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Quem é George Soros, o megainvestidor bilionário que virou alvo de militantes brasileiros

Reuters
Imagem: Reuters

04/06/2018 07h43

O empresário húngaro-americano George Soros é um dos mais renomados investidores e filantropos do mundo.

Ele ganhou sua fortuna por meio de especulação financeira, mas investiu bilhões de seu próprio dinheiro para bancar projetos de defesa dos direitos humanos e iniciativas de promoção de valores democráticos liberais ao redor do mundo.

Em anos recentes, essas iniciativas tornaram Soros, de 87 anos, um alvo de nacionalistas, populistas e militantes da direita. Muitos desses grupos o pintam como um hábil manipulador da democracia.

No Brasil, Soros, que no passado era visto com desconfiança pela esquerda por sua atuação como especulador em moedas internacionais, também é criticado por ativistas de direita, que o acusam de ser "esquerdista" por financiar ONGs de defesa de direitos humanos, como os institutos Sou da Paz e Igarapé, e veículos de investigação jornalística, como a Agência Pública.

O Movimento Brasil Livre (MBL) recentemente fez várias críticas à Open Society, organização de filantropia de Soros. Em vídeo publicado no ano passado, um dos coordenadores do grupo, o pré-candidato a deputado federal Kim Kataguiri, afirmou que a entidade financia ONGs de esquerda.

Primeiros anos

Filho de um advogado, George Soros nasceu em 1930 em Budapeste. Ele e sua família sobreviveram à ocupação nazista na Hungria se separando e comprando documentos falsos que escondiam sua religião.

Aos 17 anos, Soros se mudou para a Inglaterra, onde fez faculdade e, depois, pós-graduação, na London  School of Economics. Ao mesmo tempo, ele fazia bicos como carregador de malas de uma ferrovia e garçom de boates.

Ele também estudou com o filósofo Karl  Popper, mais conhecido como grande defensor da democracia liberal no pós-guerra. A concepção de "sociedade aberta" de Popper se tornou uma profunda influência na ideologia de Soros.

Carreira de investidor

Depois de trabalhar com investimentos em um banco de Londres, Soros emigrou para os Estados Unidos, em 1956.

Passou alguns anos trabalhando em empresas de Nova York antes de fundar seu próprio fundo de investimentos, em 1970.

O fundo Soros Management, que depois trocaria de nome para Fundo Quantum, era conhecido por investimentos agressivos e por seu alto retorno financeiro.

A empresa ganhou notoriedade por suas especulações flexíveis e de curto prazo no mercado financeiro global. Esse sucesso fez de Soros um dos homens mais ricos do mundo e cimentou sua fama no mercado de investimentos.

Ele ficou conhecido como "o homem que quebrou o Banco da Inglaterra" em 1992, quando ganhou cerca 1 bilhão de libras apostando "contra" a libra esterlina, a moeda corrente no Reino Unido.

Em 16 de setembro, no dia conhecido como "Quarta-feira Negra", o Tesouro britânico perdeu bilhões em reservas, forçando a retirada da libra do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio.

Foi graças a esse e outros tipos de investimento semelhantes que Soros consolidou sua imagem de principal investidor em moeda no mundo.

E foi com esse tipo de investimento que recebeu acusações de ter, por exemplo, ajudado a criar a crise financeira da Ásia em 1997, quando a moeda tailandesa entrou em colapso, contagiando a economia da região.

O então primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, criticou duramente "especuladores inescrupulosos" e apelou por medidas que coibissem a negociação "imoral" de moedas.

Soros esteve no centro dessas críticas, mas outros investidores tinham feito apostas bem mais polpudas contra a moeda tailandesa do que a empresa do investidor húngaro-americano.

Filantropia

O gestor do fundo milionário começou a se afastar do controle diário de sua empresa durante os anos 1990 e passou a se dedicar a projetos de filantropia.

