Em meio à guerra comercial, Bolsonaro terá encontro com Trump e Xi Jinping no G-20 do Japão
A guerra comercial entre China e Estados Unidos deve dominar a agenda da G20, em Osaka, no Japão. E o presidente brasileiro Jair Bolsonaro deve se reunir com os dois protagonistas dessa disputa. Ele terá uma terá uma reunião com o presidente Donald Trump, às 15h15 do dia 28 de junho e deve se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping, no mesmo dia.
Segundo fontes do governo, Bolsonaro ainda está "tentando encontrar espaço na agenda" para acomodar o presidente chinês. O pedido de bilateral teria sido feito pelo governo da China.
Bolsonaro já embarcou para a cúpula, que reúne, entre sexta-feira e sábado, as 20 maiores economias do mundo. A reunião com Xi Jinping havia sido inicialmente marcada para o dia 28 de junho às 11h10, mas os chineses pediram um novo horário e o governo brasileiro estaria tentando encontrar uma brecha entre reuniões e encontros bilaterais com outros líderes.
Desde que tomou posse, Bolsonaro tem se aproximado fortemente do governo Donald Trump e seus aliados, principalmente Israel.
A possibilidade de uma aliança automática com os Estados Unidos gerou preocupações entre chineses e a ala financeira do governo brasileiro, já que a China é a principal parceira comercial do Brasil --compra, por exemplo, 30% da nossa soja.
O Brasil tem se beneficiado, a curto prazo, da disputa comercial entre americanos e chineses. Trump impôs uma série de aumentos nas tarifas de importação de produtos chineses e Xi Jinping retaliou, atingindo principalmente produtos agrícolas americanos.
Com a sobretaxa sobre alimentos produzidos nos EUA, o Brasil passou a vender mais para a China, principalmente soja. Em 2018, primeiro ano da guerra comercial, o superávit do lado brasileiro na guerra comercial com os chineses cresceu US$ 30 bilhões.
Mas, a longo prazo, economistas dizem que a guerra comercial pode afetar negativamente o mundo como um todo. Se China e EUA comprarem e venderem menos, por causa das medidas protecionistas, o volume de comércio a nível mundial se reduzirá, provocando uma desaceleração internacional do crescimento.
E onde o Brasil fica nessa disputa?
Embora esteja se tornando cada vez mais próximo de Trump, Bolsonaro ainda não se posicionou claramente sobre a guerra comercial. Ou seja, pelo menos por enquanto, não tomou partido.
Mas, segundo analistas, é possível que Trump pressione o governo brasileiro a assumir posições mais claras. Uma possibilidade é que os americanos peçam, por exemplo, que o Brasil deixe de comprar tecnologia e equipamentos da gigante chinesa de comunicação Huawei, que está no centro da disputa comercial.
Com a alegação de que os produtos Huawei podem ser usados para espionagem pelo governo chinês, Trump impôs uma série de restrições para que a empresa opera em território americano e faça negócios com empresas americanas. Até o Google teve que cancelar serviços e aplicativos de smartphones Huawei.
O economista britânico Jim O'Neill, que criou o termo "Bric" há 20 anos num relatório para o banco Goldman Sachs, é explícito em opinar sobre que lado Brasil deveria escolher.
"Não é razoável que os Estados Unidos forcem os países a tomarem esse tipo de decisão estúpida. O mundo precisa acomodar tanto Estados Unidos quanto China", disse em entrevista à BBC News Brasil.
"Mas, sob o aspecto econômico, se os países realmente tiverem que optar, muitos deles - e o Brasil também - seriam loucos se não escolhessem a China."
Segundo dados do Observatório de Complexidade Econômica, ligado ao Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), os chineses correspondiam em 2017 a 22% das exportações brasileiras (US$ 48 bilhões) e os americanos, 11% (US$ 25 bilhões).
Foco na Ásia
Bolsonaro terá agenda com outros líderes asiáticos: o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o premiê de Cingapura, Lee Hsien Loong, e o premiê o Japão, Shinzo Abe.
