
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