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Baixa popularidade dá a Temer 'grande chance de passar reformas', diz Luiza Trajano

A empresária Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza - Divulgação
A empresária Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza Imagem: Divulgação

25/04/2017 16h50

Uma das empresárias mais bem sucedidas do país, Luiza Trajano, ex-CEO e atual presidente do conselho do Magazine Luiza, defende as reformas da Previdência e trabalhista e afirma que o presidente Michel Temer tem grande chance de aprovar as mudanças por ter baixa popularidade e "o Congresso na mão".

Cotada no passado para ser ministra no governo de Dilma Rousseff, de quem é amiga, Trajano diz trabalhar pelo Brasil, independentemente de partido político. Cita como exemplo disso sua permanência, após Temer assumir o poder, no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, do qual participa desde a gestão Lula.

Dona de uma empresa citada com frequência em rankings de melhores lugares para se trabalhar, ela afirma que as propostas de mudanças nas leis trabalhistas são benéficas para o trabalhador, que "já sabe se defender" e terá mais autonomia para negociar sua jornada de trabalho. A reforma é um dos motivos da greve geral organizada por centrais sindicais para a próxima sexta-feira (28).

Na contramão da crise, o Magazine Luiza viu suas ações subirem 502% no ano passado: passaram de R$ 17,65 para R$ 106,17. Hoje, passam de R$ 200 --sucesso que ela atribui aos "princípios sólidos e propósitos da empresa".

Confira abaixo trechos da entrevista que Trajano concedeu à BBC Brasil na sede do seu escritório, em São Paulo.

BBC Brasil - A senhora disse uma vez em uma palestra que nunca iria falar mal do Brasil. O país vive uma crise econômica e política, a senhora ainda encontra motivos para ser otimista?

Luiza Trajano - As pessoas confundem otimismo com alternativa, não sou uma pessoa que fica de braços cruzados esperando as coisas acontecerem. Eu enfrentei tantas crises, nunca neguei a crise, sempre falava que tinha e buscava alternativas.

Acho que o Brasil é um país com uma diversidade econômica violenta, com uma natureza maravilhosa, um povo que não sofreu guerra e mais importante: que tem consumo.

Somente 5% do país tem ar-condicionado, nós precisamos construir 20 milhões de casas em dez anos para ter um nível de igualdade social, você imagina quanto vou vender de geladeira e televisão. Então, é um país muito grande que tem ainda nos próximos anos um mercado muito grande.

Agora, o que falta realmente é a gente assumir o país como nosso, e não achar que o país é dos políticos. Quando eu digo otimismo, é porque assumo o país como meu. Nunca fui pedir nada do governo, nunca se irá descobrir nada que a gente tenha com o governo, sempre fiz em nome do varejo.

BBC Brasil - Mas há muitas empresas hoje com relações escusas com a política.

Trajano - Eu não quero julgar.

BBC Brasil - A intenção de consumo das famílias vem caindo nos últimos anos, assim como os incentivos do governo, como redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). De que forma isso afetou os negócios? A senhora acredita que podemos ter uma nova "época de ouro" da linha branca?

Trajano - O pessoal deu muito valor a isso e o que tem valor no mercado de um país em desenvolvimento é emprego, renda e crédito. O que desenvolveu essa era foram essas três coisas. O IPI pode ter ajudado, mas não foi a locomotiva.

Essas três coisas geram confiança no consumidor para comprar e o nível de confiança nunca esteve tão baixo como nos últimos dois anos. Eu não quero incentivo, quero que volte a dar confiança. Eu acho que a Lava Jato é a melhor coisa que pode ter acontecido.

BBC Brasil - Qual a sua avaliação da Lava Jato?

Trajano - Não tinha como não ter tido essa operação, hoje você vê isso. Pelo contrário: o país demonstrou ter uma democracia muito equilibrada para ter a Lava Jato, temos que valorizar.

Tem exageros? Pode até ter, mas não tem um processo que desnuda que não vá ter. O da (Operação) Carne Fraca eu achei um exagero, mas a Lava Jato tem fundamentos que estamos vendo aí.

Nós estamos aprendendo a separar as empresas, o país e as pessoas. E agora, esses últimos acontecimentos foram terríveis, mas o país continua funcionando. No primeiro momento, o país todo parou.

BBC Brasil - A senhora está falando do impeachment?

Trajano - Não, não estou falando do impeachment. Estou dizendo que qualquer denúncia que tinha contra alguém mais pesado, o país parava. O que estou feliz é que está tendo Lava Jato, mas o país tenta continuar funcionando com suas empresas. O que não pode é parar as empresas e o país, porque não é sustentável salvar um lado e perder o outro.

Mas isso também é um processo de maturidade. Quando você vê uma enxurrada dessas que dá uma decepção danada, a primeira reação é anestesiar. E parece que a anestesia está passando, não no sentido de não achar o que está acontecendo um escândalo, ou de aprovar isso, mas o país está tocando, né?

Sem deixar isso (investigações) de lado porque isso não pode deixar, mas estão começando a perceber que tem empresas boas, políticos bons, tem partido com gente boa e com gente ruim, e que o país precisa continuar.

BBC Brasil -  O governo deve pressionar por um ajuste fiscal e novas reformas, como a da Previdência, a trabalhista e a tributária. Isso deve afetar diretamente a economia. Qual a sua avaliação sobre as medidas de tentativa de retomada do crescimento?

