Fortuna de bilionários brasileiros cresce 13% e chega a R$ 549 bilhões em 2017
Os ultrarricos do Brasil continuam aumentando sua distância em relação aos mais pobres, segundo relatório da ONG britânica Oxfam divulgado nesta segunda-feira (22).
O relatório será apresentado durante o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que se reúne em Davos, na Suíça, a partir desta terça-feira. Segundo a Oxfam, o país ganhou 12 novos bilionários (considerando o patrimônio em R$) no ano passado, e conta agora com 43 desses ultrarricos.
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Em 2017, o patrimônio total dos bilionários brasileiros cresceu 13% e somou R$ 549 bilhões, aponta o levantamento.
Já a economia brasileira como um todo (medida pelo PIB do país) avançou apenas 1,1% em 2017, segundo a última estimativa do projeto Monitor do PIB, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Segundo a Oxfam, existem hoje no mundo todo 2.043 bilionários, e 90% deles são homens.
O ano passado registrou o maior aumento do número de bilionários da história, com quase um novo bilionário no mundo a cada dois dias. E, nos últimos 12 meses, o patrimônio dessas pessoas avançou em US$ 762 bilhões. Com menos de 1/7 dessa quantia, já daria para acabar com a pobreza extrema em todo o mundo, diz a organização.
De todo o valor produzido pelo mundo no ano passado, 82% ficaram com o 1% mais rico da população, enquanto a metade mais pobre da humanidade não teve qualquer aumento no seu patrimônio, segundo a Oxfam.
Na versão de 2018 de seu relatório, a ONG também revisou um cálculo do ano passado: segundo a entidade, 61 bilionários detêm a mesma riqueza que os 50% mais pobres, e não oito pessoas, como foi divulgado em 2017.
O relatório da Oxfam usa diversas fontes de informação, incluindo a lista de bilionários elaborada pela revista mericana Forbes. A principal, porém, é uma base de dados do banco Credit Suisse.
Segundo a organização, a atualização no número (de 8 para 61 bilionários com a mesma renda que os 50% mais pobres) se deve ao fato do Credit Suisse ter revisado, para cima, os cálculos sobre o patrimônio dos habitantes mais pobres de Rússia, Índia e China. Com isso, cresceu o número de bilionários cujo patrimônio somado é igual ao dos 50% mais pobres no mundo.
Já no Brasil, cinco indivíduos possuiriam o mesmo patrimônio que os 50% mais pobres da população (cerca de 100 milhões de brasileiros).
A organização reconhece que há limitações nos dados, mas diz que eles são suficientes para retratar a realidade. Mas a forma como faz os cálculos também não é unânime entre os economistas.
Medir desigualdade: tarefa complexa
Mas afinal, como é possível contabilizar a renda e o patrimônio de mais de 7 bilhões de pessoas como propõe a Oxfam?
Essa é uma das principais críticas feitas por economistas ao relatório da entidade: para muitos países, simplesmente não existem dados suficientemente precisos, de modo que o estudo precisa se basear em aproximações.
"Uma das coisas que o Credit Suisse (fonte de dados usada pela Oxfam) diz é que é preciso cautela, pois a maioria dos países não têm dados completos sobre o patrimônio das pessoas. Só alguns países ricos fazem estimativas completas sobre o patrimônio", diz o economista Carlos Góes, do Instituto Mercado Popular.
"E isso acontece porque os governos geralmente tributam renda (como no IR brasileiro), e não patrimônio. Então, o incentivo que eles têm é para saber a renda das pessoas, não o patrimônio", acrescenta. É por isto, diz Góes, que os dados mais completos disponíveis na maioria dos países são sobre a renda.
Segundo Carlos Góes, os estudos sobre desigualdade disponíveis hoje mostram que o fosso entre ricos e pobres está diminuindo, quando se considera o mundo como um todo.
"Isso ocorre porque a renda têm crescido mais rapidamente em países pobres do que nos ricos", afirma ele, mencionando lugares como Índia e China. Na sua avaliação, essa diminuição global acontece mesmo com a desigualdade aumentando dentro das nações mais ricas.
Em resposta, a Oxfam reconhece que existem limitações nos dados, mas diz que as informações disponíveis já são suficientes para traçar um retrato consistente da realidade.
"Não existe nenhum dado perfeito. Sempre há limitação. Mas com a quantidade de dados que a gente tem hoje sobre patrimônio, como agregado pelo Credit Suisse, a gente consegue ter uma fotografia da situação", afirma Rafael Georges, coordenador de campanhas da Oxfam Brasil. "Se o banco (Credit) não visse qualquer valor nos dados, não os publicaria", diz.
"Além disso, a história que os dados contam bate com a realidade. Nos países ricos a desigualdade aumenta a olhos vistos, e nos países pobres a gente vê a realidade da massa de pessoas que não têm qualquer patrimônio", completa Georges.
O representante da ONG explica que o relatório da Credit Suisse classifica a qualidade dos dados de 1 (pior) a 5 (melhor). O Brasil têm nota 3 (razoável) nessa escala.
Incluir ou não dívidas?
Há ainda outra controvérsia sobre os relatórios da Oxfam: o critério utilizado pelo Credit Suisse é o de "patrimônio líquido", isto é, descontando as dívidas.
Carlos Góes usa um exemplo para explicar o tipo de distorção que isso pode criar.
"Um estudante que acabou de se formar em Harvard (universidade de elite dos EUA), ganha 200 mil dólares por ano e toma uísque 18 anos todo fim de semana, mas tem uma dívida estudantil, seria considerado mais pobre que um camponês da índia que só tem uma bicicleta, mas não tem dívidas", diz ele.
Para Góes, isso mostra que são os dados sobre renda (e não sobre patrimônio) o melhor indicativo para tratar de pobreza e riqueza.
"A Oxfam recebe recomendações de especialistas desde o primeiro levantamento. E a recomendação que temos é para manter as dívidas", defende Rafael Georges.
"Se as dívidas fossem excluídas, a distorção seria maior ainda. A parte mais pobre das pessoas aparentaria ter mais do que tem. Esse efeito seria maior do que o de eventuais estudantes americanos endividados, embora isso exista de fato", completa o representante da Oxfam.
Correção: versão original deste texto informava incorretamente que o patrimônio total dos bilionários brasileiros somou US$ 549 bilhões em 2017, mas o certo é R$ 549 bilhões. A informação foi corrigida.
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