Etiópia decidida a seguir com construção de represa no Nilo
Adis Abeba, 7 Abr 2021 (AFP) - A Etiópia afirmou nesta quarta-feira (7) que está decidida a continuar o projeto de uma grande barragem no Nilo, apesar da disputa com o Egito e o Sudão, que não descartam nenhuma opção para defender seus interesses.
Essas declarações surgem após os ministros das Relações Exteriores dos três países terem encerrado sem acordo na última terça-feira três dias de negociações em Kinshasa, sob a mediação do chefe de Estado congolês Félix Tshisekedi, atual presidente da União Africana (UA).
A Etiópia anunciou em 2020 que havia completado a primeira fase das operações de enchimento, atingindo a meta de 4,9 bilhões de m3, o que permite testar as duas primeiras turbinas da barragem. O país pretende atingir outros 13,5 bilhões de m3 este ano.
A Grande Represa do Renascimento (GERD, na sigla em inglês) foi construída no noroeste da Etiópia, perto da fronteira com o Sudão, sobre o Nilo Azul, que se une ao Nilo Branco em Cartum, a capital sudanesa, para formar o Nilo.
O local é uma fonte de tensão entre os três países desde o início da obra em abril de 2011.
As conversas devem ser retomadas antes do fim do mês, informaram fonte diplomáticas etíopes.
O ministro etíope das Águas, Seleshi Bekele, declarou nesta quarta-feira que o país continuará a encher o reservatório de 74 bilhões de metros cúbicos da barragem durante a próxima estação de chuvas, que está prevista para começar em junho ou julho.
"O processo está acontecendo", disse o ministro em entrevista coletiva. "Não vamos renunciar de forma alguma", completou.
De Cartum, o ministro sudanês da Irrigação, Yasser Abbas, alertou a capital Addis Abeba que considerarão "todas as opções", caso "a Etiópia inicie o segundo abastecimento sem acordo".
O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, também reforçou suas advertências. "Eu digo aos meus irmãos etíopes: não toque em uma gota de água egípcia porque todas as opções estarão a mesa".
No final de março, Al Sisi já evocava "instabilidade inimaginável" se a barragem ameaçar "uma única gota d'água" do Egito.
- "Perigo iminente" -A obra é fonte de tensão entre os três países desde a colocação da primeira pedra, em abril de 2011.
Com uma potência instalada de quase 6.500 megawatts, pode se tornar a usina hidrelétrica mais poderosa da África.
A Etiópia afirma que a energia que produzirá é vital para atender às necessidades de seus 110 milhões de habitantes.
No entanto o Egito, que depende de 97% do Nilo para irrigação e água potável, vê o reservatório etíope como uma ameaça ao seu abastecimento de água.
O Sudão, por sua vez, teme danos aos seus próprios reservatórios se a Etiópia proceder com o enchimento total do local antes de chegar a um acordo.
A última tentativa fracassou na terça-feira, após três dias de negociação.
A Etiópia "ameaça diretamente o povo da bacia do Nilo e do Sudão", alertou o ministro das Relações Exteriores sudanês, Mariam al Sadiq al Mahdi, sobre um "perigo iminente" para a região e o continente.
O Ministro da Irrigação da Etiópia lamentou que o Egito e o Sudão pedissem pelo maior envolvimento dos observadores sul-africanos, americanos e da União Europeia (UE).
A Etiópia busca privilegiar o processo patrocinado pela presidência da União Africana, com sede na capital, Adis Abeba.
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