Como o Brasil se compara com países mais endividados do mundo
Uma década de baixas taxas de juros facilitou o crédito a governos, empresas e indivíduos, elevando o endividamento a um nível gigantesco, equivalente a 322% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
E, no atual contexto econômico, esse índice deve continuar crescendo, de acordo com uma pesquisa do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), uma associação global de instituições financeiras com sede em Washington.
O recorde foi impulsionado principalmente por empréstimos adquiridos por governos e empresas não financeiras. O problema é que, quanto mais altos os níveis de endividamento, maior o risco de inadimplência em qualquer ambiente econômico.
E embora não se vislumbre de uma recessão, a economia mundial não está passando pelo seu melhor momento. As expectativas de crescimento para 2020 são modestas, situando-se em torno de 2,5%, e supõem que não haverá uma escalada de atritos em nível comercial ou geopolítico.
Nesse contexto, o Banco Mundial alertou no início de janeiro sobre o risco de uma nova crise da dívida global, estimulando governos e bancos centrais a reconhecerem que taxas de juros historicamente baixas podem não ser suficientes para compensar outro colapso financeiro generalizado.
A análise baseia-se no fato de que, nos últimos 50 anos, houve quatro ondas de acumulação de dívida.
O último ciclo, iniciado em 2010, mostra "o maior, mais rápido e amplo aumento" da dívida global desde a década de 1970.
E um dado não animador é que as três ondas anteriores terminaram com crises financeiras que afetaram muitas economias em desenvolvimento e emergentes.
"A história das ondas passadas de acumulação de dívidas mostra que elas tendem a ter finais infelizes", escreveu Ayhan Kose, diretor do Grupo de Perspectivas do Banco Mundial.
Os dois grandes motores
Em entrevista à BBC Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC, Emre Tiftik, diretor de Pesquisas sobre Sustentabilidade do Instituto de Finanças Internacionais e principal autor do relatório Global Debt Monitor, diz que "o aumento da dívida global foi significativo e não há sinais de diminuição no futuro próximo".
Por trás deste fenômeno, explica, existem dois principais motores que impulsionaram o aumento do endividamento: os Estados Unidos (pelo aumento da dívida fiscal e corporativa) e a China (pelo aumento da dívida de empresas não financeiras).
A dívida da China está se aproximando de 310% do seu PIB, um dos mais altos níveis de endividamento entre as economias emergentes.
Enquanto alguns economistas argumentam que o nível de endividamento do país asiático cresceu a uma taxa insustentável para sua economia, outros argumentam que, como a maior parte dessa dívida é de propriedade do Estado, ela ainda é administrável.
A seguir, apresentamos um resumo do nível de endividamento dos chamados "mercados maduros" no mundo desenvolvido, de acordo com a classificação feita pelo IIF.
A partir de uma perspectiva global, Tiftik diz que altos níveis de endividamento aumentam as preocupações sobre como financiar a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que, entre seus 17 objetivos, inclui a redução da pobreza e a luta contra as mudanças climáticas.
"Estamos preocupados. Temos que encontrar os recursos para financiar obras de infraestrutura em países emergentes e de baixa renda", afirma.
Embora essa situação represente uma grande oportunidade para investidores, diz, países com pouca capacidade de endividamento podem enfrentar dificuldades para concluir trabalhos em áreas como energia, telecomunicações, transporte e fornecimento de água.
Os mais endividados da América Latina
Depois do Líbano (155% do PIB), o Brasil tem o maior endividamento público entre os países emergentes ? o índice cresceu, segundo o IIF, de 62% do PIB em 2014 para 88% no ano passado.
"Infelizmente, não há nenhum sinal de declínio na relação dívida/PIB no curto e médio prazos: o endividamento geral do governo deve passar de 95% do PIB nos próximos três anos", diz Emre Tiftik.
De acordo com ele, a aprovação e a implementação efetiva da reforma da Previdência é essencial para conter o aumento da dívida pública "antes que ela se torne um fardo ainda maior para o Brasil".
Considerando o endividamento total (que inclui ainda empresas financeiras e não-financeiras, e pessoas físicas), o crescimento da dívida entre os emergentes se concentrou em dois países: Coreia do Sul e Chile.
Olhando para o cenário latino-americano, Tiftik diz que a Argentina conseguiu com êxito reduzir sua dívida em relação ao PIB. A Colômbia tem visto um declínio e a dívida mexicana permanece limitada.
Por outro lado, o Chile testemunhou um aumento significativo em seus níveis de endividamento, especialmente entre empresas não financeiras.
No entanto, o especialista não vê um grande motivo de preocupação.
O Chile tem um mercado de capitais relativamente robusto e, como é um país orientado para a exportação, explica ele, teve a oportunidade de receber mais capital do que o resto do mundo, além do disponível no mercado doméstico.
"Países como Chile e Coreia do Sul estão em uma posição segura", diz Tiftik. "Não é algo negativo."
"Se eu visse esse nível de dívida em outros países que não o Chile ou a Coreia do Sul, ficaria mais preocupado".
A seguir, veja o resumo do nível de endividamento das maiores economias da América Latina, de acordo com a classificação feita pelo IIF.
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