Trajano - O Temer tem uma grande chance de fazer essas reformas porque não tem um nível de popularidade grande e tem o Congresso na mão dele. Então acho que ele terá uma grande oportunidade de fazer.

Não tem jeito de não fazer a reforma da Previdência. Se ela é ideal ou não, ela tem que ser feita, porque (se não for feita) atrapalhará a própria pessoa jovem que vai se aposentar, porque ela não terá dinheiro para pagar. Então, já deveria ter sido feita, mas é muito difícil de passar isso e agora acredito que vá.

E quero dizer que não está se fazendo uma reforma trabalhista. O que está sendo feito foi até proposto pelo Sindicato do ABC Paulista e é na realidade acreditar que hoje não estamos mais na escravatura, e a pessoa pode escolher, por exemplo, se ela trabalha aos domingos, que dia ela vai negociar para trabalhar, mesmo que ela tenha um aniversário do filho no dia, então ela sabe negociar com a empresa o que é bom para ela.

Então, hoje você negocia com as pessoas, e de repente não pode ser feito porque a lei não deixa. É mais do que ajuste, é acreditar que em algumas coisas o trabalhador tem direito de negociar. O trabalhador já sabe se defender. É a autonomia da vontade. Não é reforma trabalhista, é dar autonomia para a vontade do trabalhador para algumas coisas, mas o salário, as horas trabalhadas, o 13º irão continuar todos iguais.

BBC Brasil - Mas a participação das mulheres no governo federal hoje é bastante reduzida. Já tivemos uma presidente mulher, e a senhora é sabidamente amiga de Dilma Rousseff. De que forma avalia a participação mais reduzida das mulheres no nosso quadro político federal?

Trajano - Quero deixar claro que não tenho partido político. Sempre acreditei na honestidade da Dilma, mas sei que a gestão não foi tão boa, e falava isso para ela. Mas sou brasileira, o Magazine Luiza canta o Hino Nacional toda segunda-feira há 20 anos em todas as lojas. Eu estive com a Dilma como estou com Temer no conselho (de Desenvolvimento Econômico e Social) do governo. E temos que ter mais participação.

O Lula me convidou (para o conselho), eu entrei. Durante o tempo da Dilma eu fiquei e agora o Temer trocou 60% do conselho, mas me convidou para ficar, eu fiquei e estou lá ajudando. Também não votei no prefeito anterior da minha cidade, mas ele me chamou para ajudar e fui a pessoa que mais ajudou. A Dilma me convidou para ser ministra (da Micro e Pequena Empresa) no governo dela e ficou nisso.

BBC Brasil - A senhora entraria na política?

Trajano - Eu quero ser o maior grupo político apartidário do Brasil. Eu nunca fiz parte de um partido, e se eu fizesse, não é por mal, mas eu teria que comungar com aquilo que o partido quer. E não quero essa divisão, ter que ser de esquerda ou direita. Tenho que pensar no Brasil como um todo.

O nosso grupo (Mulheres do Brasil) tem alguns termos inegociáveis, e ser apartidário é um deles: não sair candidato e não apoiar partido, mas ser o maior grupo apartidário do país.

BBC Brasil - Mas a senhora acha que teria sido uma boa ministra?

Trajano - Eu seria. Mas acho que o sistema político nosso é muito "negociável". Eu não sei se conseguiria negociar nesse nível do "toma lá, dá cá". O próprio presidente agora teve que dar muito ministério para ter apoio em votos. Eu acho o sistema político errado. Só a sociedade civil vai conseguir fazer uma reforma política, e é por isso que luto.

BBC Brasil - Hoje muito se fala em "gestores" em vez de políticos na vida política nacional e internacional. A senhora acha que um bom gestor pode trilhar um bom caminho na política?

Trajano - Acho que todo político precisa ser gestor, mas não sei se todo gestor aguenta ser político, principalmente com o sistema que temos. Acho que enquanto não mudar a raiz do problema, é difícil um gestor conseguir ter a velocidade que consegue ter numa empresa. É bom porque é democrático, mas o democrático virou de muita troca, de muito toma lá, dá cá.

BBC Brasil - Incluindo entre empresários e governo.

Trajano - Exatamente, inclusive com empresas. É preciso tomar cuidado.

BBC Brasil - A senhora comentou sobre o desemprego, com o índice aumentando, muitas pessoas decidiram começar um negócio próprio. Qual sua avaliação sobre o boom do empreendedorismo? O brasileiro está preparado para empreender?

Trajano - O brasileiro tem um talento muito grande. O nosso grupo Mulheres do Brasil tem um comitê sobre empreendedorismo. O que falta hoje no Brasil é a fragmentação da educação para o empreendedorismo. Tem muita gente fazendo muita coisa boa, então Senac faz, Sebrae faz, muita gente. Mas não temos uma trilha para o empreendedor. O que ele deve fazer primeiro?

Primeiro, para mim, ele não precisa fazer business nenhum, ele tem que gostar do negócio, ter capital para investir, cuidar do cliente e dos funcionários que tenha e botar dinheiro no caixa, vendendo seja o que for. E não pode misturar dinheiro particular com o dinheiro da empresa, tem que ter as contas separadas.

São três ou quatro coisas muito importantes, e ele tem que focar nisso nesse primeiro momento. Aí começa a crescer, tem que fazer curso de planejamento, fluxo de caixa e por aí vai. Quero ajudar a montar essa trilha. Você tem muita coisa, mas não sabe que horas usar, como fazer. Qualquer negócio passa mais ou menos por isso.