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Americano, veículo de comunicação conservador para seduzir latinos dos EUA

Da AFP, em Miami (EUA)

28/04/2022 12h51

Até recentemente, os Estados Unidos não tinham um meio de comunicação conservador nacional de língua espanhola. Isso mudou em março passado com o lançamento de Americano, que quer se tornar uma referência da direita para os latinos, um grupo com peso crescente entre os eleitores americanos.

Criado em Miami, no sudeste do país, este veículo teve seu primeiro grande momento em 13 de abril, ao entrevistar o ex-presidente republicano Donald Trump.

"Nosso compromisso é ser um lugar que ajude a promover a ideologia conservadora para poder derrotar os democratas", disse sem rodeios o presidente de Americano, Jorge Arrizurieta, pessoa próxima do ex-governador da Flórida Jeb Bush.

Segundo ele, o mercado precisava de um veículo de centro direita voltado para o público latino, para enfrentar a concorrência de outros canais, como Univision, Telemundo e CNN em espanhol, considerados por ele cada vez mais "de esquerda".

O canal Americano pode ser acompanhado pelo sistema de rádio por satélite Sirius XM e pela rede social conservadora GETTR. Neste verão (inverno no Brasil), começará a transmitir seus programas em plataformas de streaming, como a Apple TV.

O objetivo deste veículo é chegar preparado às eleições de meio mandato de novembro (as chamadas "midterms") nos Estados Unidos e estar bem consolidada para a corrida presidencial de 2024.

Em ambos os pleitos, a comunidade hispânica será crucial.

Em 2020, os latinos representavam em torno de 13,3% dos eleitores registrados nos Estados Unidos, superando os afro-americanos (12,5%), segundo o centro de pesquisas Pew Research.

Pesquisas recentes, entre elas um divulgado pelo Wall Street Journal, deram esperança aos conservadores, ao indicarem que os hispânicos, tradicionalmente mais próximos dos democratas, estavam começando a migrar para o lado republicano.

Batalha pelos independentes

María Herrera Mellado, que entrevistou Trump para Americano, tem consciência do papel que o veículo pode desempenhar na batalha ideológica que será travada nos Estados Unidos nos próximos meses.

"É muito importante que lutemos para salvar o que resta deste país, porque a agenda socialista está muito avançada", diz esta advogada, que coapresenta um programa com José Aristimuño, ex-assessor de imprensa do Partido Democrata.

"Temos certeza de que, com argumentos sólidos, vamos arrastar todos os núcleos independentes para o conservadorismo, que serão os que vão definir as próximas eleições", declarou.

Eduardo Gamarra, professor de Ciência Política da Florida International University, vê sinais positivos neste novo veículo, como o fato de terem-no contratado - ele, um democrata - para fazer uma pesquisa com 1.500 latinos.

Outro elemento positivo, segundo ele, é que o canal tem recorrido a jornalistas com passagem pela Telemundo, Univisión, ou CNN - uma decisão "que vai lhe dar credibilidade".

O professor manifesta sua preocupação, porém, com o perfil de outros profissionais do Americano, conhecidos por "reproduzirem desinformação".

E garante que alguns programas do Americano deturparam a interpretação de sua pesquisa, que, na verdade, negava um movimento em massa dos hispânicos para o Partido Republicano.

A estrategista democrata Evelyn Pérez-Verdía compartilha as dúvidas de Gamarra sobre a nova mídia.

"Há programas que têm um conservadorismo mais moderado. Mas outros são preocupantes por causa das pessoas eles trazem, pessoas que eu classificaria de extrema direita", observa a diretora do We Are Más, uma plataforma que estuda a difusão da desinformação em espanhol.

Arrizurieta assegura que seu veículo quer ser um espaço aberto às diferentes vozes do conservadorismo, capaz de deixar de lado as divisões internas. Um espaço, cujo futuro dependerá, segundo ele, de sua capacidade de se dirigir a todos os hispânicos dos Estados Unidos, uma comunidade muito diversa.

"Para que nosso modelo seja bem-sucedido, temos que garantir que haja uma representação inclusiva do que é o Hemisfério Ocidental", defende o presidente. "Não podemos ser monolíticos".