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29 minutos de caos na China: corretores atordoados e liquidação

Bloomberg News

07/01/2016 13h35

(Bloomberg) -- Até mesmo para os padrões de altos e baixos do mercado acionário da China, foram 29 minutos caóticos.

Os preços das ações iniciaram uma queda livre logo na abertura das bolsas e os gurus do mercado da Huaxi Securities Co. não conseguiam explicar o motivo. Um gestor de US$ 46 milhões em Xangai liquidou todos os seus ativos. Outros investidores, incluindo um fundo hedge de alto desempenho, tentavam em vão retirar seu dinheiro quando os circuit breakers provocaram uma abrupta paralisação nas negociações.

Às 9h59 pelo horário local tudo havia terminado -- só que não. Na sequência veio uma torrente de telefonemas de clientes irritados, perturbados pela carnificina em uma semana com dois pregões abreviados e uma queda de 12 por cento no índice de referência CSI 300. E ainda estamos em 7 de janeiro.

"Estamos lidando com uma enxurrada de telefonemas de clientes irritados reclamando da queda do mercado e do circuit breaker", disse Wei Wei, analista da Huaxi Securities em Xangai. "Também estamos nos sentindo perdidos e confusos hoje. Não entendíamos bem o que estava acontecendo no mercado".

Certamente há um quê de Alice no País das Maravilhas na corrida para venda desta semana, que irradiou para os mercados acionários internacionais e abalou a confiança dos investidores na segunda maior economia do mundo. Não se trata do fim do crescimento da China. É verdade que o yuan está perdendo força e que a economia está desacelerando para o ritmo anual mais lento desde 1990, mas isso é sabido há algum tempo. A moeda, na verdade, está se saindo bem em relação a todas as outras, menos o dólar, e os analistas preveem uma expansão econômica de 6,5 por cento neste ano.

Intervenção no mercado

O que parece preocupar os investidores é a habilidade ou a incapacidade das autoridades chinesas para gerenciar um mercado acionário que foi do céu ao inferno mais vezes nos últimos 12 meses do que a maioria de seus principais pares no decorrer de uma década. Depois que as autoridades de política monetária adotaram medidas extremas para impulsionar as ações no verão passado, os analistas estão tendo dificuldades para medir como Pequim reagirá a um novo surto de volatilidade que ameaça pesar sobre a confiança empresarial e do consumidor.

Em todo o mercado, ganham força as críticas aos circuit breakers, que foram lançados no início deste ano e são ativados quando há uma oscilação de 5 por cento no CSI 300. Eles paralisam as negociações por 15 minutos e as bolsas fecham pelo restante do dia se o índice se move 7 por cento, como aconteceu na segunda passada e nesta quinta-feira.

Em um mercado com uma das volatilidades mais elevadas do mundo, os circuit breakers são um novo coringa com o qual os 99 milhões de investidores individuais do país ainda estão se acostumando.

"Isso claramente está provocando algumas consequências não intencionais, como, por exemplo, o fato de as pessoas tentarem vender antes do intervalo, o que na verdade está acelerando o declínio", disse Gerry Alfonso, trader da Shenwan Hongyuan Group Co. em Xangai. "Os investidores precisam de tempo para se adaptarem às novas regras. Esse tipo de ocorrência em um mercado orientado ao varejo está condenado a ser um desafio".

Enquanto isso, impera a confusão em relação a como as autoridades reagirão à liquidação. Os sinais óbvios de intervenção não foram sentidos na quinta-feira, mesmo depois que as aquisições de ações por fundos controlados pelo Estado, na terça-feira, ajudaram o CSI 300 a se recuperar, com algum esforço, em 0,3 por cento. Apesar de pessoas familiarizadas com o assunto terem dito que a reguladora do mercado de títulos realizou uma reunião não programada sobre o mercado, o encontro terminou sem uma decisão sobre uma ação para a política monetária. As autoridades revelaram planos para conter as vendas de ações por grandes detentores só um dia antes do fim da proibição em vigor.

Alguns investidores não tiveram outra escolha além de vender nesta quinta-feira. Um exemplo é Chen Gang, que ajuda a gerenciar o equivalente a US$ 46 milhões como diretor de investimento da Shanghai Heqi Tongyi Asset Management Co. Chen se desfez das participações acionárias de sua empresa e disse que não retornará ao mercado enquanto os órgãos reguladores não melhorarem o sistema de circuit breaker. Muitos fundos privados e fundos hedge da China têm acordos com os investidores para explicarem bem os níveis obrigatórios de liquidação se seus patrimônios caem abaixo de um determinado valor.