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Inflação, o efeito da guerra na Ucrânia que atinge os latino-americanos

 Inflação da cesta básica chega a 12,67% em 12 meses, no Brasil - Reprodução
Inflação da cesta básica chega a 12,67% em 12 meses, no Brasil Imagem: Reprodução

20/03/2022 12h28

Os preços do petróleo e grãos produzidos pela América Latina dispararam devido à guerra na Ucrânia, uma situação que à primeira vista parece positiva para a economia regional, mas tem um outro lado: a volta da inflação galopante, dos alimentos e do combustível em disparada.

O FMI alertou: a invasão russa da Ucrânia provoca uma onda de choque que desencadeia o custo dos alimentos e da energia, com impactos "substanciais em alguns casos".

O choque é generalizado em uma região que tem uma taxa de inflação média anual de 8%, com extremos de mais de 50% na Argentina, mais de 10% e em alta no Brasil, e hiperinflação endêmica na Venezuela.

Algumas nações latino-americanas são importadoras líquidas de petróleo, de modo que o forte aumento dos produtos energéticos - o petróleo atingiu seu máximo histórico de 147,5 dólares o barril há 10 dias - prejudica suas finanças.

Outros, como a Colômbia, cuja principal exportação é o petróleo bruto, ou o México, cuja cesta de petróleo subiu de preço, tentarão compensar o aumento dos preços dos alimentos com extras de ouro negro.

No entanto, nenhum país estará a salvo do flagelo inflacionário que veio com a guerra.

Incerteza no agro

A participação da Rússia na balança comercial latino-americana é pequena: Moscou importa 3,18% do que consome e exporta 1,48% para essa parte do mundo, segundo o Banco Mundial (BM). Mas tanto a Rússia quanto a Ucrânia são grandes exportadores de grãos e petróleo, os dois produtos que mais subiram por temores de escassez devido à guerra e sanções ao comércio russo.

O analista da empresa brasileira SAFRAS & Mercado Luis Fernando Gutierrez Roque ilustra os dois lados da moeda.

"O conflito tende a reduzir as exportações de milho e trigo dos dois países (Rússia e Ucrânia), o que favorece outros grandes produtores e exportadores, como o Brasil", diz.

Mas a Rússia é o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil, que depende desse insumo para garantir sua produção.

"Não temos garantia na questão do transporte marítimo de mercadorias", gravemente perturbado pela guerra, "nem no fornecimento de fertilizantes", explicou à AFP Cesário Ramalho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).

A preocupação é compartilhada na Argentina, maior produtor mundial de soja, assim como em outros países agrícolas tradicionais da região, como Uruguai e Paraguai, e até mesmo no Equador, que exporta 21% de sua produção de banana para a Rússia.

Um relatório da Bolsa de Valores de Rosário destacou a "influência russa" nos preços mundiais de fertilizantes, já que é o principal fornecedor, com cerca de 35 milhões de toneladas por ano.

- Energia -O aumento significativo do petróleo bruto atingiu quase todos os países, incluindo alguns produtores que precisam importar derivados.

"O aumento do preço de nossas exportações primárias pode ser um fator positivo, embora o menor crescimento da economia mundial venha a conspirar contra o restante de nossas vendas ao exterior, e teremos que enfrentar uma fatura volumosa de importação de energia", exemplificou o economista Víctor Beker, da Universidade de Belgrano, na Argentina.

O Brasil, explica Gutierrez Roque, sofrerá como outros "o principal efeito" da guerra, que é "a inflação derivada do aumento do petróleo, matérias-primas e insumos produtivos para a agricultura".

De fato, há 10 dias, a Petrobras anunciou aumentos na gasolina e no diesel de 18,8% e 24,9%, respectivamente, "como resultado da guerra entre Rússia e Ucrânia".

No Paraguai, o aumento dos preços dos combustíveis foi ainda maior: 70% desde o início do conflito.

No México, o governo espera usar o superávit da alta do petróleo para subsidiar combustíveis e conter a inflação de 7,07% em 12 meses em janeiro.

O mix mexicano de petróleo bruto saltou para quase US$ 120 o barril em comparação com os US$ 55 previstos no orçamento de 2022.

"No entanto, o México também é um grande importador de gasolina, que supera o volume de exportações de petróleo bruto, então o efeito líquido para as finanças do país acabaria sendo negativo", alertou Benito Berber, economista-chefe para América Latina do NATIXIS.

"O custo para o consumidor mexicano será o da inflação mais alta" por meio de gasolina, alimentos e também "volatilidade financeira que já impacta o valor do peso", acrescentou.

A Colômbia, a quarta maior economia regional, é "um dos poucos países que teve algum impacto positivo deste conflito", observa Luis Fernando Mejía, diretor do think tank Fedesarrollo, referindo-se aos preços do petróleo, que representam 40% das exportações colombianas.