Crise na Ucrânia: Alemanha quer reduzir sua dependência do gás russo

A crise na Ucrânia expôs a dependência energética da Alemanha em relação ao gás russo e estimula o debate na principal economia europeia sobre a necessidade de desenvolver energias renováveis.
"A arriscada dependência da Alemanha em relação ao gás de Putin", resumia na sexta-feira (28) a empresa pública de radiodifusão Deutsche Welle, em meio a críticas ao governo alemão por sua aparente ambiguidade nesta crise, dividido entre a solidariedade para com seus aliados ocidentais e a necessidade de cuidar de seu grande fornecedor.
Mais de 55% das importações de gás da Alemanha procedem da Rússia, um número 15 pontos superior ao de 2012, de acordo com o último relatório da "Statistic Review of World Energy" ("Revisão Estatística da Energia Mundial", em tradução livre).
O gás aquece 50% dos lares alemães e representa 26,7% do consumo primário de energia, de acordo com números oficiais.
E, em meio à crise russo-ucraniana, Berlim mantém uma posição de moderação máxima, recusando-se a entregar armas à Ucrânia, ou pedindo prudência em eventuais sanções contra Moscou, caso tropas russas invadam a ex-república soviética.
A estreita cooperação energética entre as duas potências se materializa com a construção do polêmico gasoduto Nord Stream 2, que os liga diretamente pelo Mar Báltico e que tem o ex-chanceler Gerhard Schröder entre seus dirigentes.
Esta infraestrutura priva a Ucrânia de seu papel de conector entre Rússia e UE (União Europeia) e, portanto, de uma significativa receita. Se sanções econômicas forem impostas por uma invasão russa, o gasoduto poderá ser afetado.
Transição energética
Tendo os Verdes como membro fundamental, o atual governo de coalizão na Alemanha quer reduzir essa dependência e impulsionar a transição para as energias renováveis - uma de suas prioridades.
"O abandono progressivo dos combustíveis fósseis vai reforçar a Europa em termos geopolíticos", analisou recentemente o ministro alemão da Economia e do Clima, Robert Habeck.
"Vemos que as questões geopolíticas e de segurança estão vinculadas à segunda maior crise do nosso tempo: a política climática", afirmou.
O governo estabeleceu a meta de atingir 80% de eletricidade de fonte renovável até 2030. Para isso, Berlim pretende lançar este ano um enorme programa de construção de parques eólicos em 2% do território, além de impor a instalação de painéis solares nos telhados dos edifícios.
"Enriquecer nossa matriz energética com muito mais fontes renováveis é uma contribuição importante para uma maior segurança energética", frisou a ministra alemã das Relações Exteriores, a ambientalista Annalena Baerbock, na semana passada.
Há, no entanto, um problema de curto prazo. Paradoxalmente, a transição energética vai aumentar o consumo de gás, alternativa temporária ao abandono da energia nuclear, processo que termina no final do ano, e o do carvão, previsto para 2030.
Estas energias são utilizadas como apoio das renováveis, quando não há sol ou vento suficientes. Sem elas e até que as infraestruturas de armazenamento de energia renovável estejam prontas, o gás deverá assumir essa função.
O instituto econômico Fraunhofer calcula que, até 2030, a Alemanha terá de aumentar em um terço sua produção de energia elétrica originada no gás.
O programa do governo prevê "acelerar (...) a construção de centrais de gás modernas" para "garantir a segurança do abastecimento".
E o consumo de gás já está aumentando. No ano anterior, o país gastou 1 bilhão de kWh, um aumento de 3,9% interanual.
Alternativas
Como se livrar do abraço de Moscou? O governo conta com maior diversificação de importações.
Uma "alternativa" seria "a plena utilização de terminais europeus de metano", onde o gás liquefeito transportado por via marítima é entregue, segundo fonte do Ministério da Economia.
O uso destes recursos procedentes, em especial, de Estados Unidos, Austrália, ou Catar, implicaria, no entanto, um encarecimento dos preços da energia, completou a mesma fonte.
É uma questão delicada em um contexto de forte inflação no mercado energético europeu, sobretudo, na Alemanha, onde a questão do aumento de preços é politicamente explosiva.
Além disso, a inflação pode piorar ainda mais, diante da escassa reserva nacional de gás, abaixo de 42% da capacidade. Este é um nível excepcionalmente baixo.
O risco de escassez foi descartado pela ministra Annalena Baerbock, que, na última sexta-feira, garantiu que "o abastecimento está assegurado" no país.
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