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Suécia dá aulas de inflação aos bancos centrais

Amanda Billner e Johan Carlstrom

20/01/2016 15h40

(Bloomberg) - Esta é a história de um banco central que durante anos e anos (e mais anos) não conseguiu atingir a meta da inflação. Então, um dia, apareceu um relatório sugerindo que talvez devêssemos deixar que, de vez em quando, a meta não fosse atingida.

Em uma análise muito esperada sobre a política econômica do banco central sueco feita pelo ex-presidente do Banco da Inglaterra Mervyn King e pelo professor Marvin Goodfriend, a resposta apresentada é ter uma meta flexível para a inflação. Desde que seja implementada uma série de verificações e balanços.

"Em todo o mundo os bancos centrais estão debatendo qual é o objetivo adequado da política monetária e ainda não se chegou a um consenso internacional", disseram os dois no relatório divulgado na terça-feira em Estocolmo. "O caso da Suécia é importante para o resto do mundo e também para os cidadãos desse país".

King e Goodfriend recomendaram uma série de medidas para a Suécia, como dar ao Parlamento o poder de decidir o nível da meta de inflação, que atualmente é de 2 por cento. As autoridades monetárias em Estocolmo reduziram as taxas de juros para muito abaixo de zero, desencadearam um programa de compra de bonds sem precedentes e advertiram que poderiam intervir no mercado de câmbio para restabelecer o aumento dos preços.

Essa recomendação poderia suscitar um debate fora da Suécia. As autoridades do Banco Central Europeu estão enfrentando as mesmas pressões deflacionárias, mas até agora não quiseram repensar a própria meta de inflação. A queda cada vez mais profunda do preço do petróleo também colocou em dúvida se os indicadores de preços deveriam incluir a volatilidade do petróleo e os componentes da energia.

Riksbank

O Riksbank se mostrou aberto a modificar sua meta de inflação. A vice-presidente Cecilia Skingsley disse à Bloomberg na segunda-feira que o banco tem a possibilidade de fazer "mudanças menores" na estrutura, como modificar a medida de preço pretendida e reintroduzir uma margem de tolerância, sem alterações legais.

O banco obteve certo alívio na quarta-feira, quando uma pesquisa-chave mostrou que as expectativas para a inflação para os próximos cinco anos aumentaram de 1,8 por cento no fim do ano passado para 1,9 por cento em janeiro.

O banco foi veementemente criticado por não ter atingido a meta de inflação, em parte depois de ter elevado os juros rápido demais em 2010 devido à preocupação com o crescimento da dívida interna. Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel, etiquetou a política do Riksbank de "sadomonetarista" por causa dos efeitos provocados na taxa de emprego.

King e Goodfriend não criticaram as autoridades monetárias suecas por elevar as taxas antes da hora, argumentando que elas "encararam desafios ainda maiores do que os que foram enfrentados por outros bancos centrais".

Os dois recomendaram garantir que a legislação sueca seja ajustada para deixar claro que qualquer decisão tomada sobre o regime da taxa de câmbio do país "é uma questão governamental". Em relação a isso, o que aconteceu na Suíça, que se viu obrigada a abandonar o teto que tinha imposto para o franco, é "uma história que serve de alerta", disse King em uma entrevista coletiva.

Os legisladores suecos mergulharam no debate que surgiu a partir do relatório. O país analisará a política econômica neste ano e depois irá propor modificações às leis do Riksbank.

A ministra das Finanças, Magdalena Andersson, disse que isso poderia incluir a instituição de uma missão dupla, que também abranja o emprego.

Seja como for, as autoridades dos bancos centrais do resto do mundo sem dúvida estarão prestando atenção no que irá acontecer na Suécia.

Título em inglês: 'Here's a Swedish Lesson for Central Banks Seeking Inflation (1)'

Para entrar em contato com os repórteres: Amanda Billner, em Estocolmo, abillner@bloomberg.net; Johan Carlstrom, em Estocolmo, jcarlstrom@bloomberg.net

Tradução: Sílvia Ornelas Revisão: Adelina Chaves