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Bitcoins: a confusão em El Salvador com a adoção da criptomoeda como moeda oficial

Cerca de mil manifestantes tomaram as ruas de San Salvador se opondo à adoção do bitcoin pelo país latino-americano - EPA
Cerca de mil manifestantes tomaram as ruas de San Salvador se opondo à adoção do bitcoin pelo país latino-americano Imagem: EPA

Katie Silver - Da BBC News

09/09/2021 12h19Atualizada em 09/09/2021 18h04

Protestos nas ruas, falhas tecnológicas e uma queda no valor marcaram o primeiro dia em que El Salvador adotou o bitcoin como moeda legal.

O preço do bitcoin na terça-feira (7) caiu para seu nível mais baixo em quase um mês — partindo de US$ 52 mil (R$ 274 mil) para menos de US$ 43 mil (R$ 227 mil).

Um político da oposição disse que a queda fez com que um dos países mais pobres da América Latina perdesse US$ 3 milhões.

O lançamento do bitcoin em El Salvador não foi nada do que esperava o presidente Nayib Bukele quando ele iniciou sua experiência ousada.

Ao contrário do que o governo esperava, plataformas como Apple e Huawei não ofereceram a carteira digital inventada pelo governo, conhecida como Chivo. E os servidores precisaram ser desligados porque não conseguiram lidar com todos os pedidos de registros de usuários.

Mas, com o passar do dia, o Chivo começou a aparecer em mais plataformas e foi aceito por empresas como Starbucks e McDonald's.

O governo distribuiu a cada cidadão US$ 30 (R$ 158) em bitcoins, para encorajar a adoção da criptomoeda. E afirma que o bitcoin pode economizar US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões) por ano ao país em taxas de transação sobre recursos recebidos do exterior. A economia do país depende fortemente de remessas vindas do exterior.

No entanto, baseado em dados do Banco Mundial e do governo, a BBC calcula que esse valor seja próximo a US$ 170 milhões (R$ 900 milhões).

"Precisamos quebrar os paradigmas do passado", tuitou o presidente Bukele. "El Salvador tem o direito de avançar rumo ao primeiro mundo".

O comerciante Ed Hernandez administra uma loja familiar em San Salvador, onde os clientes compram produtos essenciais como arroz, feijão e produtos de limpeza. Ele está entusiasmado com a mudança.

"Durante a pandemia, será bom não usar dinheiro físico", disse ele à BBC, afirmando que isso o protege de clientes que pagam com notas falsas.

No entanto, El Salvador não teve um primeiro dia bom na sua experiência com bitcoins, com a forte queda da cotação registrada nos mercados.

"Foi um dia muito ruim para o presidente Bukele, seu governo e sua experiência com bitcoin", disse o político da oposição Johnny Wright Sol à BBC.

"A maioria da população sabe muito pouco sobre criptomoedas. O que sabemos é que é um mercado muito volátil. Hoje isso certamente ficou provado."

Wright Sol disse que o bitcoin não é uma moeda nacional adequada e que o projeto foi aprovado apressadamente, sem discussões mais profundas: "A Lei do Bitcoin foi aprovada no parlamento sem quase nenhum debate. Levou apenas cerca de cinco horas para ser aprovada".

"Não odiamos criptomoedas ou bitcoin, mas não acreditamos que deva ser obrigatório que as empresas sejam obrigadas a aceitar bitcoin como pagamento. O Estado está apoiando esses pagamentos e assumindo o risco, mas no fim das contas nós, os contribuintes, somos o Estado."

Wright Sol não é o único crítico. Mais de mil manifestantes se reuniram em frente à suprema corte do país, onde fogos de artifício foram disparados e pneus queimados.

Além da instabilidade financeira, alguns dizem que a adoção do bitcoin pode alimentar transações ilícitas.

Mas Hernandez, o comerciante, disse não se incomodar com a volatilidade: "Eu vejo isso como um risco, sim — mas como tudo na vida, há um risco. Quando temos uma loja, às vezes compramos um produto e não conseguimos revendê-lo. Quando os outros veem uma crise, eu vejo uma oportunidade."