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O prejuízo em transferência bancária que levou a um negócio bilionário

Kristo e Taavet dividem a liderança da empresa - Hermione
Kristo e Taavet dividem a liderança da empresa Imagem: Hermione

Will Smale

30/01/2019 12h11

Kristo Kaarmann, cofundador e diretor-executivo da empresa TransferWise, não se conformava por ter sido "incrivelmente estúpido" quando teve a ideia que daria origem ao negócio avaliado hoje em mais de 1,2 bilhão de libras, equivalente a cerca de R$ 6 bilhões.

Isso aconteceu em 2008, quando o estoniano, de 28 anos trabalhava em Londres como consultor administrativo e recebeu um bônus de Natal de 10 mil libras.

Como as taxas de juros eram mais altas na Estônia, ele decidiu transferir o dinheiro da sua conta corrente no Reino Unido para seu país de origem, onde renderia mais.

"Eu paguei uma taxa de 15 libras para o meu banco no Reino Unido e transferi 10 mil libras. Uma semana depois, vi que chegaram 500 libras a menos do que eu esperava na minha conta na Estônia", diz Kristo, agora com 38 anos.

"Comecei a pesquisar o que tinha acontecido e percebi que tinha sido incrivelmente estúpido. Eu esperava ingenuamente que meu banco do Reino Unido aplicaria a taxa de câmbio comercial que vi quando procurei na Reuters e na Bloomberg. Em vez disso, o banco usou uma taxa de câmbio 5% menos favorável, que é como todos os bancos lucram. Foi um erro meu."

Irritado consigo mesmo, Kristo prometeu criar uma forma de transferir dinheiro para o exterior, excluindo os bancos do processo.

Inicialmente, a estratégia envolvia apenas ele e seu amigo estoniano Taavet Hinrikus, que na época era diretor da empresa de telecomunicações Skype, transferindo informalmente dinheiro entre si.

Funcionava porque Kristo queria frequentemente trocar libras esterlinas por kroons, a moeda estoniana na época, e Taavet precisava do processo inverso. Eles simplesmente usavam a taxa de câmbio média do mercado do dia.

Logo eles construíram uma rede de amigos estonianos -que viviam no país e no exterior- que faziam mesma coisa. Foi quando Kristo e Taavet perceberam que poderiam fazer desta prática um negócio.

Em 2011, eles lançaram então o TransferWise, uma fintech (empresa de tecnologia que oferece serviços financeiros), com sede em Londres.

O site permite aos usuários transferir dinheiro para o exterior em uma moeda diferente na taxa de câmbio média de mercado por uma tarifa fixa de 0,5%.

Hoje, a TransferWise é uma empresa global, e seus investidores incluem o fundador da Virgin, Richard Branson, e o cofundador do PayPal, Max Levchin.

No primeiro ano, Kristo e Taavet expandiram os negócios organicamente, usando suas próprias economias.

Os primeiros clientes chegaram graças ao boca a boca, mas aumentaram drasticamente após uma análise positiva em um site de tecnologia.

Para evitar problemas legais, Kristo e Taavet obtiveram autorização e licença da Autoridade de Serviços Financeiros, órgão regulador do Reino Unido, antes do lançamento.

"Foi a primeira vez que eles viram algo do tipo", diz Kristo. "Mas viram o suficiente para não ficarem preocupados com a possibilidade de estarmos fazendo algo duvidoso."

No início de 2012, Kristo e Taavet começaram a procurar seus primeiros investidores, mas tiveram dificuldade.

"Conversamos com cerca de 15 investidores no total, mas fomos rejeitados por todos", diz Kristo. "Ninguém na Europa se envolveria com a gente -os investidores europeus naquela época eram muito mais avessos ao risco do que os americanos. Recebemos então nosso primeiro financiamento de um pequeno fundo em Nova York chamado IA Ventures."

Como a TransferWise passou a crescer de forma constante, outros investidores apareceram. A empresa já arrecadou 305 milhões de libras (R$ 1,5 bi) no total.

Enquanto isso, seu site e aplicativo foram usados por mais de 4 milhões de pessoas e estão disponíveis em 50 países e 49 moedas. Segundo a companhia, 3 bilhões de libras são transferidos por meio de seus serviços todos os meses.

Com seu segundo maior escritório em Tallinn, capital da Estônia, e outros oito em cidades como Budapeste, na Hungria, e Tóquio, no Japão, a TransferWise viu suas receitas aumentarem 75% no ano, chegando a 117 milhões de libras (até o fim de março de 2018).

O lucro anual da companhia permaneceu estável em 6,2 milhões de libras. Antes de março de 2017, a empresa sempre registrou prejuízo, uma vez que os fundos eram investidos em sua expansão. A empresa tem hoje 1.400 funcionários.

Chris Skinner, autor e comentarista do site Finanser, diz que a TransferWise cresceu tão rapidamente porque o serviço é barato para os usuários, e não há taxas ocultas.

"Acrescente a isso alguns dos principais pesos pesados que investem e apoiam o negócio, e você tem um sucesso potencial nas mãos", diz ele.

"Eu digo potencial porque, mesmo com uma boa ideia, um bom marketing, bons investidores e um bom suporte, nada é garantido neste mundo."

"No entanto, junto com a Monzo, Starling, Revolut e algumas outras start-ups de fintech no Reino Unido, a TransferWise se destaca na multidão e está transformando os serviços financeiros visando a satisfação do cliente com o menor custo por meio da tecnologia", acrescenta.

Embora ocupe o cargo de diretor-executivo, Kristo diz que ele e o cofundador Taavet, de 37 anos, "estiveram envolvidos em tudo desde o início". "Nós nos sobrepomos muito no que fazemos", declarou.

Quando não está trabalhando, Kristo gosta de relaxar praticando kitesurf e passa todo Natal e Ano Novo fazendo motociclismo na África com o irmão.

"Havia muitas incógnitas quando começamos", diz ele. "Alguém confiaria neste site criado por dois caras da Estônia? Alguém mais teria esse problema que queríamos resolver? E todas essas pessoas ao redor do mundo tinham o mesmo problema e confiaram em nós".

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