Copom se prepara para elevar a Selic em dois dígitos pela 1º vez em cinco anos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se prepara para elevar nesta quarta-feira (1) sua taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual, a 10,75%, segundo expectativas do mercado, alcançando dois dígitos pela primeira vez em cinco anos, perante uma inflação ameaçadora e apesar de afetar o crescimento econômico.
A decisão, antecipada na reunião de dezembro, em resposta ao aumento dos preços, que alcançaram 10,06% em 2021, é aguardada como a conclusão da primeira reunião do ano do Copom, iniciada nesta terça-feira.
Se a expectativa média de uma centena de consultorias e instituições financeiras revelada pelo BC no boletim Focus se confirmar, o aumento de até 10,75% situará a Selic em um nível que não era visto desde o segundo trimestre de 2017 (11,25%).
Trata-se, ainda, da oitava alta consecutiva deste ciclo expansionista, que as autoridades do BC têm acelerado progressivamente desde março de 2021, quando a Selic estava em 2%, um piso histórico mantido por vários meses para tentar reanimar uma economia afetada pela pandemia.
Com a continuidade de sua política, o Copom tenta alinhar a inflação às metas da autoridade monetária, apesar de sua estratégia atrapalhar o crescimento econômico em meio a uma recessão declarada no terceiro trimestre.
Em 2021, os preços no varejo tiveram a pior disparada em seis anos e, embora a expectativa seja de que a escalada se atenue em 2022, a pressão vai continuar. Atento ao curso da inflação, o BC revisou em dezembro suas projeções de 4,10% para 5,02%, cifra que supera suas metas (entre 3,5% e 5%) pelo segundo ano consecutivo.
Além disso, cortou sua expectativa de crescimento do PIB, de 2,1% para 1%, contra 4,4% estimados para 2021. A perspectiva ruim, no entanto, é superior à magra expansão de 0,30% prevista pelo mercado no último boletim Focus.
Fim do ciclo à vista
Em sua reunião anterior, o Copom considerou "apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista", o que ficará evidente especialmente este ano, devido ao efeito prolongado do aumento das taxas.
Mas o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse recentemente que o ciclo de altas "está chegando a um fim", o que alguns economistas preveem para maio.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, considera dois cenários possíveis para esta quarta-feira, com altas de 1,25 ponto percentual ou 1,50 p.p.
"O contexto da inflação que o Banco Central imaginava mudou muito (...) O Brasil tem uma inflação mais modesta", que se situou em 0,73% em dezembro, afirmou Vieira, que acredita que o Banco Central "provavelmente anunciará o início do fim do processo do aperto monetário".
AO encerrar o ciclo de altas, o mercado espera que a Selic atinja até 12%, segundo uma média das projeções de instituições econômicas consultadas pelo jornal Valor.
Para este ano, no qual o presidente Jair Bolsonaro vai tentar a reeleição em outubro, os analistas preveem uma incerteza própria do processo eleitoral, além do risco fiscal pelo aumento dos gastos públicos, que não se dissipou.
O contexto econômico de indicadores deteriorados, como o da atividade industrial, inclui um mercado de trabalho em lenta recuperação, com alta informalidade e salários mais baixos, além de um novo impacto da covid-19, com novos recordes de contágios em janeiro.
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