Medo da UE de ficar sem gás impede exclusão russa do sistema bancário Swift
Berlim, 25 Fev 2022 (AFP) - O Ocidente não conseguiu, até agora, chegar a um acordo sobre as sanções extremas contra a Rússia, recusando-se a excluí-la do sistema bancário Swift, devido, principalmente, aos receios de vários países europeus por seu abastecimento energético.
Reunidos na cúpula de Bruxelas na quinta-feira (24), os líderes europeus não decidiram qualquer medida de bloqueio dos bancos russos desta interface de pagamentos internacionais, um mecanismo essencial das finanças globais, em retaliação à invasão da Ucrânia.
Vários países, entre eles Alemanha, Áustria e Hungria, expressaram reservas, temendo o impacto de uma decisão como essa no fornecimento de gás russo.
"A suspensão do Swift teria grandes repercussões para as empresas alemãs em suas relações com a Rússia, mas também para fazer pagamentos de entrega de energia", disse o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, nesta sexta-feira (25).
Na Hungria, o primeiro-ministro Victor Orban elogiou o fato de as sanções decididas na quinta-feira "não se estenderem à energia", garantindo "o fornecimento de gás à Hungria e aos demais Estados-membros da UE".
Swift, sigla para Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, é uma empresa com sede em Bruxelas, sujeita às leis belga e europeia.
Fundada em 1973, é uma das mais importantes redes de transações bancárias e financeiras, que permite a liquidação interbancária entre instituições financeiras de todo mundo.
De acordo com o site da associação nacional russa Rosswift, a Rússia é o segundo país, depois dos Estados Unidos, em número de usuários desse sistema, com cerca de 300 bancos e instituições membros.
Na prática, esse sistema permite, por exemplo, que um país como a Alemanha pague eletronicamente suas compras de gás russo.
- Arma nuclear econômica -Bloquear um país desse sistema é considerado uma "arma nuclear econômica", pois o impacto é grande para as relações econômicas desse país com o restante do mundo. Ao mesmo tempo, desconectar um Estado do Swift também significa impedir que seus próprios bancos façam transações com os bancos do país punido.
Fato que não escapou às nações mais dependentes economicamente da Rússia, como a Alemanha.
"Você sempre tem que ter cuidado para não se machucar mais do que os outros. Nesse caso, as sanções não têm sentido", disse o deputado alemão Jürgen Trittin, especialista em política internacional do Partido Verde.
Mesmo nos Estados europeus menos dependentes de matérias-primas russas, como a França, o ceticismo permanece, já que a aplicação dessa medida é complexa.
"Swift é uma das opções", mas "é a última delas", disse ontem o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire.
O chanceler austríaco, Karl Nehammer, declarou, por sua vez, que as sanções econômicas decididas pelos líderes do G7 na quinta-feira já afetariam 70% dos bancos russos em suas transações, inutilizando o bloqueio de Swift.
Esse ponto de vista não é compartilhado por todos.
"Os governos da UE que bloquearam decisões difíceis se desonraram", criticou o ex-presidente do Conselho Europeu Donald Tusk, atualmente chefe do partido de direita PPE no Parlamento Europeu.
Uma crítica expressa também pela Ucrânia.
De acordo com um porta-voz, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu a medida na reunião do G7.
"Queremos que o (Swift) seja desativado. Outros países não querem", lamentou o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, em entrevista à rádio BBC.
Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que cortar a Rússia da rede Swift continua sendo "uma opção", mas reconheceu que, "atualmente, não é uma posição compartilhada pelos europeus".
E, nesta sexta, a França reforçou o coro, manifestando-se a favor da exclusão.
"Alguns" países da União Europeia (UE) "demonstraram reservas. A França não é um desses Estados", disse o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, à imprensa, após uma reunião de ministros das Finanças do bloco em Paris, acrescentando que esta questão será avaliada "nas próximas horas".
Em 2014, pouco depois da anexação da Crimeia por parte da Rússia, essa opção também foi discutida, mas acabou sendo abandonada.
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