Temer deixa G20 sem ter realizado nenhum encontro fechado com outro líder
Ele considera, porém, que diante da grave crise política que o governo atravessa, reuniões desse tipo não teriam gerado tantos benefícios ao país. Segundo ele, os sinais de que aumentou o risco de queda de Temer atrapalham o diálogo de longo prazo com outros países.
"Na negociação de política externa, sua credibilidade depende da sua capacidade de assegurar que você de fato estará lá para implementar o que está propondo. Além disso, o Brasil não tem muita capacidade de prestar atenção nessas questões internacionais agora. Esse governo dedica 80% do seu tempo para sua própria sobrevivência", afirmou.
Importância dos encontros
Segundo Stuenkel, encontros bilaterais são importantes para estabelecer um contato mais direto com os outros líderes, o que pode ser útil em momentos de crise, na negociação para que o país ocupe cargos importantes em organismos multilaterais e até mesmo para construir uma narrativa positiva sobre o país para atração de investimentos.
"A relação pessoal é fundamental para o caso de surgir um problema específico. Por exemplo, um tema relevante para o Brasil discutir nesse momento é a Venezuela. Seria importante Temer saber o que de fato o Trump está pensando sobre essa crise", observou.
Temer ainda não teve um encontro oficial com Trump - o americano já se reuniu com outros líderes latinos como os presidentes de Peru, Argentina e Colômbia. No G20, teve uma reunião bilateral com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto.
Alguns analistas, porém, consideram que a baixa popularidade de Temer e as denúncias que ele enfrenta tendem a reduzir o interesse de outros líderes de manter encontros com ele. "Poucos participantes do G20 veriam muito valor em se encontrar com Temer", acredita o especialista em América Latina e presidente emérito do centro de pesquisas Inter-American Dialogue, Peter Hakim.
"A crise de governo, os retrocessos econômicos e os escândalos de corrupção fizeram com que a maioria dos principais países do mundo e agências internacionais se tornasse cautelosa sobre manter relações próximas com o Brasil", destaca.
'Eleição para recuperar brilho'
Para Thomas Bernes, o Brasil está apagado agora, mas pode recuperar o brilho após a eleição de um novo presidente.
"Foi o caso do Canadá, após a eleição de Justin Trudeau, e da França agora, com Macron. Eles foram grandes ativos na melhora da imagem dos dois países. Então, sim, penso que um líder fresco pode trazer uma uma mensagem muito positiva nova e fortalecer a voz do país nas discussões internacionais", notou.
Segundo ele, o Brasil não é o único a ter perdido brilho internacionalmente.
"O Brasil era muito ativo nas discussões e liderava várias delas. Isso está fazendo falta, é triste. Mas o Brasil não é o único (a ter perdido prestígio). O Reino Unido, que tradicionalmente tem sido um líder, está quase invisível aqui", acrescentou.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, perdeu força após o fraco resultado alcançado nas últimas eleições parlamentares e tem a missão de conduzir a difícil saída do Reino Unido da União Europeia..
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