Após liderar setor petrolífero na exploração, Eni busca lucro
(Bloomberg) -- Um dos ativos mais estimados mantidos pela maior empresa petrolífera da Itália, a Eni SpA, não é uma refinaria ou um campo de petróleo -- está dentro de um edifício na pequena cidade de Ferrera Erbognone, próxima a Milão: um dos supercomputadores mais rápidos do mundo.
A máquina gigantesca, utilizada para gerar visões detalhadas dos reservatórios de petróleo enterrados a milhares de metros de profundidade, faz parte da aposta da Eni para exploração de novos campos. Na última década, a empresa investiu US$ 41 bilhões perfurando dezenas de poços em países como Moçambique, Paquistão e Angola.
O investimento compensou. Desde 2005, a Eni descobriu o equivalente a cerca de 18 bilhões de barris de petróleo, mais do que o dobro que a empresa com o segundo melhor desempenho entre as grandes petrolíferas, a norueguesa Statoil ASA, segundo dados da consultoria Wood Mackenzie Ltd. Agora, a empresa com sede em Roma busca lucrar com seu sucesso, vendendo participações minoritárias para ajudar a financiar o desenvolvimento das descobertas.
"A Eni se transformou em uma exploradora de petróleo de destaque", disse Andrew Latham, vice-presidente de exploração global da Wood Mackenzie em Edimburgo. "Eles investiram pesadamente em exploração em relação ao seu tamanho".
Permanecendo como operadora
O CEO da Eni, Claudio Descalzi, disse que a empresa prefere vender uma fatia de uma descoberta, reter uma participação de 30 por cento a 50 por cento e permanecer como operadora.
"Desta forma, nós lucramos com a monetização do sucesso da exploração, reduzimos nossa despesa de capital e obtemos capital para injetar no desenvolvimento dos ativos", disse ele na entrevista em Londres.
O grupo italiano descobriu diversos campos de petróleo que poderiam atrair compradores, inclusive reservas de gás ao largo do Egito e campos de petróleo no Gabão e no Congo. O diretor financeiro da Eni, Massimo Mondazzi, disse a investidores no mês passado que o grupo estava em discussões "bastante avançadas" para captar dinheiro de seu portfólio de exploração.
Em 2013, a Eni vendeu uma participação de 20 por cento em sua descoberta de gás em Moçambique à China National Petroleum Corp. por US$ 4,2 bilhões. O grupo italiano ainda controla 50 por cento do projeto, o que sinaliza que tem espaço para vender uma participação adicional.
A Eni controla 100 por cento do gigantesco campo de gás Zhor, ao largo do Egito, uma descoberta realizada em agosto, a maior da história no Mar Mediterrâneo. A empresa também controla a totalidade de um grande campo de gás descoberto no Gabão no ano passado. Na República do Congo, a empresa é dona de 65 por cento das descobertas de petróleo e gás feitas entre 2014 e 2015.
Posição confortável
Embora o petróleo abaixo dos US$ 50 por barril limite o montante que a Eni consegue captar, Neil Beveridge, analista da Sanford C. Bernstein Co. em Hong Kong, disse em uma nota que entre as grandes empresas de energia apenas o grupo italiano estava "na confortável posição de ser capaz de monetizar precocemente a posse dos próprios recursos descobertos".
A Eni nasceu como uma empresa de exploração em 1926, quando a Agip SpA foi criada pelo governo italiano com a finalidade de explorar petróleo e gás natural. Desde então, a tradição de exploração foi mantida e a empresa tem investido mais do que suas rivais maiores.
Em 2006, quando o impulso de exploração mais recente começou, a Eni investiu quase US$ 1,7 bilhão procurando petróleo e gás, aproximadamente o mesmo investido naquele ano pela BP Plc, uma companhia com quase duas vezes seu valor de mercado. Em 2014, o montante havia subido para US$ 3,8 bilhões, não muito longe do orçamento da Chevron Corp., a segunda maior produtora de petróleo dos EUA.
Formado em física, Descalzi iniciou sua carreira cuidando da engenharia de reservatórios de petróleo e se tornou CEO no ano passado. Ele disse que dois fatores explicam o sucesso da Eni.
"Um é o nosso esforço tecnológico, ou seja, trabalhar com supercomputadores e software próprio", disse ele na entrevista. "O segundo é o nosso foco em ativos convencionais em áreas onde temos sinergias operacionais e em áreas onde conhecemos profundamente o contexto geológico".
Título em inglês: After Leading Oil Industry on Exploration, Eni Seeks to Cash In
Para entrar em contato com o repórter: Javier Blas, em Londres, jblas3@bloomberg.net.
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