Frear inflação deve ser prioridade mundial, alerta economista-chefe do FMI
Apesar de uma desaceleração preocupante que ameaça a economia mundial, a prioridade deve ser frear a inflação e evitar, a todo custo, que ela saia completamente de controle, destacou o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em entrevista à AFP nesta terça-feira (26).
"A inflação é um pouco como o gênio que sai da lâmpada" e não é possível colocá-lo dentro dela novamente, afirmou.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou hoje a atualização de suas previsões econômicas, que mostram perspectivas sombrias para a economia mundial.
O FMI rebaixou a estimativa de crescimento do PIB mundial em 2022 para 3,2%, 0,4 ponto percentual a menos que no prognóstico de abril.
A inflação, por outro lado, deve ser mais alta e chegar a 8,3% este ano a nível mundial, 0,9 ponto a mais que o previsto em abril.
"Isso gera um ambiente de muita incerteza. As pessoas veem seu poder aquisitivo encolher de uma maneira que não é possível controlar", explicou.
"Os bancos centrais têm muito a perder se, de alguma maneira, não conseguirem controlar a dinâmica dos preços daqui para frente", acrescentou.
Essas instituições adotam medidas para tentar frear a inflação, aumentando suas taxas de juros de referência. Porém, isso pode afetar o crescimento, pois encarece o custo do crédito, o que desacelera a economia.
- Expectativas de inflação -
Gourinchas reconheceu que existe o risco de os políticos exagerarem e frearem o crescimento, mas ressaltou que, até o momento, acredita que eles estão no caminho certo.
"O objetivo não é provocar uma recessão a nível mundial", mas "devolver a estabilidade dos preços" com uma inflação girando em torno de 2% para as economias avançadas, e talvez um pouco mais para os países emergentes.
Por outro lado, perder todo o controle sobre a inflação seria muito perigoso, advertiu.
"Quando a inflação está em 2% [nível considerado saudável para a economia], você pode esquecer a inflação", mas, "em um mundo no qual ela está perto de 10%, isso não é possível".
Para Gourinchas, a chave são as expectativas de inflação: se as pessoas pensam que os preços vão continuar subindo muito no longo prazo, isso significa que "os bancos centrais teriam perdido o controle e seria muito difícil voltar atrás".
Por sorte, "ainda não chegamos nesse ponto", acrescentou. Até agora, "as expectativas de inflação continuaram bastante estáveis. E esse é um dos grandes benefícios de décadas de inflação baixa e de credibilidade dos bancos centrais".
Mas os políticos não têm todas as cartas na manga e não podem controlar alguns riscos, como a hipótese de uma interrupção completa do fornecimento de gás russo à Europa.
No entanto, Gourinchas segue otimista. Os bancos de todo o mundo, inclusive nos mercados emergentes, avançaram em movimentos "sincronizados".
"Isso pesa de forma efetiva sobre a atividade mundial e contribui para reduzir os preços da energia", assinalou o economista.
"Poderíamos ver uma trajetória de desinflação muito mais rápida se os preços da energia continuarem nessa tendência".
jul-hs/jum/cco/dl/mr/rpr/am
© Agence France-Presse
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