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Canal de Suez: navio é 'quase' desencalhado após 6 dias e perdas de bilhões de dólares

Notícia da liberação parcial da embarcação ampliou otimismo de que operações sejam retomadas em breve no canal e levou a queda do preço do petróleo bruto - EPA
Notícia da liberação parcial da embarcação ampliou otimismo de que operações sejam retomadas em breve no canal e levou a queda do preço do petróleo bruto Imagem: EPA

29/03/2021 06h43

O enorme cargueiro que bloqueia há 6 dias o Canal de Suez, no Egito, voltou a flutuar parcialmente. O Ever Given, de 400 metros de comprimento, foi reposicionado e liberado da margem do canal de onde estava encalhado, segundo autoridades.

O curso do cargueiro que carrega 20 mil contêineres foi corrigido em 80%, afirmou a Autoridade do Canal de Suez. Agora, os esforços estão voltados para fazer o navio flutuar totalmente.

A popa do Ever Given está no momento a quase 100m da margem do canal, que tem 400 metros de largura.

A notícia da liberação parcial da embarcação ampliou o otimismo de que as operações sejam retomadas em breve no canal e levou a uma queda no preço do petróleo bruto, já que parte da distribuição global da commodity acabou afetada pelo encalhe.

O vídeo abaixo sugere que isso já teria sido alcançado, mas os responsáveis pela embarcação disseram à agência de notícias AFP que ele havia sido apenas "virado".

A operação para liberar a embarcação durou 5 dias, e mobiliza retroescavadeiras e equipamentos de dragagem, um grupo de rebocadores e a retirada parcial do peso da embarcação para tentar facilitar o delicado trabalho de engenharia.

Havia risco de o navio desequilibrar ou se partir, por exemplo. Mergulhadores não detectaram abalos no casco.

No início da madrugada desta segunda-feira (29), o Ever Given começou a se movimentar à medida que a maré subia. Estima-se que essa operação avance mais com um novo pico de maré ao longo do dia.

O tráfego será retomado assim que o navio puder ser movido para uma área de espera, disse a autoridade. Ainda será preciso inspecionar a estabilidade do canal antes que o fluxo seja retomado.

O Ever Given encalhou na manhã de terça-feira (23/3) em meio a ventos fortes e uma tempestade de areia que afetou sua visibilidade. Ele bloqueia uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo, forçando empresas a redirecionarem navios, o que causa longos congestionamentos.

Relatos de que o navio havia sido desencalhado aumentaram a esperança de que o tráfego ao longo do canal pudesse ser retomado em algumas horas, abrindo caminho para cerca de US$ 9,6 bilhões (quase R$ 55 bilhões) em mercadorias que estão sendo retidas a cada dia.

Empresas especializadas em comércio marítimo estimam que, no total, as perdas econômicas direta ou indiretamente ligadas ao encalhe passem de R$ 300 bilhões. Há quase 370 embarcações na fila à espera da liberação do canal.

Cerca de 12% do comércio global passa pelo Canal de Suez de 193 km (120 milhas), que conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, criando um caminho mais curto entre a Ásia e a Europa.

Uma rota alternativa, ao redor do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, poderia custar duas semanas e centenas de milhares de reais a mais em combustível extra.

Atingido por guerra, canal ficou fechado por 8 anos

Apesar do duro impacto econômico que o incidente está causando, este não é o pior obstáculo a interromper o comércio pelo canal, que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo.

Em junho de 1967, 15 navios que passavam pelo canal foram pegos no fogo cruzado da Guerra dos Seis Dias, entre Israel e o bloco formado por Egito, Síria e Jordânia.

"Eles não queriam ser alvos, então ficaram lá", diz Sal Mercogliano, especialista em história marítima da Universidade de Campbell, nos Estados Unidos, à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC).

No segundo dia do conflito, o Egito afundou navios nas extremidades do canal e plantou explosivos para bloquear a rota e impedir que Israel a cruzasse.

A guerra terminou em questão de dias, mas o canal ficou fechado por anos — um dos navios afundou e os outros 14 encalharam. Eles só foram retirados 8 anos depois.

Apenas dois dos 14 barcos que tinham ficado presos conseguiram sair por conta própria, o Münsterland e o Nordwind, da Alemanha. O resto teve de ser rebocado ou desmontado no local.