Segundo economistas e especialistas em Relações Internacionais, a aproximação com nações asiáticas é estratégica para o Brasil, já que o mundo está próximo da chamada "Era da Ásia", quando as economias dos países asiáticos somadas vão superar o Produto Interno Brito (PIB) de todo o resto do mundo.
Segundo relatório do banco britânico Standard Chartered Plc, sete das dez maiores economias do mundo serão asiáticas até 2030. E, já no ano que vem, a China poderá ultrapassar os Estados Unidos como maior economia do mundo, seguida pela Índia, segundo os cálculos instituição.
Já o jornal Financial Times prevê --a partir de cálculos feitos com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI)-- que os chineses vão desbancar os americanos em 2023. Mas a publicação crava para o ano que vem, 2020, o momento em que as nações asiáticas representarão mais de metade do PIB mundial.
Após aproximação com Israel, reunião com Arábia Saudita
Bolsonaro também vai se reunir com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. No início do governo, a viagem do presidente a Israel e os planos (depois suspensos) de transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém geraram amplas críticas de países árabes, que são importantes parceiros comerciais do Brasil.
Em 2018, as trocas entre o Brasil e países de maioria islâmica somaram US$ 22,9 bilhões, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A balança é favorável ao Brasil em US$ 8,8 bilhões. Ou seja, exportamos mais do que importamos.
Mas é olhando para setores específicos, principalmente a agropecuária, que o peso das relações comerciais com nações muçulmanas fica mais claro: elas recebem cerca de 70% de todas as exportações brasileiras de açúcar (somados o refinado e o bruto), 46% do milho em grãos, 37% da carne de frango e 27% da carne de boi, conforme dados levantados pela BBC News Brasil junto ao MDIC.
A reunião de Bolsonaro com o príncipe da Arábia Saudita pode ser um aceno do governo brasileiro no sentido de dizer que o Brasil dar valor à parceria com países árabes.
Reunião com a França e com secretário-geral da OCDE
Bolsonaro ainda vai ter duas reuniões cruciais para dois importantes pleitos brasileiros: o de fechar um acordo entre Mercosul e União Europeia e o de entrar para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O presidente vai se reunir com o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, na sexta (28) às 8:50.
Entrar para esse seleto grupo integrado pelas mais ricas economias mundiais é um dos principais projetos do governo brasileiro. Fazer parte da OCDE funciona como uma espécie de selo de boas práticas comerciais e de desenvolvimento.
Um dos primeiros ganhos da nova relação do Brasil com os Estados Unidos foi conseguir apoio formal dos americanos para entrar na OCDE.
Mas o governo brasileiro ainda precisará convencer os outros membros do grupo, principalmente os europeus.
Para o diretor do grupo de estudos do G-20 da Universidade de Toronto, John Kirton, o Brasil terá que adotar um discurso "mais responsável" em relação ao combate às mudanças climáticas se quiser o aval da União Europeia.
"O Brasil quer entrar na OCDE e praticamente todos os países que integram o grupo, com exceção dos Estados Unidos, acreditam numa solução multilateral liderada pela ONU para controlar as mudanças climáticas", destacou Kirton em entrevista à BBC News Brasil.
"Se o Brasil quer avançar no seu desejo de fazer parte da OCDE, vai ter que adotar uma posição mais respeitável sobre mudanças climáticas, o que Bolsonaro não tem feito até agora."
Ainda na sexta (28), Bolsonaro se reúne com o presidente da França, Emmanuel Macron, com quem vai poder abordar tanto a questão da entrada na OCDE quanto o acordo de comércio que o Mercosul negocia com a União Europeia.
Aqui mais uma vez a postura cética do governo Bolsonaro quanto ao aquecimento global pode ser empecilho. A França é um dos membros da União Europeia que mais têm imposto restrições à assinatura do entendimento com o Mercosul.
O argumento do governo francês é justamente o de que o país não quer assinar acordos com nações que não estejam "comprometidas com o Acordo de Paris" de combate às mudanças climáticas.
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