Biden prometerá, diante do Congresso, um futuro para os trabalhadores "esquecidos" dos EUA
Washington, 29 Abr 2021 (AFP) - O presidente dos Estados Unidos Joe Biden fala ao Congresso pela primeira vez nesta quarta-feira (28) para defender um plano de gastos maciços para apoiar a classe média americana e os trabalhadores "esquecidos", uma visão que enfrenta profundas divisões no Legislativo.
Na véspera do dia em que completará os primeiros e simbólicos 100 dias de mandato, Biden apresentará seu projeto para as "famílias americanas", que o governo considera um "investimento histórico" na educação e na infância.
"Agora, depois de apenas 100 dias, posso relatar ao país, os Estados Unidos estão avançando novamente", são as palavras que o presidente vai pronunciar, segundo extrato do discurso divulgado pela Casa Branca.
O plano, que já despertou a ira dos republicanos, é ambicioso: prevê investimentos de um trilhão de dólares, principalmente em educação, e desoneração de 800 bilhões de impostos para a classe média.
Esse plano visa a geração de "milhões de empregos" e, de acordo com Biden, 90% das vagas em infraestrutura são voltados para pessoas sem curso superior.
Para financiá-lo, o democrata vai propor o cancelamento dos cortes de impostos para os mais ricos aprovados no governo Donald Trump e aumentar os impostos sobre a renda do capital de 0,3% dos americanos que acumulam mais riquezas.
"Sei que alguns de vocês em casa se perguntam se esses empregos são para vocês, se sentem deixados para trás e esquecidos em uma economia em rápida mudança", disse Biden.
E tudo por uma promessa: nenhum americano que ganhe menos de 400.000 por ano verá seus impostos aumentarem, disse um membro do governo que pediu para não ser identificado.
O discurso também vai marcar o início de um debate acirrado no Congresso, pois apesar de seu plano de alívio de 1,9 trilhão de dólares para uma economia muito abalada pela pandemia ter sido aprovado, o debate sobre seu gigantesco plano de infraestruturas e a reforma da educação gera mais divisões.
- "Como Bernie Sanders" -O plano vai exigir a aprovação de um Congresso muito dividido, com uma leve maioria democrata, mas que não garante a tramitação dos projetos.
"O presidente Biden se apresentou na campanha como moderado, mas, até o momento, custa-me encontrar a menor decisão que mostre um senso de moderação", ironizou nesta terça-feira o senador republicano Mitch McConnell.
Em seu editorial, o jornal "The Wall Street Journal" lamenta que Biden, que "teve sorte" tanto nas vacinas quanto na recuperação econômica, não aproveite a oportunidade "para unir o país".
Citando um aumento de impostos sem precedentes desde 1968 e um nível de gastos "nunca visto desde a década de 1960", o jornal critica que Biden tenha decidido governar "como Bernie Sanders", o senador e ex-pré-candidato autoproclamado "socialista democrata".
No Congresso, o presidente democrata provavelmente vai ressaltar o progresso "impressionante" do país na luta contra a covid-19, palavras que ele usou na terça-feira para descrever a rápida campanha de vacinação.
Quase 96 milhões de pessoas - 30% da população - receberam as duas doses da vacina e na terça-feira as autoridades de saúde recomendaram que as pessoas já imunizadas - ou seja, que desenvolveram anticorpos - não precisam usar máscara em locais abertos, exceto em eventos com muitas pessoas.
Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, indicou que Biden vai destacar sua determinação de que os Estados Unidos "recuperem seu lugar no mundo" e mencionará as relações com a China.
Os discursos presidenciais no Capitólio são marcados pela pompa e solenidade, uma tradição muito importante na política americana, mas este ano o evento, que começará às 21h (22h de Brasília), acontecerá em um ambiente particular, devido à pandemia.
- Convidados virtuais -Em vez das 1.600 pessoas que normalmente acompanham o discurso, a capacidade foi limitada a 200. E os congressistas receberam o pedido para apresentar uma lista de convidados, mas "virtual".
O presidente da Suprema Corte, John Roberts será o único representante do tribunal. Também estarão presentes o secretário de Estado, Antony Blinken, e o comandante do Pentágono, Lloyd Austin, mas os demais integrantes do governo terão que assistir o discurso pela televisão.
Com a pandemia não será necessário escolher o "sobrevivente designado", uma tradição segundo a qual um membro do gabinete permanecia escondido, para que em caso de ataque ao Congresso o governo tenha continuidade.
Outra novidade, mas não relacionada com a pandemia será que Biden estará escoltado por duas mulheres, a líder da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, e por Kamala Harris, a primeira mulher a ocupar a vice-presidência do país.
Espera-se que o clima seja mais descontraído do que no último discurso de um presidente dos EUA ao Congresso, o relatório do Estado da União apresentado pelo republicano Trump em fevereiro de 2020.
Antes da cerimônia, Trump evitou abertamente apertar a mão de Pelosi e, quando terminou de falar, a líder da bancada democrata rasgou o papel que continha o discurso do presidente.
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