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Entenda o tombo das Bolsas chinesas e os efeitos no Brasil

Karishma Vaswani

Editora do Serviço Indonésio da BBC

04/01/2016 16h52

O tombo dos mercados acionários chineses derrubou nesta segunda-feira (4) as principais Bolsas de Valores do mundo, entre elas a brasileira.

No primeiro dia de operações de 2016, a Bovespa fechou em baixa de 2,79% e atingiu a menor pontuação desde abril de 2009. Já o dólar ultrapassou a barreira de R$ 4.

O dia também está sendo de perdas no resto do mundo, com as Bolsas dos Estados Unidos e da Europa registrando índices negativos.

O movimento reflete os temores dos investidores sobre um crescimento menor da economia da China neste ano, após os dados da indústria terem vindo mais fracos do que o esperado: foi a décima queda consecutiva em dezembro.

Logo após a divulgação do indicador, o pregão chinês despencou 7% e acabou suspenso devido à adoção de um novo sistema conhecido como "circuit breaker". O mecanismo, que existe em vários países do mundo, inclusive no Brasil, interrompe automaticamente as negociações de compra e venda de ações sempre que há instabilidade excessiva nos mercados.

O setor industrial chinês vem lutando contra a fraca demanda interna do país. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), a previsão é de que a economia da China cresça 6,3% neste ano. Se confirmado, seria o menor valor em mais de duas décadas.

A desaceleração do gigante asiático tende a produzir efeitos negativos em todo o mundo, o que pode dificultar a recuperação da economia brasileira.

Confira abaixo quatro fatores por trás do tombo nos mercados chineses nesta segunda-feira - e, em quinto, seu efeito no Brasil.

1 - Atividade industrial mais fraca

De acordo com analistas, os dados ruins sobre a atividade industrial da China foram a principal razão para o tombo do pregão desta segunda-feira. O indicador veio mais fraco do que o esperado, houve contração pelo décimo mês consecutivo em dezembro.

As estatísticas são um reflexo da transformação da economia chinesa, cada vez mais dependente do setor de serviços e menos da indústria, que, por sua vez, vem atraindo menos investimentos estatais.

2 - Implantação do 'circuit breaker'

Este foi o primeiro dia em que o sistema conhecido como "circuit breaker" foi colocado em prática.

O mecanismo suspende automaticamente a negociação de compra e venda de ações sempre que há instabilidade excessiva em momentos atípicos no mercado.

No caso da China, o pregão foi interrompido por 15 minutos quando houve uma queda acumulada de 5%.

Quando as ações voltaram a ser negociadas, e os papéis registraram perdas de 7%, as operações das Bolsas de Valores de Xangai e de Shenzhen foram completamente paralisadas.

As medidas foram implementadas no ano passado por causa do 'crash' da Bolsa chinesa, mas só entraram em vigor nesta segunda-feira.

O "circuit breaker" não é uma particularidade do mercado chinês e existe em vários países, inclusive no Brasil.

No entanto, é pouco comum que todo o pregão seja suspenso por causa de uma queda de 7%, uma indicação de que talvez as autoridades chinesas queiram evitar a todo custo um novo crash da Bolsa.

3 - Yuan mais fraco

Houve uma depreciação acentuada do yuan pouco antes do tombo do pregão chinês. A China desvalorizou a moeda do país frente ao dólar para o menor valor em quatro anos e meio.

Especula-se que o Banco Central chinês tenha abandonado a tentativa de manter o valor do yuan frente ao dólar, o que significa que a autoridade monetária não deve continuar intervindo para segurar a cotação da moeda.

No entanto, crescem as preocupações de que esteja havendo uma fuga de recursos da China e que esse movimento possa sair do controle.

Investidores estão temerosos do que pode acontecer se o yuan continuar a perder valor - e o risco que isso pode acarretar para o futuro da economia chinesa, ante a posição do governo de continuar defendendo uma maior depreciação da moeda para incentivar as exportações.

4 - Venda de ações

Pessoas físicas que investem na Bolsa são facilmente influenciáveis e tendem a agir conforme a maioria, movimento popularmente conhecido como "efeito manada".

Ou seja, quando ouvem de corretores ou amigos que outras pessoas estão vendendo suas ações, também tendem a se desfazer de seus papéis. E quanto mais o preço dessas ações cai, maior é o volume vendido.

Apesar de os papéis ainda estarem acima de seus níveis mais baixos, as autoridades chinesas querem evitar o crash da Bolsa que ocorreu no verão passado (no hemisfério norte).

5 - Efeitos no Brasil

Para o Brasil, a instabilidade no mercado chinês pode aprofundar a recessão e atrasar ainda mais a recuperação da economia.

Isso porque a turbulência no gigante asiático acende uma "luz vermelha" sobre outros mercados emergentes. Avessos ao risco, investidores tendem a retirar recursos desses países, derrubando as moedas locais.

"No caso do Brasil, essa contaminação tem um impacto ainda maior porque nosso mercado financeiro é bastante aberto, maior e mais líquido do que o de outros países", explica André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.