Inicialmente, começou a oferecer bolsas de estudo para alunos negros durante o apartheid, regime de segregação racial entre brancos e negros na África do Sul. Ao mesmo tempo, gastou bilhões de dólares bancando projetos de livre mercado em todo o mundo.

Durante o colapso do comunismo no início dos anos 90, Soros incentivou o intercâmbio cultural entre os países do Leste europeu e da Europa ocidental.

A Fundação Open Society, de Soros, agora banca projetos em mais de 100 países e 37 escritórios regionais.

A organização diz que seu foco é construir "democracias vibrantes e tolerantes cujos governos são responsáveis e abertos à participação de todas as pessoas".

Em 2017, enquanto era eleito a 29º pessoa mais rica do mundo pela revista Forbes, descobriu-se que ele havia transferido US$ 18 bilhões (cerca de R$ 59 bilhões), ou 80% de sua fortuna pessoal, para a organização Open Society.

Segundo seu site, seu objetivo é usar sua independência financeira para lutar contra os "problemas mais intratáveis do mundo".

A Open Society continua financiando várias iniciativas de defesa dos direitos humanos ao redor do mundo, incluindo campanhas de movimentos LGBT e por direitos de grupos ciganos.

Política e críticas

Nos últimos anos, Soros manteve-se presente em discussões sobre economia global e política. Isso tem feito com que ele seja criticado por nacionalistas, que o classificam como "bicho-papão da esquerda".

Na Europa, ele criticou a crise da dívida pública da zona do euro e, no auge da crise dos refugiados, prometeu auxílio generoso a grupos que se dispusessem a ajudar imigrantes.

Essas ações fizeram com que Soros entrasse em rota de colisão com o primeiro-ministro de seu país de origem, o húngaro Viktor Orban.

No ano passado, o governo da Hungria chegou a financiar outdoors que demonizavam George Soros. A organização do empresário decidiu retirar seus escritórios do país, alegando que havia um ambiente "cada vez mais repressivo".

A Open Society também doou centenas de milhares de libras para o grupo Best for Britain, organização que tentava impedir que o Reino Unido saísse da União Europeia - mas, em plebiscito, o Brexit acabou tendo maioria dos votos.

Em 2015, a fundação de Soros foi banida da Rússia, que a classificou como "indesejável" por causa de seu "risco para a segurança e a ordem constitucional".

Ataques e conspirações

Soros também é um dos principais doadores do Partido Democrata americano. Ele apoiou as candidaturas de Barack Obama e de Hillary Clinton, e classificou o presidente Donald Trump como um "impostor".

Teóricos da conspiração e sites de direita acusam Soros de secretamente estar por trás de vários eventos políticos nos Estados Unidos e no mundo.

Eles alegam que Soros teria recrutado ativistas de uma marcha de mulheres anti-Trump e até de ter organizado atos de violência em Charlottesville (nos notórios episódios de violência na marcha de grupos racistas realizada na cidade americana) para minar a direita do país. O episódio da cidade americana de Charlottesville, em agosto do ano passado, foi marcado pela violência de supremacistas brancos que realizaram uma marcha e entraram em confronto com a polícia e militantes antirracistas - resultando na morte de uma pessoa.

Há quem diga que as teorias da conspiração em torno da organização de Soros lembram bordões usados na Alemanha nazista, incriminando banqueiros judeus que supostamente queriam criar uma "nova ordem mundial".

Vida pessoal

George Soros se casou três vezes.

Ele teve três filhos com sua primeira mulher, a alemã Annaliese  Witschak.

O casal se separou em 1983, ano em que ele se casou pela segunda vez, com Susan Weber. Ficaram juntos até 2005, e tiveram dois filhos.

Soros se casou pela terceira vez em 2013. Sua mulher, Tamiko Bolton, é 42 anos mais jovem que ele.

Além dos fundos de investimento e da filantropia, Soros também gastou dinheiro com equipes de esporte. Em 2012, ele adquiriu uma pequena parcela do clube inglês Manchester United.