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Equador: Petróleo mina plano de reconquistar detentores de bonds

Nathan Gill

12/01/2016 16h34

(Bloomberg) -- O governo do Equador disse no ano passado que o primeiro pagamento a detentores de bonds nos 180 anos de história do país aumentaria a confiança do investidor e tornaria os empréstimos mais baratos para o governo. Mas até o momento as coisas não funcionaram bem assim.

Os US$ 2 bilhões em notas do país para 2024 caíram 10,5 por cento desde que o Equador pagou um bond que vencia em 15 de dezembro, maior declínio entre as dívidas soberanas dos mercados emergentes. Isso aumentou os yields para um recorde de 14,8 por cento.

Os investidores em bonds parecem estar negativos em relação ao país-membro da Opep após os preços do petróleo atingirem a maior baixa em 12 anos, o que ameaça piorar o déficit de caixa. O Equador, que viu suas reservas internacionais atingirem os níveis mais baixos desde 2012 em meio a uma recessão cada vez maior, agora pode se deparar com empréstimos internacionais caros, segundo o Credit Suisse Group AG.

"A situação fiscal do Equador no momento é muito ruim e ainda não se consegue ver nenhum financiamento real entrando na economia", disse Juan Lorenzo Maldonado, economista do Credit Suisse, de Nova York. "Sob essas condições, acho que eles não conseguirão emitir dívidas neste ano".

O Ministério Coordenador da Política Econômica e o Ministério das Finanças não responderam aos pedidos de comentário feitos por telefone e e-mail sobre o plano de financiamento do governo para este ano e sobre o desempenho dos bonds do país.

No orçamento de 2016, aprovado pelo Congresso em novembro, o Ministério das Finanças projetou que precisava de US$ 6,6 bilhões para financiar os investimentos deste ano. Apesar do declínio, o presidente Rafael Correa disse no sábado que as reservas estavam em "ótimos níveis".

"Com todos os pagamentos que fizemos em dezembro, como as reservas não iriam cair?", disse ele no dia 9 de janeiro em seu discurso semanal ao país. "A verdade é que tudo o que foi feito em 2015 foi extraordinário".

O pagamento de US$ 650 milhões feito pelo Equador em 15 de dezembro veio sete anos depois de Correa paralisar os pagamentos sobre uma parcela de US$ 3,2 bilhões de sua outra dívida internacional.

O país andino, onde o petróleo responde por cerca de 40 por cento da receita com exportações, viu sua economia encolher 0,4 por cento no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior, segundo os dados mais recentes do banco central. O produto interno bruto também se contraiu no primeiro e no segundo trimestres, segundo o banco. O barril de petróleo caiu para US$ 31,41 em Nova York na segunda-feira, nível mais baixo desde dezembro de 2003.

Expropriação

Como as finanças pioraram, o Equador deixou de pagar provedoras de serviços petrolíferos, clínicas médicas e alguns professores de escolas públicas. No sábado, Correa disse que o governo chegou a um acordo para pagar quase US$ 1 bilhão à Occidental Petroleum Corp., que tem sede em Houston, nos EUA, até o fim de abril, para resolver uma disputa de uma década relacionada à expropriação de um campo de petróleo.

"O cronograma de pagamentos naturalmente complicará a já difícil posição de liquidez do governo federal", disse Santiago Mosquera, chefe de pesquisa da corretora Analytica Securities em Quito. "O declínio fiscal é muito claro e nós não sabemos de onde virá o financiamento deste ano".

O vice-presidente Jorge Glas disse no mês passado que a China emprestará US$ 2,8 bilhões ao país entre dezembro e fevereiro. Não há sinal de que qualquer desses recursos tenha sido entregue, disse Mosquera.

Maior credora

O Ministério das Finanças e o Ministério Coordenador da Política Econômica não responderam aos pedidos de comentário sobre o financiamento da China. A embaixada da China em Quito não respondeu a uma mensagem telefônica em busca de comentário sobre os empréstimos. O Equador recebe recursos do país asiático desde o calote de 2008 e 2009, o que faz da China a maior credora do país latino-americano.

Se o governo não conseguir tomar empréstimos suficientes no exterior, provavelmente terá que cortar gastos, o que poderá ampliar a recessão, disse Maldonado, do Credit Suisse. Ele prevê que a economia do Equador terá uma contração de 1,9 por cento neste ano.

"É de se esperar a mesma história de 2015", disse Maldonado.

Título em inglês: Oil Rout Undermines Ecuador's Bid to Regain Bondholder Goodwill

Para entrar em contato com o repórter: Nathan Gill, em Quito, ngill4@bloomberg.net.

Tradutor: Samuel Rodrigues Editora: Adelina Chaves